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1. Abordagem ao trabalho de projeto na Educação Pré-Escolar

1.3 Relação com as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

período crítico para o desenvolvimento de aprendizagens fundamentais, tal como para o desenvolvimento de valores e atitudes que irão influenciar as aprendizagens futuras (Ministério da Educação, 2016).

A EPE é o nível em que o currículo se desenvolve em articulação plena das aprendizagens. As crianças devem ter o poder de planificar o seu dia, de experimentar e criar projetos e de circular entre atividades em que integram as suas vivências, desenvolvendo diversas competências. Citando as OCEPE, “agir cedo para ter melhores resultados no futuro é garantir uma sociedade em que todos têm as mesmas oportunidades, potenciando que, através da educação, tenhamos uma sociedade mais justa e mais coesa” (Ministério da Educação, 2016, p.4).

Na criação de um projeto é fulcral que o educador tenha em atenção o interesse das crianças, tal como as necessidades educativas de todo o grupo, fomentando, deste modo, a sua confiança. A criança, tal como é defendido pela Convenção dos Direitos da Criança (1989), tem o direito de exprimir livremente a sua opinião relativamente às questões que lhe respeitem, de ser consultada e ouvida, de ter acesso à informação, de tomar decisões em seu benefício e o seu ponto de vista ser considerado. Neste seguimento, ao ser reconhecido às crianças o direito de ser ouvida nas decisões que lhe dizem respeito e, uma vez que estas são agentes no processo educativo é-lhes conferido um papel ativo no planeamento e avaliação do currículo (Ministério da Educação, 2016). Nesta primeira fase, deve-se definir o problema, questionando-se sobre o que se sabe e o que se pretende aprender e qual o procedimento para procurar uma solução.

O papel do educador ao longo de todo o processo consiste, essencialmente, em estimular a participação de todos na investigação, orientar, aconselhar, valorizar de forma empática os trabalhos realizados, observar a organização e o desenvolvimento de todo o processo, tais como organizar visitas (pais/família ou outros membros da comunidade) e reunir material diversificado que fomente aprendizagens significativas (tirando partido do meio social). Este deve estimular a curiosidade das crianças, criando condições para que aprendam a aprender, além de que é fundamental envolver a crianças na avaliação do seu trabalho, “descrevendo o que fez, como e com quem, como

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poderia continuar, melhorar ou fazer de outro modo, tomando, assim, consciência dos seus progressos e de como vai ultrapassando as suas dificuldades” (Ministério da Educação, 2016, p.16). As dinâmicas de interação que se estabelecem entre educador/crianças/criança têm implicações nos processos de aprendizagem, no sentido de promoverem o respeito e o sentimento de pertença a um grupo, a capacidade de se trabalhar em pares e em grupos e o entendimento da perspetiva do outro (Ministério da Educação, 2016).

Quanto à criança, cabe-lhe a responsabilidade pela construção do seu conhecimento e aprendizagens, encarando deste modo o papel de sujeito e agente do processo educativo. Neste seguimento, é possível a formação de cidadãos críticos e reflexivos, que partem das suas experiências e valorizam os seus saberes e competências únicas, para que desenvolvam todas as suas potencialidades, tal como decorre um maior desenvolvimento da autonomia (Ministério da Educação, 2016). Importa também mencionar que este desenvolvimento ocorre de forma mais significativa quando nos referimos ao trabalho colaborativo, num contexto de interação social, tal como o que é defendido pelas OCEPE (Ministério da Educação, 2016). Ao longo das diversas fases do projeto, as opiniões, escolhas e perspetivas das crianças devem ser explicitadas e debatidas pelo grupo, numa troca de ideias e pensamentos, uma vez que a aprendizagem da criança assume “uma configuração holística, tanto na atribuição de sentidos em relação ao mundo que a rodeia, como na compreensão das relações que estabelece com os outros e na construção da sua identidade” (Ministério da Educação, 2016, p.6).

No dia a dia da criança, é fulcral que o educador observe e registe informações, de modo a avaliar, questionar e refletir relativamente às práticas educativas e, desta forma, consiga ter um melhor conhecimento das crianças e da evolução da aprendizagem das mesmas. Segundo as OCEPE (Ministério da Educação, 2016, p.13), “observar o que as crianças fazem, dizem e como interagem e aprendem constitui uma estratégia fundamental de recolha de informação”, além de ser crucial, também, para a definição de objetivos a atingir e como forma de prever possibilidades. Na concretização de um projeto e a par dos registos efetuados pelo educador, também a criança deve realizar os seus próprios registos, através de uma linguagem gráfica (desenho, pintura e dramatização), de modo a elaborar um mapa conceptual sobre o que já sabe e o que deseja ainda aprender. A sistematização de um projeto poderá exigir a consulta de mais informação, de modo a enquadrar o conhecimento “e a precisar conceitos mais

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rigorosos e científicos que tiveram como base a partilha e o questionamento das explicações das crianças (Ministério da Educação, 2016, p.86)

Relativamente aos pais/famílias é fundamental que, sendo estes os principais responsáveis pela educação dos filhos, tenham “o direito de participar no desenvolvimento do seu percurso pedagógico, não só sendo informados do que se passa no JI, como tendo também oportunidade de dar contributos que enriqueçam o planeamento e a avaliação da prática educativa” (Ministério da Educação, 2016, p.16).

Como é referido nas OCEPE (Ministério da Educação, 2016, p.11),

Observar e envolver-se no brincar das crianças, sem interferir nas suas iniciativas, permite ao/à educador/a conhecer melhor os seus interesses, encorajar e colocar desafios às suas explorações e descobertas. Esta observação possibilita-lhe ainda planear propostas que partindo dos interesses das crianças, os alarguem e aprofundem. Deste modo, a curiosidade e desejo de aprender da criança vão dando lugar a processos intencionais de exploração e compreensão da realidade, em que várias atividades se interligam com uma finalidade comum, através de projetos de aprendizagem progressivamente mais complexos.

Neste seguimento, ao existir uma interligação de diferentes áreas no desenvolvimento de um projeto, promove-se também a construção de bases nas crianças para uma aprendizagem ao longo da vida.