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Relação entre o iGAM e as variáveis explicativas

CAPÍTULO IV O IMPACTO DE POLÍTICAS DESCENTRALIZADAS:

4.2.2 Relação entre o iGAM e as variáveis explicativas

A análise de regressão múltipla foi utilizada para descrever a relação entre os valores do iGAM calculados para 2009 e 2015 e potenciais variáveis explicativas (Tabela 7). Considerando as variáveis de entrada como uma matriz de variáveis explicativas na regressão para o ano – note que t não se refere a uma série temporal, mas à distinção entre o modelo de regressão múltipla transversal, construído para 2009 e o modelo construído para 2015 – em que uma constante (vetor unitário) é adicionada, formando a matriz , o conjunto de regressões múltiplas a serem calculadas são as seguintes:

^ ⃗⃗⃗⃗

Onde ^ representa o modelo de regressão que considera o índice calculado como regressão e as variáveis de entrada como regressores, com o objetivo de buscar novos

insights em relação ao iGAM com base em variáveis que não estão necessariamente

relacionadas a qualidade ambiental. O modelo de regressão foi estimado utilizando mínimos quadrados generalizados (GLS) para ith fator no ano (2009 ou 2015); ⃗⃗⃗⃗ é o vetor coeficiente da regressão, e é um termo de erro considerado aleatório e parametrizado por uma distribuição normal com uma média de zero e uma variância constante.

4.3 Resultados

No início do processo de descentralização da gestão ambiental em 2009, três fatores explicaram 73,3% da variância total dos dados via sete variáveis (Tabela 8). O fator 1 explicou a maior parte da variância total (29,8%), apresentou as maiores cargas fatoriais com as variáveis pastagem (pastagem) e número de bovinos/hectare (gado) e foi denominado “pecuária”. Fator 2 (24,8% da variância total) consistiu nas variáveis fontes de calor,

vegetação secundária e aumento do desmatamento. A inflamabilidade florestal e o aumento

da vegetação secundária e do desmatamento estão associados ao empobrecimento das florestas e, portanto, estão intimamente relacionados aos aspectos de “degradação florestal”. Finalmente, o fator 3 (18,6% da variância) consistiu nas variáveis regeneração de pastagens e lavouras, o que está associado ao aumento da área de culturas permanentes e temporárias e

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potenciais estágios sucessivos de ocupação da terra na Amazônia, sendo interpretado como relacionado a “produção agrícola".

Tabela 8 - Matriz de componentes rotacionados * para 2009 com os valores de fator de carga e comunalidade

para cada variável, bem como as cargas fatoriais e variâncias explicadas pelos fatores (F).

Variáveis F1 F2 F3 Comunalidade Pastagem 0.961 0.104 0.001 0.935 Gado 0.954 -0.029 -0.058 0.915 Focos de Calor -0.131 0.832 0.158 0.734 Vegetação Secundária 0.342 0.699 0.194 0.643 Incremento do Desmatamento 0.014 0.687 -0.163 0.499

Regeneração com Pastagem -0.047 0.014 0.847 0.721

Lavoura 0.009 0.063 0.826 0.686

Soma de cargas ao quadrado 2.087 1.74 1.305 5.132

Percentual do traço (%) 29.819 24.861 18.644 73.324 * Adequação da amostra: KMO test = 0.53; BST (298.3) = 21; P < 0.0001.

O iGAM calculado para cada município com base nos resultados da AF possibilitou a classificação dos 143 municípios do Pará em ordem decrescente, com as classes representando o desempenho dos municípios em termos de gestão ambiental em 2009 (Figura 5). No início do processo de descentralização, aproximadamente 25,5% (37) dos municípios foram categorizados como tendo boa gestão, 21,7% (31) dos municípios tinham gestão regular, 32,2% (46) dos municípios tinham má gestão e, finalmente, 20,3% (29) dos municípios tinham uma gestão muito ruim.

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Figura 5 - Desempenho municipal de gestão ambiental no Pará, Brasil, no início da descentralização

administrativa em 2009. Os municípios foram classificados com base no iGAM (gestão boa até muito ruim).

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Em 2015, seis anos após a descentralização da gestão ambiental municipal, quatro fatores explicaram 76,4% da variância total dos dados via nove variáveis (Tabela 9). Embora o conjunto chave de fatores tenha alguma semelhança com o modelo de 2009, outros novos fatores, compostos por variáveis adicionais, também foram adicionados para explicar o modelo de 2015. O fator 1 explicou a maior parte da variância total (33,8%) e foi representado pelas variáveis gado, pastagem e desmatamento acumulado, portanto, relacionadas à pecuária e seus efeitos e denominado “pecuária” de acordo. O fator 2 explicou 17,7% da variância e constou das variáveis vegetação secundária, fontes de calor e

regeneração de pastagens. Assim como em 2009, as três variáveis também estão associadas a

