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Relação entre os parâmetros populacionais e os descritores ambientais

4. RESULTADOS

4.7. Relação entre os parâmetros populacionais e os descritores ambientais

ambientais

Na análise da relação entre os parâmetros biológicos e ambientais, podemos notar de imediato, através das figuras 21 e 22, que, no caso dos macroinvertebrados, a influência dos descritores ambientais nos dois primeiros eixos de ordenação é de 50,7%, ao passo que no caso da ictiofauna esta influência é superior traduzindo-se em 68,4%, o que indica que as mesmas variáveis ambientais têm um maior grau de predição destas populações quando comparadas com as bentónicas.

Além disso, e segundo a figura 21, podemos inferir que o fator que mais afeta a composição populacional de macroinvertebrados é o BFEA_Score, ou seja, a sub- pontuação de HQA relativa às características das margens, como o estado de erosão ou estabilização dos taludes, a presença de bermas naturais, e a presença ou ausência de vegetação.

No caso da ictiofauna, como podemos verificar através da figura 22, os fatores mais importantes a considerar são as pontuações totais de HQA e QBR, ou seja a qualidade do habitat e a qualidade das galerias ribeirinhas.

Podemos também inferir que os parâmetros relativos à qualidade da água não demonstraram importância relevante na composição populacional quer dos macroinvertebrados, quer da ictiofauna.

Figura 21: Análise de Redundância (dbRDA) para a comunidade de macroinvertebrados bentónicos relativamente aos fatores ambientais. Foram utilizados os dois primeiros eixos da ordenação, e uma transformação dos dados por Log (X+1), com o coeficiente de similaridade Bray Curtis. Em cada eixo está representada a % de absorvância da variância.

Figura 22: Análise de Redundância (dbRDA) para a comunidade de ictiofauna relativamente aos fatores ambientais. Foram utilizados os dois primeiros eixos da ordenação, e uma transformação dos dados por raíz quadrada, com o coeficiente de similaridade Bray Curtis. Em cada eixo está representada a % de absorvância da variância.

No que toca às análises de Regressões Parciais (PLS), foram obtidas diferenças significativas para as duas espécies-alvo. De facto, no caso do barbo, como podemos verificar na tabela 15, a componente com maior influência na sua abundância é a velocidade. Já no caso da boga, visível na tabela 16, a sua abundância está relacionada com a velocidade, profundidade e cobertura de forma similar, em detrimento do parâmetro substrato. Estes resultados são também comprovados através da análise gráfica de superfícies em 3D realizada, e exposta nas figuras 23 a 26.

Tabela 15: Análise de Regressões Parciais (PLS) para a espécie barbo (Luciobarbus bocagei), de acordo com os dois primeiros eixos da ordenação. É representada em cada componente (eixo), o valor da influência de cada parâmetro na abundância da espécie.

Profundidade Velocidade Substrato Cobertura

Comp 1 -0,333725 0,660064 0,401059 -0,544656

Figura 23: Análise de superfície em 3D, para a averiguar a correspondência entre a abundância do barbo com os parâmetros de velocidade e profundidade dos habitats. A profundidade está representada em cm, a velocidade em m/s e a abundância em número de espécimes.

Figura 24: Análise de superfície em 3D para averiguar a correspondência entre o barbo e com os parâmetros de substrato e cobertura dos habitats. A abundância está representada em número de espécimes.

Tabela 16: Análise de Regressões Parciais (PLS) para a espécie boga (Pseudochondrostoma duriense), de acordo com os dois primeiros eixos da ordenação (Componentes). É representada em cada componente o valor da influência de cada parâmetro na abundância da espécie.

Profundidade Velocidade Substrato Cobertura

Comp 1 -0,582251 -0,603824 -0,593977 -0,165314

Comp 2 -0,386740 0,053260 0,928202 -0,344968

Figura 25: Análise de superfície em 3D, para averiguar a correspondência entre a boga e os parâmetros de velocidade e profundidade dos habitats.A profundidade está representada em cm, a velocidade em m/s e a abundância em número de espécimes.

Figura 26: Análise de superfície em 3D para averiguar a correspondência entre a boga e parâmetros de substrato e cobertura dos habitats.A abundância está representada em número de espécimes.

