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Relação entre práticas sociais e representações

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CAPÍTULO II – A Perspectiva Psicossocial e a Teoria das Representações

2.2 A Teoria das Representações Sociais

2.2.3 Relação entre práticas sociais e representações

Segundo Campos e Loureiro (2003), as RS, por sua natureza dupla de saber pensado e agido, estão em estreita relação com as práticas sociais desenvolvidas por um dado grupo de sujeitos, em relação a um objeto social específico. Há um conjunto

de crenças, atitudes, comportamentos, opiniões que são apreendidos socialmente, mais que isso, são produzidos coletivamente.

O contexto da produção das RS está presente nos estudos empíricos de duas formas: mediante o estudo de situações sociais complexas (instituições, comunidades, eventos) ou focalizando sujeitos, agentes, atores socialmente definidos (Lemos, 2004).

Abric (2001), partindo de uma hipótese geral - afirmadora de que o sujeito não reage à realidade tal como o experimentador a imagina, mas sim a uma realidade representada, o que quer dizer, apropriada, estruturada, transformada, ressalta o surgimento de duas questões cruciais para o estudo experimental: primeiro, é preciso verificar a validade dessa hipótese, que afirma que os comportamentos dos sujeitos são determinados pela representação de uma situação e não por suas características objetivas, e em segundo lugar, é preciso conhecer como essas representações são organizadas e quais os fatores determinam essa organização.

Segundo Campos (2003), para compreender a natureza das relações possíveis entre práticas e representações, é fundamental retomar, a partir da perspectiva da abordagem estrutural, duas funções da representação, a de orientação e de justificativa. Dessa forma então uma questão teórica importante surge: são as práticas que determinam à ação, ou é o inverso?

Ainda, conforme esse autor, ao falar-se em determinação, apenas existiriam duas possibilidades: as práticas seriam consideradas como variável independente, exercendo uma influência sobre as representações ou, ao contrário, as práticas seriam tomadas como variável dependente. Uma hipótese que surgiria seria a ausência de reciprocidade de influência (um determinado objeto não se constituiria como objeto de representação para um grupo). Outras se constituiriam na direção da relação de

causalidade entre as práticas e as representações, pois, mesmo que as relações entre práticas - concebidas como “sistemas complexos de ação” (Abric, 2001) e representações sejam consideradas como pouco estudadas, existem três linhas de estudos sobre a questão desenvolvidos até hoje, conforme descreve Campos (2003, p.31):

Estudos nos quais as práticas são determinantes na transformação das representações; estudos que consideram que as representações têm um papel determinante na produção de práticas e comportamentos; e finalmente, estudos nos quais considerando-se a complexidade das situações sociais reais, o estudo das representações contribui para a compreensão da situação sem, no entanto permitir a formulação de hipóteses explicativas unidirecionais e inequívocas.

Assim, concebendo as representações como inseridas em processos de construção, de reapropriação da realidade, estas podem ser consideradas como verdadeiras “ações” sobre a realidade. Dito de outro modo, uma representação social possibilita ao indivíduo ou ao grupo dar significados e sentidos aos seus comportamentos e às condutas observadas. No estado atual da teoria das representações sociais vários estudos tem sido desenvolvidos com o objetivo de compreender as relações entre as práticas e as representações sociais.

Alves-Mazzotti (2003) ao estudar a representação dos educadores sociais sobre o modo de vida dos meninos de rua concluiu que esses parecem considerar em muitos aspectos a vida dos meninos de rua melhor do que as que “esses meninos”

tinham na família, como também apontam como o responsável pela existência de meninos de rua o modelo econômico vigente no País. Dessa forma, a solução para o problema seria a substituição do modelo vigente e ao educador cabe a tarefa de “administrar” o dia-a-dia e esperar ou lutar para que as mudanças ocorram. Estes resultados confirmam os achados de Campos e Fávero (1994).

A “representação” dos educadores sobre as alternativas de encaminhamento do problema dos ‘meninos de rua’ parece orientar as práticas da maioria dos educadores. Sendo assim, tal representação parece evidenciar que estes não revelam clareza sobre a complexidade de seu papel, restringindo-se a ações de caráter emergencial, sem referência a um projeto a longo prazo que favoreça a reintegração social das crianças e adolescentes.

Magalhães e Barbosa (2003) no estudo da representação social de psicólogo escolar em estudantes de Psicologia descobriram em linhas gerais que os estudantes apóiam-se em um configuração representacional genérica, ou seja, não revelam clareza do papel do psicólogo escolar, mas percebem que este é um psicólogo que trabalha no contexto educacional.

Partindo desses resultados, observamos que tal representação orienta o comportamento dos alunos, que geralmente tendem a realizar estágio na área de atuação clínica, por ser uma área considerada de maior status e prestígio.

Outro estudo visando compreender as relações entre as representações e as práticas foi desenvolvido por Almeida e Costa (2000) acerca da representação social de “bom” professor.

Um dos principais resultados revelou que a representação social de um grupo de professores da rede pública da cidade de Rondonópolis sobre o “bom professor”

centrou-se em pressupostos pedagógicos tradicionais, que têm o professor como centro do processo ensino e aprendizagem.

Podemos inferir que os professores do presente estudo mesmo tendo passado pela formação do curso de Pedagogia (que tem como um dos objetivos possibilitar mudanças na prática pedagógica), apóiam sua prática “mais” na representação de bom professor do que nos conhecimentos científicos adquiridos.

Com base nos estudos precedentes, propomos no presente estudo conhecer a representação social de trânsito de motoristas e motociclistas, pois, as representações são determinantes de ações, atuando como guias de leitura da realidade, assumindo papel fundamental na dinâmica das relações sociais e nas práticas cotidianas.

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