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Relação entre as pessoas e a natureza

No documento Projeto Político Pedagógico (páginas 84-86)

4   Práticas pedagógicas

4.2  Temas para o trabalho pedagógico no CIEI

4.2.4  Relação entre as pessoas e a natureza

Uma vez que, na BNCC, competência é entendida como mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do exercício da cidadania e do mundo do trabalho, a educação busca afirmar valores e estimular ações que

contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a conservação da natureza. Atividades que focam a relação entre as pessoas e a natureza estão trabalhando também diversas competências, desde o conhecimento da natureza (Competência Geral 1) até o autocuidado e a liberdade de experimentar o corpo nesse ambiente (Competência Geral 8), porque melhora a saúde física e emocional e o bem-estar das pessoas, a

responsabilidade e a cidadania (Competência Geral 10), que tem como fim que o estudante possa tomar decisões baseadas em princípios éticos e sustentáveis. Assim, essas atividades têm impacto no desenvolvimento integral da criança, nas suas múltiplas dimensões.

Diversas pesquisas relacionam a presença da natureza na vida das crianças com seu bem-estar físico, emocional, social e acadêmico. Para medir o impacto negativo da falta da natureza na vida das crianças, Richard Louv, fundador do Movimento Criança e Natureza, cunhou o termo Transtorno do Déficit de Natureza (TDN). Segundo ele, dentre os custos da alienação do homem em relação à natureza, estão: a

diminuição do uso dos sentidos, as dificuldades de atenção e as taxas mais altas de doenças físicas e mentais (LOUV 2016, p.58). Em

contrapartida, muitas pesquisas recentes apontam para os benefícios do contato com a natureza:

[...] o convívio com a natureza na infância, especialmente por meio do brincar livre, ajuda a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e de resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento integral da criança. Isso sem falar nos benefícios mais ligados aos campos da ética e da sensibilidade, como encantamento, empatia, humildade e senso de pertencimento. (BARROS, 2018, p.17)

No cotidiano do ambiente escolar, a inclusão de conhecimentos, saberes e práticas sustentáveis é fundamental, para além da sua inclusão no Projeto Político-Pedagógico. É importante trabalhar a sustentabilidade a partir de

uma abordagem que seja contextualizada na realidade local e estabeleça nexos e vínculos com a sociedade global.

E isso se torna ainda mais proeminente para as escolas sustentáveis, que propõem a constituição dos espaços educativos sustentáveis, articulando seus três pilares (ambiente, currículo e gestão) e buscando o

desenvolvimento integral do sujeito. Com a intencionalidade de educar pelo exemplo e irradiar sua experiência para os arredores, as escolas sustentáveis precisam estruturar seus pilares a partir da vivência cotidiana com a natureza.

Para Louv, o contato com a natureza é tão essencial quanto a boa alimentação e o sono adequado. Segundo Lea Tiriba4, os elementos da

natureza não simbolizam sujeira, doença ou perigo, mas podem

proporcionar liberdade, criatividade, autonomia e solidariedade; brincar na natureza não é uma concessão, mas condição para a existência saudável; dessa forma, brincar na natureza pode ser considerado um direito humano pois corresponde à necessidade de integridade do ser, e se materializaria como acesso ao universo que está para além das paredes e dos muros escolares. Há, ainda, a teoria da biofilia, desenvolvida pelo professor de Harvard Edward O. Wilson, segundo a qual os seres humanos têm atração inata pela natureza e precisa de experiências na natureza para a saúde mental e física5. Essa conexão é, assim, parte da humanidade.

Na educação infantil, o ambiente natural é geralmente entendido como possível cenário de brincadeiras. Porém, dificilmente é visto como lugar fundamental à constituição humana. No Ensino Fundamental e,

posteriormente, no Ensino Médio, o distanciamento da natureza costuma se impor mais e mais. Entretanto, há inúmeras atividades para desenvolver conhecimentos curriculares em contato com a natureza.

É importante para a Educação de Jovens e Adultos trabalhar a percepção e reflexão das questões ambientais e a valorização da natureza. Por

abranger a terceira maior biodiversidade do planeta no território, há a responsabilidade da perpetuação desse legado. Só cuidamos daquilo que

4  No prefácio para o livro “Desemparedamento da infância”, organizado pelo Instituto Alana e Programa Criança e Natureza. Disponível em: < https://criancaenatureza.org.br/ wp-content/uploads/2018/08/Desemparedamento_infancia.pdf >. Acesso em 27 de abr. de 2020.

5  Essa teoria é citada por Richard Louv, em entrevista para a Revista Época, em 2016. Disponível em: < https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/ noticia/2016/06/estamos-sofrendo-o-transtorno-de-deficit-de-natureza.html >. Acesso em: 27 de abr. De 2020.

conhecemos, portanto é fundamental o conhecimento das matas, dos rios, das florestas e da fauna no território. Os saberes locais e o conhecimento acadêmico juntos contribuirão para a conservação do nosso planeta. Essa mudança de atitude deve começar no próprio ambiente de convívio e é fundamental no processo educacional.

Também, para as pessoas com deficiência, é fundamental que sejam incluídas em atividades relacionadas à natureza, tanto em atividades físicas como de contemplação da natureza. Esse contato contribui para a formação de indivíduos com valores sociais, conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas para a conservação e uso sustentável do ambiente e de uma visão holística sobre os espaços da cidade.

Aproveitando a inserção num território com a terceira maior biodiversidade do mundo, a visita aos parques naturais ou o desenvolvimento de atividades nas áreas de proteção ambiental podem proporcionar ricas vivências, reflexões e conhecimentos.

Para saber mais sobre esse tema, alguns importantes materiais de referência são:

Programa Criança e Natureza, iniciativa do Instituto Alana. Disponível em: <https://criancaenatureza.org.br/>.

Acesso em: 27 de abr. de 2020. Vídeo Criança e Natureza.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_GeRQKzMmCM>. Acesso em: 27 de abr. de 2020.

Livro A última criança na natureza, de Richard Louv, 2016, Ed. Aquariana.

No documento Projeto Político Pedagógico (páginas 84-86)