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CAPÍTULO VI ESTUDO 2: RELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE ESPERANÇA, DE

6.2 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO ESTUDO

6.2.2 Relação entre a esperança, o conforto e a qualidade de vida

Da análise da relação entre o nível de esperança global, com o nível de conforto global e com o nível de qualidade de vida global obtida através do coeficiente de correlação de Pearson, concluímos que existe uma relação positiva o que significa que, quanto maior o nível de esperança, maior o nível de conforto e de qualidade de vida. No entanto, essa relação não é estatisticamente significativa, apesar de que, a relação entre a esperança global e a qualidade de vida global (r=0,086; p=0,129) é ligeiramente superior comparativamente à relação entre a esperança global e o conforto global (r=0,066; p=0,243).

No que concerne à relação entre o nível de esperança global dos cuidadores da amostra e os vários fatores do conforto, constatámos uma relação estatisticamente significativa com o estado de conforto alívio (r=0,158; p=0,005) o que indica que esta é fundamental para que a pessoa restabeleça o seu funcionamento habitual (Kolcaba, 1991). Já a relação entre a esperança global com a qualidade de vida, verificámos que a esperança apresenta uma relação positiva e mais forte com o domínio espiritual (r=0,090; p=0,111), seguida do domínio do físico/emocional (r=0,092; p=0,112) e, mais fraca, quer com o domínio social (r=0,028; p=0,623) quer com o domínio psicológico (r=0,028; p=0,627), contudo, essa a relação não se apresenta estatisticamente significativa (p>0,05).

Ao explorarmos a relação entre as várias dimensões da esperança e os vários estados de conforto ou domínios da qualidade de vida, percebemos que algumas dessas dimensões exercem um poder significativo direcionado para alguns dos fatores, tanto do conforto como

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A relação entre a dimensão afiliativa/afetiva da esperança, ou seja, a relação com o próprio, com os outros e com Deus bem como as emoções e sentimentos relacionados com o objeto a atingir (Dufault & Martocchio, 1985), com os vários estados de conforto não apresenta significado estatístico; contudo, de entre os três estados de conforto, é com o estado de conforto alívio que essa relação se apresenta mais forte. Esta análise leva-nos a concluir que o facto de “ter uma fé que lhe dá conforto, uma profunda força interior e sentir que a vida tem valor e mérito” tem uma influência positiva, mesmo que ligeira e temporária, na satisfação de uma necessidade da pessoa, mas que é indispensável para que a mesma restabeleça o seu funcionamento habitual (Kolcaba, 1991).

Na sua relação com a qualidade de vida, concluímos que existe uma relação positiva e estatisticamente significativa com a dimensão espiritual (r=0,110; p=0,050). Essa relação justifica-se com a perspetiva conceptual de Dufault e Martocchio (1985), segundo a qual, a dimensão afiliativa inclui componentes de interação social, de reciprocidade, de interdependência, de orientação para os outros, de transcendência na relação com outras pessoas (mortas ou vivas), mas também com Deus. No entanto, esperávamos uma relação mais forte e positiva com o domínio social da qualidade de vida e com o estado transcendental do conforto.

Por outro lado, a dimensão afetiva compreende um conjunto de emoções e de sentimentos, nomeadamente, de confiança, de alegria, de excitação e de sensação de bem-estar, bem como de incerteza, esta manifestada por sentimentos de ansiedade, de dúvida, de vulnerabilidade, de preocupação, de raiva, de sofrimento e, por vezes, de desespero, todos relacionados com o objetivo a atingir (Dufault & Martocchio, 1985), pelo que se esperava uma relação estatisticamente significativa com o domínio psicológico. Em consonância, Kitrungrote & Cohen (2006) referem que o facto de os cuidadores deterem um conjunto de emoções e de sentimentos relacionados com o objetivo a atingir, bem como o facto de apresentarem maiores níveis de esperança relacionados com a sua relação e preocupação com os outros, vai ter um efeito positivo, ainda que muito ligeiro, no domínio psicológico e emocional, nomeadamente a nível do stresse, da preocupação, do nervosismo, da raiva e até da depressão.

No que se refere à relação entre a dimensão cognitiva/comportamental da esperança, ou seja, os pensamentos e os desejos relacionados com o objeto de esperança ou a forma como estão orientados para produzir um determinado resultado (Dufault & Martocchio, 1985) e os três estados de conforto, constatámos que essa relação se apresentou estatisticamente

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significativa com o estado de conforto alívio (p<0,05). Daqui, podemos concluir que “ter uma atitude positiva perante a vida, conseguir ver possibilidades no meio das dificuldades e acreditar que a vida tem um rumo e que cada dia tem o seu potencial” é fundamental para que a pessoa restabeleça o seu funcionamento habitual (Kolcaba, 1991).

