2. DESEMPENHO ECONÔMICO E O PAPEL DAS FINANÇAS
2.2. O papel das finanças na economia
2.2.3. Relação entre finanças e produtividade
O estudo da relação entre o crescimento econômico e o desenvolvimento financeiro tornou-se um importante fator de pesquisa para a economia aplicada. Esse estudo foi mais aprofundado a partir de King e Levine (1993) quando constataram que a profundidade financeira tem sua importância para explicar as variações no crescimento entre países. Mesmo sendo uma relação já estabelecida, existem variações significativas entre as finanças e o crescimento nos países. Essa relação empírica também tem sido apoiada pela literatura teórica sobre a intermediação financeira e o crescimento endógeno, em que surgem modelos sobre a produção de novas ideias e tecnologias (TREW, 2014).
King e Levine (1993) analisam se os níveis mais elevados do desenvolvimento financeiro são positivamente relacionados com o desenvolvimento econômico, ou seja, se os altos níveis de desenvolvimento financeiro são significativamente e robustamente correlacionados com as taxa atuais e futuras do crescimento econômico. Os autores pretenderam comprovar empiricamente se Schumpeter estava certo ao acreditar nessa associação entre as finanças e o crescimento econômico.
Schumpeter, em 1911, argumentava que fatores como os serviços prestados por intermediários financeiros, como mobilização da poupança, avaliação de projetos, gestão de riscos e facilitação de transações, são utilizados tanto para a inovação tecnológica quanto para o desenvolvimento econômico, sendo que para esse autor o essencial para gerar inovação e desenvolvimento é o papel que o crédito exerce como financiador dos projetos.
King e Levine (1993) afirmam que os indicadores de desenvolvimento financeiro (tamanho do intermediário financeiro em relação ao PIB, os bancos em relação ao Banco
Central, a razão do crédito para as empresas privadas em relação ao PIB) são intensamente e robustamente correlacionados ao crescimento econômico, a taxa de acumulação de capital físico e a melhora na eficiência da alocação de capital. O indicador ‘tamanho do intermediário financeiro em relação ao PIB’ é igual à razão dos passivos líquidos do sistema financeiro em relação ao PIB. Já o indicador ‘bancos em relação ao Banco Central’ é a relação do depósito de ativos domésticos de bancos mais os ativos domésticos do banco central. O último indicador ‘razão do crédito para as empresas privadas em relação ao PIB’ é a proporção de créditos do setor privado não financeiro em relação ao PIB.
Para os autores, Schumpeter poderia estar certo sobre a importância das finanças para o crescimento, porém para ele a visão era de “destruição criativa”12
. A parte relevante da teoria de Schumpeter é que a concessão de crédito é que torna possível a inovação tecnológica e o desenvolvimento econômico. Dessa forma, os serviços financeiros estimulam o crescimento econômico por meio da intensificação da taxa de acumulação de capital e do aperfeiçoamento da eficiência com que a economia usa o capital (KING e LEVINE, 1993).
Já Levine analisa a estrutura analítica do reflexo das finanças para o crescimento. Observa-se que os incentivos para o surgimento dos mercados e das instituições financeiras são causados essencialmente pelos custos para adquirir informações e executar transações, de maneira que surgem para amenizar os problemas ocasionados pelas informações e pelas transações. Com o objetivo de reduzir esses custos, é que o sistema financeiro passa a ter como principal função a de facilitador na alocação de recursos em um ambiente incerto, além do espaço e do tempo (LEVINE, 1997).
Levine (1997) divide essa função principal do sistema financeiro em cinco funções básicas:
i. facilitar a negociação, hedging, diversificar e partilha de risco; ii. alocar recursos;
iii. monitorar os gestores e exercer controle societário; iv. mobilizar poupança;
v. facilitar o intercâmbio de bens e serviços.
12 Quando uma inovação substitui um antigo método de produção e produtos, por melhores procedimentos, mercadorias e serviços (Shleifer, 1986, apud King e Levine 1993).
O sistema financeiro influencia a acumulação de capital através de alterações na taxa de poupança ou por meio da realocação da poupança entre as diferentes tecnologias de produção de capital. A mobilização de recursos envolve a aglomeração de capitais de quem poupa para serem usados como investimento. A mobilização dos poupadores requer que haja superação dos custos de transação e das assimetrias de informações, para fazer com que os poupadores sintam-se confortáveis em não controlarem diretamente suas economias e sejam convencidos da solidez dos investimentos. Os sistemas financeiros eficazes na junção de poupança de indivíduos são capazes de afetar profundamente o desenvolvimento econômico, pois além da acumulação do capital, corroboram para a alocação de recursos e estimulo à inovação tecnológica, fomentando assim o crescimento (LEVINE, 1997).
As conclusões, hesitantes e com amplas qualificações, preponderantes entre o raciocínio teórico e as evidências empíricas, mostram que existe uma relação positiva de primeira ordem que demonstra que o nível de desenvolvimento financeiro é um bom indício de futuras taxas crescimento econômico, de acumulação de capital e mudanças tecnológicas, e a longo prazo pode influenciar a velocidade e o padrão do desenvolvimento econômico (LEVINE, 1997).
É a partir desse principal resultado da literatura internacional que essa pesquisa também se apoiará para aprofundar o estudo sobre essa importante relação para a economia dos estados brasileiros. Assim, nessa pesquisa, espera-se que os fatores determinantes para o crescimento econômico sejam principalmente a poupança e o financiamento, além dos fatores como o capital humano (educação), o capital físico e a taxa de crescimento da população.
O próximo capítulo apresentará alguns estudos empíricos sobre a associação entre o sistema financeiro e o crescimento econômico, e serão apresentados desde os objetivos dos autores, as metodologias utilizadas, até os resultados que foram encontrados, dentre os estudos, é exposto também o que foi usado como base para essa pesquisa. O capítulo também abordará o desenvolvimento financeiro e econômico de maneira aplicada, ou seja, uma avaliação da evolução de algumas variáveis macroeconômicas e de variáveis essenciais para a futura estimação de modelos empíricos.
3 FINANÇAS E DESEMPENHO ECONÔMICO NA ECONOMIA BRASILEIRA