4.8. Medidas de requalificação para os troços degradados

Após a análise dos dados, procedeu-se ao diagnóstico do Rio Corgo, com o objetivo de propor medidas de requalificação e reabilitação deste ecossistema.

Numa primeira fase, é proposta uma limpeza geral das margens e linha de água, de modo a serem retirados detritos acumulados ao longo de toda a linha de água, mas em maior quantidade no troço urbano da mesma. Estes detritos são constituídos não só por sacos de lixo deliberadamente deixados nas margens ou mesmo no leito do rio, mas também por estruturas metálicas e de betão deixadas após a construção de algumas edificações, como por exemplo a urbanização sita na margem direita do rio, no ponto RH3.

De notar que, para uma melhor qualidade da água, a situação ideal seria também controlar os efluentes de coletores urbanos que desaguam no rio, ao longo de toda a sua extensão e maioritariamente no troço urbano.

Numa segunda fase, são propostas algumas medidas, em concordância com o programa STREAMES, e numa perspetiva de custo/benefício, transpostas na tabela 17.

Tabela 17: Diagnóstico ambiental e medidas de requalificação propostas para cada ponto de amostragem.

Ponto de Amostragem Diagnóstico Medida proposta

RH1 Eutrofização na zona anterior ao açude. Eliminação do açude (ideal) ou construção de passagens para peixes.

RH2 Eutrofização na zona anterior ao açude. Eliminação do açude (ideal) ou construção de passagens para peixes.

RH3 Erosão da margem esquerda.

Correção da inclinação do talude (1:1), utilização de técnicas de engenharia natural para

consolidar a margem e posterior revegetação com espécies autóctones (freixo, amieiros).

RH4 Eutrofização na zona anterior ao açude. Eliminação do açude (ideal) ou construção de passagens para peixes.

RH5 Eutrofização junto à margem esquerda, falha

na continuidade do fluxo do rio.

Eliminação de placa de cimento situada no leito do rio, debaixo da ponte e reposição do

substrato natural do leito.

RH6

Eutrofização, e consequentemente degradação da qualidade da água. Vegetação inexistente

na margem esquerda.

Eliminação do açude (ideal) ou construção de passagens para peixes. Construção de talude inclinado (2:1) com enrocamento e revegetação

com salgueiros após a prévia utilização de técnicas de engenharia natural para consolidar a

margem

RH7 ___________________ ___________________

RH8

Eutrofização evidenciada existência de águas paradas e turvas, e acumulação de detritos na

margem direita.

Limpeza da vegetação na zona de acumulação de detritos.

RH9

Eutrofização evidenciada por águas paradas e turvas, bem como valores elevados de NH4 e

NO3.

Análises e controlos mais frequentes dos efluentes da ETAR.

RH10 Valores elevados de NH

4

, possivelmente devidos à eutrofização.

Revegetação da margem esquerda. Avaliação do funcionamento da ETAR

RH11 Valores elevados de NH

4, possivelmente

devidos à eutrofização.

Revegetação da margem direita. Controle dos efluentes da Adega Cooperativa de Sta. Marta de Penaguião e avaliação do funcionamento da

ETAR desta povoação.

RH12 Valores elevados de NH

4

, possivelmente devidos à eutrofização.

Revegetação da margem esquerda. Controle dos efluentes da Adega Cooperativa de Sta. Marta de Penaguião e avaliação do funcionamento da

Numa fase posterior, propõe-se que sejam implementados programas de educação ambiental de modo a envolver a população no trabalho realizado e promover a sua proteção e valorização (ações entretanto já iniciadas no âmbito do Projeto Seiva Corgo).

De igual modo, programas de educação ambiental incluindo planos de gestão de nutrientes (para minimizar os efeitos de fertilizantes e pesticidas) direcionados para agricultores seriam especialmente importantes nos pontos afetados por agricultura intensiva.

De notar que os planos de ordenamento do território constituem também um fator importante, uma vez que o ideal seria que as edificações permanecessem, tanto quanto possível, longe das margens e leito de cheia, prevenindo assim futuras pressões antropogénicas no leito e vegetação ripária.

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