Esperávamos que, os processos segundo os quais os indivíduos desejam, imaginam, sonham, pensam, recordam, aprendem, generalizam, percecionam, interpretam e julgam relativamente à esperança ou à forma como estão orientados em relação aos objetivos ou resultados desejados (Dufault & Martocchio, 1985), tivessem um efeito positivo e estatisticamente significativo nos três estados de conforto.

Por outro lado, esperávamos também encontrar uma relação estatisticamente significativa entre a dimensão cognitiva/comportamental da esperança com todos os domínios da qualidade de vida, uma vez que Dufault e Martocchio (1985) referem que a dimensão comportamental orienta os indivíduos em relação aos objetivos nos domínios físico, psicológico, social e espiritual, dentro do que é realisticamente possível. Todavia, apesar da relação não ser estatisticamente significativa (p>0,05), apresenta-se mais forte com o domínio físico/emocional (r=0,102; p=0,072).

No que respeita à dimensão temporal/contextual, ou seja, a orientação temporal da esperança da pessoa, dirigida para o futuro mas influenciada pela experiência do presente e do passado, bem como a influência do contexto/situações de vida nos seus níveis de esperança (Dufault & Martocchio, 1985), é a dimensão que mostra uma relação mais forte com o conforto e com a qualidade de vida. Apresenta uma relação positiva e estatisticamente significativa, tanto com o conforto na sua globalidade (r=0,119; p=0,035) como com o estado de conforto alívio (r=0,012; p=0,048) e com o estado de conforto transcendência (r=0,139; p=0,014), apesar de se revelar mais forte com a transcendência.

Tal sugere que, “ter objetivos a curto, a médio e/ou longo prazo e conseguir recordar tempos felizes / agradáveis” contribui tanto para o nível de conforto da pessoa na sua globalidade, como para que a mesma sinta que tem capacidade para planear, controlar o seu destino e resolver os seus problemas e, é indispensável para que a mesma restabeleça o seu funcionamento habitual (Kolcaba 2003).

Relativamente à relação entre a dimensão temporal/contextual da esperança e a qualidade de vida, esta apresenta-se apenas estatisticamente significativa com a dimensão social da mesma (p=0,002).

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No sentido de conhecermos a relação da esperança com a situação financeira, uma vez que é um domínio que Cohen et al (2006) consideram fundamental na avaliação da qualidade de vida dos cuidadores, aplicámos o coeficiente de correlação de Pearson com a questão da autoperceção da situação financeira, e o resultado obtido foi, uma relação negativa, tanto com a esperança total como com as dimensões da mesma. Obtivemos uma relação negativa e estatisticamente significativa da situação financeira com a esperança global (r=-0,172; p=0,002) e com a dimensão temporal/contextual (r=-0,242; p=0,000), o que significa que uma má situação financeira vai prejudicar a capacidade da pessoa dirigir a sua esperança para o futuro.

Tabela 6.4 – Correlação de Pearson entre os scores do HHI-C-PT global e respetivos fatores, com a HCQ-C-PT e QOLLTI-C-PT, global e os fatores constituintes de cada um

Dimensões da Esperança (HHI-C-PT) Esperança

Global 1. Afiliativa / afetiva 2. Cognitiva / comportamental 3. Temporal / contextual r p r p r p r p H CQ - C -PT 1. Alívio 0,092 0,103 0,160 0,004 0,112 0,048 0,158 0,005 2. Tranquilidade 0,031 0,581 -0,030 0,602 -0,026 0,649 -0,009 0,873 3. Transcendência -0,052 0,362 -0,008 0,884 0,139 0,014 0,010 0,858 Conforto global 0,020 0,725 0,047 0,411 0,119 0,035 0,066 0,243 QO L L T I- C -PT 1. Social -0,006 0,911 -0,030 0,597 0,174 0,002 0,028 0,623 2. Espiritual 0,110 0,050 0,069 0,226 0,017 0,768 0,090 0,111 3. Psicológico 0,030 0,590 0,018 0,750 0,016 0,779 0,028 0,627 4. Fisico/emocional 0,048 0,395 0,102 0,072 0,051 0,365 0,092 0,112 QV global 0,067 0,237 0,055 0,332 0,098 0,082 0,086 0,129 Situação financeira -0,103 0,068 -0,114 0,044 -0,242 0,000 -0,172 0,002