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Relação entre Atitudes face à sexualidade e variáveis de contexto sexual

3. Discussão

3.2. Discussão dos resultados

3.2.4. Relação entre Atitudes face à sexualidade e variáveis de contexto sexual

No que reporta aos conhecimentos sobre infeções de transmissão sexual há diferenças estatisticamente significativas entre os conhecimentos e as atitudes face à sexualidade, sendo que os estudantes com menos conhecimentos apresentam uma atitude mais favorável face à sexualidade. Estes dados contraiam os de outros estudos, onde ficou demonstrado que os adolescentes com mais conhecimentos sobre as infeções de transmissão sexual são os que revelam atitudes mais favoráveis em relação à sexualidade (Luís, Pereira & Sales, 2011; Nelas, 2010). Este fenómeno poderá relacionar-se com a não adoção de determinado comportamento pelo receio do desconhecido. Contudo, como nos refere Ferreira & Torgal (2011), o facto dos estudantes terem a informação, não significa que sejam capazes de a usar. Somos ainda levados a refletir sobre a forma de transmissão dos conhecimentos sobre as Infeções de transmissão sexual, levantam uma suspeita sobre um excesso de informação num curto espaço de tempo, não sendo o estudante capaz de a assimilar de forma adequada. Por outro lado, mais conhecimentos poderá transformar-se em excesso de autoconfiança, resultante deste empoderamento, levando os adolescentes a ter piores atitudes acreditando que não estão em risco.

Consideramos importante referir que, apesar de terem sido as raparigas e os alunos com 18 ou mais anos a revelar uma atitude mais favorável em relação à sexualidade, são também estes a ter conhecimentos insuficientes em relação às infeções de transmissão sexual. Assim, julga-se poder inferir que os conhecimentos sobre as infeções de transmissão sexual não estão relacionados com a atitude revelada pelas raparigas, o que não está em conformidade com outros estudos, onde as raparigas foram quem tiveram mais conhecimentos sobre a sexualidade, estando relacionados com melhores atitudes face à sexualidade, quando comparadas com os rapazes (Nelas, 2010; Pereira et. al., 2011).

Face aos resultados obtidos, pensamos que as intervenções educativas isoladas/pontuais e tardias, podem estar na origem de conhecimentos pouco consistentes por parte dos estudantes, por outro lado há o risco dos estudantes terem iniciado a atividade sexual antes de serem alvo de intervenção, pelo que sugerimos uma alteração de estratégias. É ainda de refletir o facto de a lei, que regulamenta a educação sexual, ter à data cerca de cinco anos e, portanto, sendo relativamente recente e, ainda, não se fazem sentir os seus efeitos

A maior parte dos estudantes já iniciou a sua vida sexual (59.8%), desde os 16 anos (38.7), seguindo-se os que referiram que tiveram a primeira relação sexual com idade inferior ou igual a 15 anos (33.3%). É de salientar que são as raparigas que iniciam a sua atividade sexual mais tarde, com predomínio na faixa etária com 17 ou mais anos contrariamente aos rapazes, com inicio da sua atividade sexual com idade igual ou inferir a 15 anos (41.4%). Estes resultados estão em conformidade com os encontrados em outros estudos internacionais, segundo os quais os adolescentes iniciam a sua atividade sexual precocemente, situando-se a média entre os 13 e os 15 anos de idade (Romero, 2010; Langille & Asbridge, 2010; Tsitsika, 2010). Em Portugal, alguns estudos revelam que a idade da primeira relação sexual parece não estar distante da dos restantes países mundiais, cuja média de idade de início da vida sexual ocorre por volta dos 14-15 anos (Correia, 2004; Matos, 2007; Afonso, 2011). Nos países mais desenvolvidos, há uma associação entre a idade cada vez mais precoce das primeiras experiências sexuais com a idade cada vez mais tardia do primeiro relacionamento amoroso longo e estável, o que deixa transparecer que ocorre um alargamento do período de relações sexuais instáveis dos adolescentes (Vaz & Nunes, 2013). Consta-se que apresentam atitudes favoráveis os estudantes que iniciaram a sua atividade sexual com idade igual ou superior aos 17 anos (46.8%), demonstrando que estudantes com melhores atitudes adiam o início da sua atividade sexual, o que revela que as atitudes são uma importante dimensão da saúde sexual a trabalhar nas criança e adolescentes, no âmbito da saúde escolar. É ainda de sublinhar que são os estudantes que ainda não iniciaram a sua atividade sexual que apresentam atitudes mais desfavoráveis, o que declara uma necessidade de intervenção emergente. Importa ressalvar que alguns estudos portugueses demonstram que os adolescentes iniciam a vida sexual cada vez mais cedo, sem possuírem uma educação sexual consistente, o que resulta em comportamentos de risco (Borges, 2007), vindo ao encontro dos resultados apurados e reforça ainda mais a importância de se investir na educação sexual nas escolas, evitando-se os comportamentos de risco.

No que respeita ao abuso de substâncias lícitas e ilícitas, revelam atitudes favoráveis os estudantes que referem não terem relações sexuais sob o efeito de substancias psicoativas, por oposição uma importante percentagem de alunos com uma atitude desfavorável face á sexualidade (44.2%) admite ter tido relações sob efeito de álcool. Estudos referem a embriaguez como fator facilitador da multiplicidade de parceiros e o sexo casual (Malbergie,& Figueiredo,2008;Romero, 2011). Assim constata-se que, nesta investugação à semelhança de outros estudos, ao comportamento sexual de risco associa- se, entre outros fatores, o uso de drogas ilícitas e o consumo de álcool (Ribeiro & Fernandes, 2009).

Relativamente ao uso de preservativo e necessidade de recorrer à toma da pílula

do dia seguinte são os estudantes com atitudes favoráveis, que referem nunca terem tido

necessidade de recorrer à toma da pílula do dia seguinte, terem preservativo sempre que necessário. Assim, os estudantes que admitem ter sempre preservativo quando precisam, possuem uma atitude mais favorável face à sexualidade, resultando em diferenças estatisticamente significativas. Os dados alcançados confirmam o pressuposto de que a maioria dos adolescentes que utilizam o preservativo são os que apresentam mais conhecimentos e atitudes favoráveis face à sexualidade (Luís, Pereira & Sales, 2011).

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