ciclos de empobrecimento florestal. No entanto, em 2015, a regeneração das pastagens substituiu o aumento do desmatamento, que, embora ainda relevante, apareceu apenas no 4º fator. Portanto, o Fator 2 também pode ser interpretado como relacionado à “degradação florestal”. O fator 3 explicou 12,9% da variância e consistiu nas variáveis índice de qualidade

de vida e taxa de mortalidade infantil (a última com sinal negativo, indicando que está

inversamente correlacionada com a primeira). Por estar relacionada a trabalho, saúde e educação, essa dimensão foi considerada associada ao “impacto social”. Por fim, o fator 4 explicou 11,9% da variância com maior peso associado a variável incremento do

desmatamento e foi, portanto, denominado “desmatamento”.

Tabela 9 - Matriz de componentes rotacionados * para 2015 com os valores de fator de carga e comunalidade

para cada variável, bem como as cargas fatoriais e variâncias explicadas pelos fatores (F) do modelo de 2015.

Variável F1 F2 F3 F4 Comunalidade Boi 0.956 0.007 0.062 0.054 0.922 Pastagem 0.948 0.12 0.06 -0.019 0.917 Desmatamento Acumulado 0.711 0.341 0.208 -0.076 0.671 Vegetação Secundária 0.153 0.884 0.118 -0.239 0.876 Focos Calor -0.02 0.831 -0.195 0.178 0.760

Regeneração com Pastagem 0.241 0.646 0.163 0.098 0.512

Índice Qualidade de Vida 0.018 -0.027 0.814 -0.03 0.665

Taxa de Mortalidade Infantil -0.179 -0.087 -0.737 -0.064 0.588

Incremento do Desmatamento -0.01 0.044 0.036 0.983 0.970

Soma de cargas ao quadrado 3.05 1.598 1.157 1.074 6.879

Percentual do traço (%) 33.886 17.759 12.857 11.937 76.439 * Adequação da amostra: KMO test = 0.62; BST (497.269) = 36; P < 0.0001.

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Assim como para 2009, o iGAM calculado para cada município com base nos resultados da AF possibilitou o ranking dos 143 municípios do Pará que representam o desempenho da gestão ambiental dos municípios em 2015 (Figura 6). Seis anos após o início do processo de descentralização da gestão ambiental municipal no Pará, aproximadamente 21,7% (31) dos municípios foram categorizados como tendo boa gestão, 37,8% (54) tiveram gestão regular, 26,6% (38) tiveram gestão ruim e 14,0% (20) dos municípios tiveram uma gestão muito ruim.

Considerando os períodos de estudo e os 143 municípios do Pará, aqueles classificados como de boa gestão (25,9% em 2009 e 21,7% em 2015) concentraram-se, principalmente, nas regiões oeste e norte do estado. Os municípios com pior desempenho nos dois períodos (20,3% em 2009 e 14,0% em 2015) concentram-se, principalmente, na região leste do estado.

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Figura 6 - Desempenho municipal de gestão ambiental no Pará, Brasil, em 2015. Os municípios foram

classificados com base no iGAM (gestão boa a muito ruim).

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A relação entre as variáveis iGAM (2009 e 2015) e de entrada (independente) é mostrada na Tabela 10. O iGAM-2009 teve uma relação positiva com as variáveis número de usuários de internet (internet), taxa anual de crescimento populacional e densidade

populacional e uma relação negativa com o número de linhas telefônicas por habitante

(telefonia) e o valor do crédito rural financiado por município. O iGAM-2015 teve uma relação positiva com as variáveis telefonia, densidade populacional e número de áreas

protegidas e uma relação negativa com as variáveis crédito rural, cadastro ambiental rural de propriedades e produto interno bruto municipal (PIBm). Os modelos apresentaram valores

ajustados de R² iguais a 0,80 para 2009 e 0,70 para 2015, confirmando a forte relação entre as variáveis explicativas e o iGAM.

Tabela 10 - Resultados das regressões múltiplas para o iGAM-2009 e iGAM-2015 em relação a variáveis de

entrada significativas.

Variável Y iGAM-2009 t valor iGAM-2015 t valor

INTERCEPTO 0.81354* 2.3539 1.01457** 6,7910

Áreas protegidas 0.38123** 10.6124

Cadastro ambiental rural −0.18579** −3.3568

Crédito rural −0.000167* −2.5849 −9.74364e-05** −3.2010

Densidade 0.00008** 3.9935 0.00004** 3,1772 Imposto estadual Internet 0.28197** 2.9103 PIBm −0.03855** −2,1405 Taxa de crescimento 0.68521** 3.5502 Telefonia −0.03656* −2.1496 0.00231* 2.5307 R²-AJ 0.8 0.7 Teste F F 55.2 30.5 P- VALOR(F) <0.001 <0.01 * p ≤ 0.05; ** p ≤ 0.01 4.4 Discussão