• Nenhum resultado encontrado

Relação Entre Nanotecnologia Molecular e Ciências Forenses

A nanotecnologia surgiu no cenário científico com o objetivo de desenvolver novos materiais e, consequentemente, pro- dutos e processos, a partir da sua capaci- dade de manipular partículas ínfimas como as moléculas e os átomos.

Nanotecnologia é a habilidade de manipular átomos e moléculas individual- mente para produzir materiais nanoestrutu- rados e microobjetos com aplicações no mundo real (Miller, 2005). Ela envolve pro- dução e aplicação em sistemas físicos, quí- micos e biológicos em escalas que variam de um átomo individual a moléculas de cerca de 100 nanômetros, assim como a integração das nanoestruturas resultantes em sistemas mais complexos. A Nanotec-

nologia compreende um conjunto de téc- nicas com aplicações potenciais na maio- ria dos sectores industriais existentes na atualidade e com potencial de ajudar a criar novas indústrias. Espera-se que a Nanotecnologia tenha um profundo impacto na economia e na nossa socieda- de durante o Século XXI, talvez compará- vel à tecnologia da informação ou aos avanços na biologia celular e molecular (Bastos, 2006:4-5).

Estudos nanométricos aplicados nas áreas da medicina, química e genética foram adaptados para a ciência forense, com o intuito, a priori, de analisar evidên- cias criminais em nanoescalas, pois no método convencional restara infrutífero, bem como para possibilitar que outras evi- dências, até então desperdiçadas, fossem captadas e detectadas nos locais de cri- me.

O avanço da nanotecnologia fez que instrumentos usados em outros campos fos- sem adaptados para uso forense. Estes ins- trumentos têm levado a grandes avanços nos últimos anos. A nanotecnologia está começando a ter um impacto sobre a manipulação de provas em cenas de cri- me, a sua análise em laboratório e sua apresentação na sala do tribunal (Weir apud Cardoso, 2009).

A nanotecnologia tornou possível a detecção e apreciação de amostras em nano-escala crítica em casos que, antes, não podiam ser colhidos e analisados por causa da limitação de detecção dos ins- trumentos, tendo sido, essa, uma das prin- cipais contribuições para as ciências foren- ses.

Impressões digitais latentes são marcas deixadas na cena de um crime que podem não ser visíveis a olho nu, de ime- diato. Atualmente, é possível que se recu- pere impressões digitais latentes através das inovações da nanotecnologia. Os dedos das mãos e dos pés são cobertos por uma secreção natural que podem ser alvo de nanopartículas ou pontos quânti- cos criados para revelar a impressão digital

com um maior grau de detalhamento. Ao se revelar uma impressão digital, é necessário que se escolha um agente que cause reações com algumas combina- ções dos componentes. No entanto, não pode haver reação com a superfície onde a impressão está localizada.

Através da utilização de tratamentos químicos que tem como alvo os aminoáci- dos, presentes no suor e encontrados na maioria das impressões digitais, é possível que se identifique impressões secas e fra- cas que não são reveladas por meio das técnicas convencionais. Por isso, a nano- tecnologia consegue revelar característi- cas muito mais detalhadas de traços de aminoácidos de impressões antigas do que os métodos tradicionais.

Cientistas da Universidade de Tecnolo- gia de Sidney, afirmam que o uso da nano- tecnologia para detecção de aminoáci- dos permite a visualização de impressões digitais antigas, secas e desbotadas, não reveladas por técnicas tradicionais. Tal fato permitirá que casos não resolvidos sejam reabertos (Lques citado por Cardoso, 2011).

Há, ainda, uma nova técnica que emprega a micro-fluorescência de raios X, possibilitando a detecção de elementos inorgânicos nas impressões de imagens das impressões digitais latentes. Os pesquisado- res têm por objetivo a detecção de impressões digitais de qualquer época e superfície.

Outra grande contribuição da nano- tecnologia para as provas do processo penal se deu no campo da cronotanatog- nose, ou seja, a estimativa do tempo de morte através da microscopia de força atômica (AFM). Estabelecendo-se a hora da morte, é possível obter dados importan- tes sobre a vítima, como onde andou e com quem poderia ter estado antes de morrer, informações fundamentais na investigação policial.

Essa técnica é um novo instrumento potencial para analisar tanto as células sanguíneas com finalidade forense, quanto

outros tipos de membranas, tecidos e amostras biológicas.

A estimativa do tempo de morte ocor- re através da análise dos fenômenos cadavéricos, vez que podem sofrer influên- cia de fatores como roupas, idade, local, temperatura, etc.

A determinação do tempo de morte através de AFM foi relatada a primeira vez por Cai e Chen que observaram mudan- ças morfológicas em células sanguíneas que surgiam com a progressão do tempo de morte (Chen citado por Cardoso, 2011). É válido ressaltar que a influência da nanotecnologia nas provas do processo penal envolve, não somente a impressão digital, mas também é possível a confec- ção de detectores de agentes químicos e orgânicos, aviões equipados com nano- sensores, entre outros.

Está sendo testado um novo método que emprega substâncias químicas presen- tes em digitais deixadas nos invólucros de bala. Através de um revelador em nanoes- cala e de um raio-X há a possibilidade, mesmo após a limpeza do local, de visuali- zação de impressões gravadas, tornado possível a apreciação de evidências de crimes com armas, o que antes eram impossíveis de serem alcançadas.

Shinde (2010) aborda a utilização de nanotecnologia em análises de rastreio forenses como: identificação de vestígios de explosivos não fragmentados em ata- ques terroristas; análise de pequenas quan- tidades de resíduos de arma de fogo em cenas de crimes; análise de DNA em assas- sinatos e estupros; falsificação de rótulos; identificação de áudio e autenticação de fitas; identificação de novas coberturas de tinta e verniz para encobrir vestígios; uso de feixes de íons para análise de material forense, entre outros (Cardoso, 2010).

A nanotecnologia apresenta-se como um fenómeno que pode influenciar diver- sas áreas, com destaque para as Ciências Forenses. No entanto, Bastos (2006: 25) pontua que “apesar do enorme potencial que tem de revolucionar essas áreas de

conhecimento, ainda não é possível saber de forma concreta como essa transforma- ção se dará”. É neste domínio onde pode- mos encontrar algumas limitações da nanotecnologia molecular.

Considerações Finais

Um local de crime é rico em evidên- cias, e é lá que serão colhidas informações cruciais para o processo penal, no entan- to, muitas vezes os peritos dispõem apenas de uma pequena quantidade de material para realizar a perícia.

É no intuito de contribuir com a perícia e aumentar o seu leque de ferramentas, que a nanotecnologia vem sendo utilizada e desenvolvida. Com ela busca-se obter resultados imprescindíveis para resolução de casos de forma mais rápida, diminuir problemas como a corrupção de amos- tras, além de aumentar a qualidade da análise de vestígios e tornar possível a rea- bertura de casos antigos.

Com as inovações nanotecnológicas passou a ser possível a utilização de evi- dências que antes não serviam como pro- va pericial obtendo-se, assim, provas mais claras e conclusivas. Logo, a nanotecnolo- gia proporciona suporte aos vários campos que a compõe, sendo, assim, um importan- te instrumento para a prática forense.

Documentos relacionados