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SUMÁRIO

3. DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES DE PESQUISA Este capítulo tem por objetivo apresentar as hipóteses de

3.1 Relação entre aprendizagem organizacional e inovação

A capacidade de uma organização aprender e de inovar tem sido sistematicamente referenciada na literatura como fundamental para a obtenção de vantagens competitivas, consistindo-se em um importante diferencial de sustentabilidade (DAMANPOUR, 1991; WANG; AHMED, 2004; FLEURY; FLEURY, 2006; OECD, 2014). São consideradas capacidades dinâmicas que possibilitam à organização lidar com a complexidade, imprevisibilidade e intensa competição no ambiente de negócios (DESS; PICKENS, 2000; HELFAT et al., 2007; ROTHAERMEL; HESS, 2007; SAADAT; SAADAT, 2016).

O interesse acadêmico e empresarial na relação entre aprendizagem organizacional e inovação não é novo. Diferentes estudos destacam essa relação, pontuando a proximidade entre as abordagens e sugerindo que a aprendizagem organizacional desempenha um papel fundamental para a ocorrência da inovação (HUBER, 1998; BAKER; SINKULA, 1999; CROSSAN; APAYDIN, 2010; SONG, 2015; GOMES; WOJAHN, 2017).

Em seu trabalho sobre aprendizagem organizacional e gestão da inovação, Stata (1989) afirma que a aprendizagem organizacional é o processo principal que desencadeia a inovação nas organizações. Nonaka e Takeuchi (1995), em sua discussão sobre a criação do conhecimento na organização, destacam o papel da aprendizagem organizacional para desenvolvimento de sua base de conhecimentos e a sua contribuição para o processo de inovação. Já Hurley e Hult (1998) chamam a atenção da relação da aprendizagem da organização com a

mudança comportamental direcionada à inovação. Esses autores pontuam que é por meio da aprendizagem organizacional que se fomenta uma cultura de valorização da criatividade, de desenvolvimento das pessoas e de participação. Consideram que a capacidade de inovar da organização reflete, essencialmente, sua aprendizagem.

A literatura organizacional deixa evidente esse entrelaçamento entre as abordagens. Isto pode ser visto também em relação ao aporte teórico destas. Os estudos em inovação tendem a enfatizar seus determinantes e, nesse sentido, são muitos os trabalhos que destacam como fatores que influenciam a inovação elementos relacionados à cultura e a outros aspectos comportamentais da organização (AMABILE et al., 1996), a sua base de conhecimentos (NONAKA; TAKEUCHI, 1995) e as suas estratégias (ADAMS; BESSANT; PHELPS, 2006).

De outro lado, observa-se que tais fatores também fazem parte do escopo teórico de aprendizagem organizacional. Swieringa e Wierdsman (1992) argumentam que a aprendizagem organizacional é uma etapa importante no processo de mudança cultural e comportamental de uma organização, contribuindo para a adaptação às diferentes circunstâncias e contextos. Argote e Miron-Spektor (2011) enfatizam os resultados da aprendizagem organizacional enquanto estoques e fluxos de conhecimento e experiências construídos ao longo do tempo e que estruturam a base de aprendizagem da organização. Estas perspectivas cognitivas e comportamentais também são destacadas por Shrivastava (1983), Garvin (1993), Slater e Narver (1995) e Huber (1998). Já Crossan e Berdrow (2003) observam que a aprendizagem organizacional é um importante elemento na construção e renovação das estratégias organizacionais. A missão, objetivos e realizações da organização estão atreladas às suas políticas e estratégias de negócios, o que inclui sua estratégia de inovação.

Considerando todas estas argumentações, o pensamento lógico é o de que a aprendizagem organizacional influencia diretamente a inovação na organização. E, apesar da relação entre estes construtos ainda ser pouco explorada empiricamente, os estudos que realizaram investigações desta natureza, de fato, a evidenciam como positiva.

Sob uma perspectiva de introdução de tecnologias, McKee (1992) apontou uma relação positiva entre a inovação de produtos e a aprendizagem na organização. Já Hurley e Hult (1998) identificaram um relacionamento positivo destacando a aprendizagem organizacional enquanto uma orientação da empresa para o aprendizado contínuo. Uma perspectiva semelhante, que destacou as influências culturais para o aprendizado e para a inovação foi adotada por Rycroft e Kash (2002), e

Skerlavaj, Song e Lee (2010). Também, de forma indireta, os trabalhos de Alegre e Chiva (2008), e Hsu e Fang (2009), analisam esta relação considerando a capacidade de aprendizagem organizacional sobre a inovação de produtos.

De forma mais direta, Liao, Fei e Liu (2008) analisaram a relação entre a aprendizagem organizacional e a inovação em organizações sob a ótica de gestão do conhecimento e informação, suportando a hipótese levantada de que elas se relacionam positivamente. Os autores utilizaram como base as inovações administrativas e inovações técnicas. Também de forma mais direta e sob a mesma ótica, Jiménez-Jiménez e Sanz-Valle (2011) identificaram uma relação positiva entre os construtos. Nessa oportunidade, a inovação foi operacionalizada como número de inovações em produtos, serviços e inovações administrativas.

A revisão de literatura, no entanto, não apontou a existência de estudos que realizassem esta análise empírica sob uma perspectiva conceitual mais ampla do processo de aprendizagem organizacional. Ou seja, que reconheça a construção do conhecimento da organização como um processo social e multidimensional, incorporando ao mesmo tempo os níveis individual, de grupo e organizacional (VERA; CROSSAN, 2005); que considere as modificações cognitivas e comportamentais como possíveis resultados dessa aprendizagem (LEVITT; MARCH, 1988) e sua manifestação numa variedade de formas, como em rotinas, cultura e estratégia (BONTIS; CROSSAN; HULLAND, 2002).

Da mesma forma, como argumenta Damanpour (1991), é importante que os estudos sobre inovação em organizações considerem a orientação ou esforço organizacional em relação aos diferentes tipos de inovação e quanto ao próprio modelo organizacional. Nesse sentido, destaca-se a importância de se examinar as manifestações de inovação de uma forma mais abrangente, não apenas em torno de um único tipo de inovação, ou exclusivamente em elementos que a facilitam, como os investimentos em P&D (DAMANPOUR; WISCHNEVSKY, 2006). De forma complementar, Huang e Li (2009) salientam a importância da inovação da própria organização a partir de suas práticas, modelos de negócios, estrutura e estratégia, em função de que estes aspectos podem contribuir para as demais inovações que ocorrem no contexto organizacional.

Portanto, considera-se neste estudo uma perspectiva conceitual mais ampla do processo de aprendizagem organizacional, em que a nova configuração determinada por esta aprendizagem tende a afetar a forma como a organização atua, influenciando suas ações e dinâmicas

processuais internas e externas. De modo semelhante, no âmbito deste estudo a inovação na organização não se limitará a um único tipo de inovação ou exclusivamente aos seus antecedentes e facilitadores, sendo concebida conforme o Manual de Oslo (OECD, 2005) enquanto inovação de produto (bens e serviços), inovação de processo, inovação de marketing e inovação organizacional.

Fundamentado no exposto, entende-se que a aprendizagem organizacional possui uma significativa influência na ocorrência da inovação nas organizações, sendo estabelecidas as seguintes hipóteses:

H1a – A aprendizagem organizacional influencia positivamente a inovação de produto (bens e serviços).

H1b – A aprendizagem organizacional influencia positivamente a inovação de processo.

H1c – A aprendizagem organizacional influencia positivamente a inovação de marketing.

H1d – A aprendizagem organizacional influencia positivamente a inovação organizacional.