3.3 Relacionamento com o pai após a separação conjugal
3.3.1 Relação entre a mãe e o ex-cônjuge
A Tabela 24, a seguir, apresenta a distribuição das repostas das mães quando foram questionadas a respeito do seu relacionamento com o ex-cônjuge.
Tabela 24. Distribuição das respostas das participantes nas questões que investigam como avaliam sua relação com o ex-cônjuge (teste qui-quadrado).
Freqüência das respostas Questões
Boa Regular Ruim
p
Como você avalia sua relação com o pai da criança (ex-cônjuge)?
15 16 12 ns
Houve uma distribuição eqüitativa das respostas, como mostra a Tabela 24, tendo-se observado que 35% das participantes consideram boa a sua relação com o ex-cônjuge, enquanto 37% avaliaram-na como regular e 28% disseram que ela era ruim. Ao descreverem aspectos da relação com o ex-cônjuge, observou-se que as participantes mencionaram, principalmente, aspectos negativos. Cinqüenta e três por cento delas disseram que o pai não se preocupa com a criança, não ajuda na sua educação e que têm problemas com o pagamento da pensão; 12% relataram que o pai envolve os filhos em assuntos da relação com a ex-mulher e outras 12% disseram que o ex-cônjuge é agressivo. Contrariamente, 23% informaram que o ex-cônjuge atende às solicitações da ex-mulher, preocupa-se com o filho e presta ajuda na sua educação.
No que refere à possibilidade de as participantes contarem com o ex-cônjuge para resolver problemas relacionados ao filho, 35% das mães disseram receber ajuda do pai da criança, pois, segundo elas, o ex-cônjuge é atencioso, se dispõe a ajudar e atende aos seus pedidos. Contudo, 65% das participantes informaram que não podem contar com o pai da criança para resolver problemas e que este não se importa com filho. Disseram também que, quando pedem auxílio, o ex-cônjuge não ajuda e não sabe o que acontece com a criança, pois a mãe resolve os problemas sozinha, sem conversar com o pai.
As questões apresentadas a seguir buscaram investigar aspectos relacionados à comunicação entre a mãe e o ex-cônjuge e a freqüência do contato entre eles. A Tabela 25 apresenta a freqüência das respostas maternas frente a essas questões.
Tabela 25. Como as mães avaliam a comunicação com o ex-cônjuge e qual a freqüência do contato entre eles (teste qui-quadrado).
Questões Freqüência das respostas p
F A N
A comunicação existe após a separação? 9 14 20 ns
Boa Regular Ruim
Como avalia a comunicação?* 11 7 5 ns
Legenda: F – freqüentemente; A – algumas vezes; N – quase nunca/nunca
* Considerando apenas as participantes cujo contato com o ex-cônjuge ocorria freqüentemente ou algumas vezes (n = 23).
A respeito da comunicação entre os pais, após a separação, 21% das mães disseram que o contato ocorre freqüentemente; 33%, algumas vezes e 46% relataram que quase nunca/nunca têm contato com o ex-cônjuge. Não houve uma diferença significativa entre a distribuição da freqüência dessas respostas.
Considerando apenas as participantes cujo contato com o ex-cônjuge ocorria freqüentemente ou algumas vezes (n = 23), conforme a Tabela 25, observou-se que para 48% delas, a comunicação era boa, enquanto 30% achavam-na regular e 22%, ruim, novamente sem ter sido observado diferença significativa entre a freqüência das respostas maternas. Apesar de 48% das mães terem considerado boa a comunicação com o ex-cônjuge, ao justificar sua avaliação, 65% das mães contaram que há brigas, discussões ou troca de acusações entre os pais e 17% informaram que o contato é restrito e que conversam apenas o necessário. Por outro lado, 43% das participantes informaram que há diálogo entre elas e o pai da criança.
Ao considerar somente aquelas participantes que quase nunca ou nunca têm contato com o ex-parceiro (n = 20), verificou-se que, para 60% delas, a comunicação não existe porque o pai não se interessa e não ajuda a criar o filho, enquanto 40% disseram que a própria mãe restringiu ou evita o contato com o ex-cônjuge. Além dessas razões, 30% mencionaram a mágoa e os desentendimentos que existem entre eles e outros 20% atribuíram a não- comunicação ao fato de que o pai mora longe ou não há meios de contatá-lo, por exemplo, não tem telefone. Além disso, 80% das mães consideram que a falta de comunicação com o ex- parceiro traz prejuízos, entre os quais o fato de que o filho sofre com a falta e distância do pai; de que é mais difícil para a mãe criar a criança sozinha; o pai não vai participar da educação do filho e porque os filhos percebem e sofrem com os conflitos entre eles. Já 20% das mães relataram que a falta de comunicação não traz prejuízo algum, pois consideravam melhor manter distância do ex-cônjuge, já que assim não havia desentendimentos e o pai não dava
mau exemplo ao filho, além de que, como disse uma mãe, ela já estava “acostumada” a criar o filho sem o pai, que não ajudava.
