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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4. Relação da Ecologia da Paisagem com a Biodiversidade

Utilizando os valores encontrados para cada parâmetro, construiu-se a tabela 7, a partir da qual foram atribuídos os valores para conservação.

Tabela 7: Valores para conservação dos os atributos selecionados.

Valores para conservação

Atributos Muito alto Alto Médio Baixo Muito baixo

5 4 3 2 1 Área (m²) > 1000 1000 - 835 834 - 668 667 - 500 < 500 Índice de forma < 2,00 2,00 - 2,33 2,34 - 2,67 2,68 - 3,00 > 3,00 Distanciamento (m) < 100 100 - 166 167 - 233 234 - 300 > 300 Inclinação (°) < 20,0 20 - 28,3 28,4 - 36,6 36,7 - 45,0 > 45,0 índice de rugosidade < 0,20 0,20 - 0,40 0,41 - 0,60 0,61 - 0,80 > 0,80 Grau de exposição Razoavelmente abrigado / Semi-exposto Abrigado Exposto Muito abrigado / Muito exposto Extremamente abrigado / Extremamente exposto

Devido aos fatos expostos no item 4.3.4, o índice de forma ideal para conservação proposto pela literatura não tem valor igual a 1,0 (um) e sim < 2,0.

Com relação à inclinação, adotou-se 45° como valor 1 para conservação baseando-se na Lei 4.771/1965 que classifica encostas de morro com declividade superior a 45° como áreas de preservação permanente (APP) (Brasil, 1965).

51 No caso do índice de rugosidade, como seu valor variou entre 0 e 1 e existem 5 classes para o intervalo de conservação, considerou-se um intervalo de 0,2 entre cada classe, levando em consideração que quanto menor o valor deste índice, maior a quantidade de micro-habitats no local e consequentemente maior valor para conservação.

Para conferir valores de conservação referentes ao grau de exposição considerou-se que, como diz Ballantine (1961), em locais com elevado grau de resguardo frente à ação das ondas o supralitoral praticamente não existe, resultando numa menor biodiversidade. Em compensação, Little & Kitching (1996) asseguram que em costões onde a ação das ondas é muito acentuada, ocorre menor diversidade de espécies, mas também afirmam que as ondas contribuem com respingos d’água em áreas que não são recobertas pelas marés. Além disso, de acordo com Coutinho (2002), o aumento da ação de ondas pode ampliar os limites tanto do médio como do supralitoral, promovendo acréscimo na biodiversidade. Contudo, Ballantine (1961) diz que locais abrigados proporcionam a ocorrência de mais espécies de algas e de organismos que vivem entre as rochas. Sendo assim, para atribuir valores de conservação a esta variável considerou-se que exposições intermediárias geram maior biodiversidade, mas optando por um nível mais abrigado quando necessário.

A aplicação dos parâmetros de valores para a conservação foi realizada para as quatro unidades amostrais estudadas, demonstrada na Tabela 8. Realizou-se a soma dos parâmetros para determinar os costões com maior valor para a conservação da biodiversidade, conforme indica Carmo (2000), com adaptação de novos parâmetros, sendo o valor máximo ideal de 30 para o modelo adotado.

Tabela 8: Somatório dos valores de conservação atribuídos a cada unidade amostral do promontório de Cabeçudas, Itajaí – SC.

Ponto Área Forma Distanciamento Inclinação Rugosidade Exposição Total

Farol 5 2 1 3 1 2 14

SN 5 5 4 2 2 2 20

SS 2 4 4 2 2 3 17

Morcego 3 5 4 5 3 4 24

De forma geral, houve heterogeneidade entre os parâmetros dos valores de conservação. O maior valor obtido foi para a unidade Morcego. Tal resultado deve-se muito à inclinação, que lhe rendeu nível 5, bem como o índice de forma. A proximidade deste ponto à SS, associada ao grau de exposição mais intermediário (tendendo ao abrigado), também contribuiu para o valor para a conservação que esse costão proporciona. O menor valor para conservação ficou

52 por conta do Farol, devido ao distanciamento em relação aos outros costões e do baixo índice de rugosidade, que lhe atribuíram valores mínimos. No caso do primeiro parâmetro, indicando que a menor heterogeneidade proveniente da rugosidade resulta em menor potencial de diversidade biótica. Já, o segundo parâmetro está associado ao menor fluxo gênico e colonização para distâncias maiores, conforme se refere Ziembowicz (2012).

Para o parâmetro Área, o Farol e a SN se mostraram com valores máximos, contribuindo para o potencial de valor para conservação neste quesito, relação número de espécies e área, indicado na TBI (FERNANDEZ, 2004), enquanto a SS apresentou o menor. Apesar da menor área, a SS exibiu alto valor de conservação referente ao índice de forma, no entanto, o Morcego e a SN se mostraram com valores máximos para este atributo.

As unidades amostrais, em sua maioria, não apresentaram valores de conservação elevados referentes à inclinação, com exceção do Morcego, que exibiu valor máximo. Da mesma forma, ocorreu um padrão para o índice de rugosidade, mas neste caso o que se obteve foi um valor mínimo de conservação para o Farol.

Em suma, a metodologia da ecologia da paisagem, por meio da estrutura espacial, indicou o Morcego como sendo o melhor local para conservação da biodiversidade, enquanto que o índice se Shannon mostrou a SS como o local com maior diversidade e maior equitabilidade. Um dos fatores que pode ter contribuído para estas divergências é o fato da amostragem no Morcego ter sido dificultada pela estrutura do costão, que não constitui um paredão característico de costões rochosos, como as demais unidades amostrais, apresentando grandes depressões entre as rochas, provocando problemas para medição de superfície.

O fato das amostragens terem sido realizadas juntamente com a medida das estações também pode ter prejudicado o levantamento de organismos neste local, uma vez que a biota encontrada nas “poças” acabou por não ter sido bem contabilizada. Outra característica diferenciada no Morcego é a presença de um local mais abrigado ainda em relação ao restante desse costão, quase que formando uma gruta, proporcionando características ainda mais distintas das outras unidades amostrais.

Nota-se que uma análise sem a inclusão do Morcego resultaria em uma relação mais direta entre ecologia da paisagem e diversidade, envolvendo as duas metodologias. Entretanto, observando a Figura 2, percebe-se que o Farol, a SN e a SS parecem estar mais interligados, uma vez que se encontram numa mesma enseada, enquanto que o Morcego permanece mais “isolado”. Sendo assim, talvez o valor de conservação aplicado para o quesito distanciamento

53 não seja realmente adequado à realidade deste costão, o que diminuiria sua importância para conservação.

É possível considerar que talvez os parâmetros escolhidos para compor a estrutura espacial da paisagem não influenciem os costões com mesmo grau de importância. Como visto por Coutinho (1995, 2002), Little & Kitching (1996) e Ballantine (1961) o nível de exposição às ondas é provavelmente o fator que provoca maiores diferenças na composição da biota em costões rochosos. Portanto, poderiam receber um peso maior quanto ao valor.

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