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2 HISTÓRICO E ORIGENS DA SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL E NO

4.1 Relação entre Seguridade Social, Economia e Estado

Por volta de 1945, e diante da ameaça socialista do início do século, o Estado capitalista teve que se reestruturar, e foi então que em diversos países europeus teve início a construção do Estado de bem-estar social, o Welfare State. (MARQUES, 1997)

Quando a ideia de Estado de bem-estar estava em seu auge, adicionou-se a este alguns elementos da teoria econômica de John Maynard Keynes, utilizando as teses keynesianas da busca do pleno emprego e do endividamento público. Para fins de adaptação no Welfare State foram utilizadas a teoria da determinação da renda global, como explica Celso Furtado (FURTADO, 2000, p. 70, 71):

O núcleo central da teoria keynesiana da determinação de renda global é constituído pelo mecanismo multiplicador. Uma decisão qualquer é capaz de criar um fluxo adicional de renda que dá origem a outras decisões em cadeia. Entre as decisões estratégicas, isto é, aquelas que condicionam o conjunto das demais, destacam-se as dos inversionistas. Cabe determinar a capacidade média de propagação de uma decisão estratégica ou motriz, o que vem a ser a teoria do multiplicador. A principal limitação com que se depara na propagação (até que seja alcançado o pleno emprego) é criada pela tendência da massa de consumidores a poupar uma parte da renda que chega as suas mãos. Dentro de certos limites amplos, pois influenciados por elementos subjetivos, os agentes inversionistas são livres para tomar decisões. Estas pões em andamento outras que se encarregam de restabelecer – mediante elevação do nível de renda – a igualdade entre poupança e investimento. (...) Partindo da observação de que a certo nível de capacidade produtiva podem corresponder diferentes níveis de emprego e renda, superado certo nível mínimo de renda, tende a distribuir esta entre consumo e poupança de forma relativamente estável. Conhecida esta relação, torna-se possível determinar as repercussões de uma decisão qualquer de investimento. Sabemos que todo investimento novo dá lugar a um fluxo de renda, porquanto toda equação de produção apresentada como equação de custos toma a forma de pagamento a fatores de produção. Esse primeiro fluxo de renda vai ser consumido ou poupado, de acordo com relação anteriormente referida. A parte efetivamente consumida dará lugar a novo fluxo de renda, sob a forma de pagamento de fatores, abrindo-se novo circuito de consumo e poupança.

Desde o início, no entanto, havia quem refutasse essa modalidade de Estado. Essa crítica se acentuou principalmente ao final dos anos 1970, quando a situação econômica dos países centrais debilitava as contas públicas. As críticas eram ou de natureza econômica, porque o Estado do Bem-Estar Social era oneroso especialmente para as empresas, que estariam

sofrendo com os custos e os impostos em um quadro recessivo ou de fraco crescimento, (CLAUS OFFE, 1995, p. 172) ou de natureza social, sob o argumento de que o Estado de Bem- Estar Social não estaria agradando nem aos empresários, pela oneração, nem aos trabalhadores, porque não conseguia saciar todos os seus desejos, conforme relata (NORBERTO BOBBIO, 1989, p. 94):

La democracia social pretende ser, respecto a la democracia liberal, una fase superior en cuanto incluyó en su declaración de derechos los derechos sociales además de los de libertad; en cambio, con respecto a la democracia socialista sólo pretende ser una primera fase. Esta ambigüedad se revela en la doble crítica que recibe: desde la derecha, por parte del liberalismo intransigente, que vislumbra en ella una merma de las libertades individuales; desde la izquierda, por parte de los socialistas impacientes, que la condenan como una solución negociada entre lo viejo y lo nuevo que, más que favorecer la realización del socialismo, lo obstaculiza e incluso lo hace imposible.

Houve ainda críticas de natureza política, pois a construção do Welfare State implicou a necessidade de acordos entre as classes, entre sindicatos de trabalhadores e de empregados, o que poderia fazer com que se perdesse a ‘utilidade’ destes interlocutores; e ainda houve críticas de natureza moral, sob o argumento de que os homens não se esforçam para melhorar as suas condições de vida aproveitando-se das condições do Estado de Bem-Estar Social. Para Offe, a ausência de responsabilidade da sociedade destruiria sua força moral, sendo seus efeitos refletidos na eficiência econômica e produtividade do próprio Estado, que não atenderia às infinitas demandas (CLAUS OFFE, 1995, p. 271)

Registre-se que, no caso específico do Brasil, este não chegou a gozar de uma estrutura semelhante a do Estado de Bem-Estar Social europeu. Salienta (MARQUES,1997 p.18) que:

"O crescimento do emprego, junto ao setor de serviço, foi incapaz de gerar massa salarial correspondente à queda observada junto aos demais setores, particularmente na indústria. Esse fato, somado ao crescimento da demanda por benefícios, principalmente àquela derivada de desemprego, aprofundou a fragilidade financeira que os sistemas de proteção social já vinham apresentando. De fato, o crescimento anterior da despesa com saúde e aposentadoria, bem como a queda da relação contribuintes/Segurados (provocada pelo envelhecimento da população e pela maturidade dos sistemas), já colocavam dificuldades para a maioria dos sistemas europeus."

No quadro atual, largamente desfavorável à classe trabalhadora, acumulam-se os indícios de mudanças radicais no sistema de proteção social, sinalizadas, em particular, pela discussão corrente sobre a viabilidade ou eficácia da permanência desse sistema.

A relação entre Economia, Seguridade Social e Estado é cada vez mais entrelaçada, e para se compreender a função exercida pela Seguridade Social em determinado Estado, faz-se necessário se determinar o modelo econômico adotado por este último.

Os investimentos sociais, tais como qualquer investimento, têm um impacto multiplicador na renda. E ao propiciarem a elevação da produção e da circulação de bens e serviços, resultam em aumento da arrecadação, e uma parcela considerável dos recursos públicos aplicados retorna ao próprio Estado, por meio de impostos e contribuições. Esse retorno nunca é considerado por aqueles que consideram um desperdício tais gastos públicos. O debate distorcido caracteriza a Previdência Social como o mais preocupante dos problemas das contas públicas, obstáculo à recuperação do salário mínimo e a sua elevação a um patamar de dignidade prevista constitucionalmente. Esquecem-se, no entanto, de fazer as contas do que significa a transferência de renda oriunda das aposentadorias – ou no caso do presente estudo – do aumento do valor das aposentadorias em razão da Desaposentação e o que significará para a economia o aumento da renda de todos os trabalhadores aposentados que continuam no mercado de trabalho que podem ter suas aposentadorias recalculadas. Essa renda retornará, dentre outras formas, sob a forma de consumo para a economia, estimulando o crescimento da indústria, do emprego, do consumo das famílias, e este impacto jamais fora calculado, mas merece ser, pois se os programas sociais e as aposentadorias provocaram um efeito multiplicador na economia, por certo que pelas mesmas razões a Desaposentação também o fará, e assim sendo, o impacto não pode ser calculado apenas pelo lado negativo, - dos gastos do governo -, e sim, e principalmente, pelo impacto positivo na economia, pois a população que mais consome estará em condições de consumir mais, gerando riquezas, pagando impostos que automaticamente retornarão ao Estado.