O Gráfico 13 apresenta as situações e os assuntos das conversas que as mães estabelecem com seus ex-cônjuges.
Gráfico 13. Freqüência das categorias que descrevem as situações em que os pais conversam e os assuntos das conversas.
As mães disseram conversar com o pai da criança, principalmente, quando o ex-
cônjuge entra em contato, telefonando ou indo até a casa da família. Também relataram que procuram pelo ex-marido, porém com uma freqüência menor. Os filhos são o principal
assunto das conversas, como citaram as participantes, que falam com os pais sobre seu
comportamento, escola e saúde. Em seguida, estão as questões financeiras, tais como
cobranças sobre o pagamento da pensão ou discussões sobre o valor pago e o que o pai
precisa fazer em relação ao filho, ou seja, o que a mãe diz que ele deve fazer. Também foram
mencionados assuntos que tratam do relacionamento entre pai e mãe, por exemplo, a
Situações em que conversam com o ex-cônjuge
0 10 20 30 40
o ex-cônjuge entra em contato a mãe procura pelo ex-cônjuge
F re q ü ê n c ia s
Assuntos das conversas
0 10 20 30 40 os filhos: comportamento, escola, saúde
questões financeiras o que o pai precisa fazer em relação ao filho
o relacionamento entre pai e mãe
possibilidade de reatarem o casamento, e a vida pessoal dos pais, com conversas sobre seu trabalho ou sobre a família.
Quanto ao entendimento entre os pais sobre a educação do filho, a Tabela 26 apresenta a freqüência das respostas maternas frente à questão.
Tabela 26. Distribuição das respostas das participantes nas questões que investigam se há entendimento entre os pais quanto à educação dos filhos (teste qui-quadrado).
Freqüência das respostas Questões
F A N
p
Você e o pai da criança se entendem quanto à forma de educar seu filho?
7 7 9 ns
Legenda: F – freqüentemente; A – algumas vezes; N – quase nunca ou nunca
Como mostra a Tabela 26, observa-se que 30% das mães disseram que freqüentemente se entendem com o ex-companheiro sobre a educação da criança, enquanto 30% consideram que isso ocorre algumas vezes e 40%, quase nunca/nunca, o que representa uma distribuição eqüitativa entre as respostas. Cabe lembrar que essa questão envolvia apenas as participantes cujo contato com o ex-companheiro ocorria freqüentemente ou algumas vezes (n = 23, conforme a Tabela 25).
Entre as participantes que disseram haver entendimento com ex-cônjuge freqüentemente ou algumas vezes, 50% justificaram afirmando que o pai da criança aprovava a educação dada pela mãe ao filho, 43% relataram que os pais respeitavam as atitudes em relação à criança e não desautorizavam um ao outro, 29% disseram que educavam da mesma maneira ou tinham a mesma opinião e 21% contaram que havia concordância com o ex- cônjuge, pois este não opinava a respeito.
Com relação às mães que concordavam algumas vezes ou quase nunca/nunca, todas disseram que o pai não estabelecia limites e deixava a criança fazer o que queria, sem se preocupar em educar. Outras 44% citaram ainda que o ex-cônjuge discordava das atitudes da mãe, culpando-a pelo que o filho fez de errado, 44% relataram que o pai era agressivo, impaciente com o filho, 25% não conversavam a respeito e cada um agia de um jeito e 19% achavam que o pai dizia coisas inapropriadas para a criança.
O Gráfico 14 descreve as formas como as mães relataram agir quando discordavam do ex-cônjuge em relação à educação do filho, bem como as reações paternas.
Gráfico 14. Freqüência das categorias que descrevem como as mães agem quando discordam do ex- cônjuge em relação à educação da criança e as reações dos pais.
Conforme o Gráfico 14, diante da discordância com o pai da criança quando o assunto é a educação do filho, as participantes relataram que chamam a atenção, ficam bravas ou
brigam com o ex-marido e, com menor freqüência, disseram que conversam com o ex- cônjuge. As reações paternas parecem variar de acordo com o comportamento das mães, pois
os pais ou não gostam, brigam, são agressivos ou irônicos, ou ficam quietos, entendem, embora esta última categoria tenha sido citada com menor freqüência pelas participantes. A forma como as mães agem e as reações dos pais mostram que, para algumas famílias, ainda há conflitos entre os ex-cônjuges ao tratar da educação dos filhos, embora uma parte das participantes relate haver diálogo nessas situações.