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CAPÍTULO III O Processo de Ensino-aprendizagem no ES

Estudo 1 Caracterização dos estudantes M23 da Universidade do Algarve

2. Análise global dos resultados das entrevistas

2.3 Relação Escola-Trabalho-Família

Na Tabela 12 apresentamos a categoria “Relação Escola-Trabalho-Família” e as respetivas subcategorias e indicadores em que se encontram desagregadas.

A presente categoria permite-nos compreender em que me medida as esferas familiar e profissional afetam positiva ou negativamente a frequência do ES. Uma vez

158 41% 59% Relação Trabalho-ES Relação Trabalho- Família-ES

que o trabalho e a família constituem duas componentes importantes na vida dos indivíduos, importa clarificar os argumentos e as estratégias a que os entrevistados recorrem no sentido de conciliarem estas duas dimensões da vida, com as obrigações e tarefas académicas exigidas pelo mundo académico.

Tabela 12.

Categoria de análise “Escola-Trabalho-Família”, subcategorias e indicadores

Nesta tabela estão patentes ainda os respetivos indicadores referentes e analisados em cada uma das subcategorias, que iremos apresentar em seguida. A figura 27 ilustra a distribuição percentual em função da contagem das subcategorias encontradas na análise da categoria “Relação Escola-Trabalho-Família”.

Figura 27. Percentagem de referências por subcategoria de análise na categoria “Relação Escola, Trabalho e Família”

Categoria Subcategorias Indicadores

Relação Escola, Trabalho e Família

Relação Trabalho e ES Aspetos positivos Aspetos negativos

Mudanças ocorridas no contexto de trabalho Relação Trabalho, Família

e ES

Relação ES – Cônjuge Relação ES – Filhos

Relação ES – Outros familiares Gestão das tarefas domésticas

159

4

6

7

Aspetos positivos Aspetos negativos Mudanças ocorridas no contexto de trabalho

Ao debruçarmo-nos sobre o gráfico acima representado verificamos que 59% das referências incidem sobre a relação Trabalho-Família-ES, e 41% das referências enunciam a Relação Trabalho/ES, configurando, desta forma, uma distribuição equilibrada, em termos percentuais. De seguida, iremos apresentar e analisar cada uma das subcategorias.

2.3.1 Relação Trabalho- Família e Ensino Superior

Na Figura 28 observamos que para além dos aspetos positivos e negativos identificados na subcategoria “Relação Trabalho-ES”, com 4 e 6 unidades de sentido, respetivamente, também é possível identificar algumas “mudanças ocorridas dentro do contexto de trabalho”.

Figura 28. Relação Trabalho - ES: frequência por unidades de sentido

A vida profissional é um eixo central, um dos mais presentes e importantes na vida adulta das pessoas. Consubstancia, em primeira instância, a subsistência do indivíduo, favorece a auto estima e amplia o leque de possibilidades de desenvolvimento pessoal, social, formativo e profissional. É durante este período de tempo (que compreende a vida produtiva ou ativa de uma pessoa), e através do desempenho de uma profissão/carreira, que nos sentimos úteis, válidos e reconhecidos. Não obstante os ganhos conquistados (pessoais, materiais e os conhecimentos que vamos adquirindo), é também neste período que perdemos muitas outras coisas, como o tempo que não investimos em nós e no conhecimento.

160 8 4 4 8 Relação ES- cônjuge Relação ES- filhos Relação ES- Outros familiares Gestão das tarefas domésticas

Conseguir articular os contextos da família e do trabalho com o ES, duas esferas interdependentes, não é tarefa fácil. Para que se possa conseguir um desempenho eficaz em ambas as dimensões (trabalho e família), é necessário tempo, energia e envolvimento por parte dos indivíduos. O empenho e a dedicação dos estudantes maiores de 23 anos foram alguns dos aspetos mencionados pelos nossos entrevistados. Entre outros “aspetos positivos”, destacam-se os seguintes aspetos: a possibilidade de usufruírem do estatuto de trabalhador-estudante e, ainda, o forte incentivo da entidade patronal na aposta da educação dos seus trabalhadores.

Sobre os “aspetos negativos” grande parte das dificuldades que os sujeitos entrevistados relacionam-se com a conciliação e harmonização destas esferas da vida.

2.3.2 Relação Trabalho, Família e ES

Através da Figura 29 conseguimos observar a distribuição das diversas unidades de sentido no que se reporta a variáveis específicas ligadas à dimensão Relação Trabalho – Família - ES. Estas remetem para a relação do estudante adulto com o cônjuge; relação ES e os filhos; Relação ES e outros familiares, e ainda, a capacidade de gerirem o estudo com as tarefas domésticas. Tanto na Relação com o cônjuge como na Gestão das tarefas domésticas, foram apurados 8 unidades de sentido, e para a relação entre ES – filhos e ES- outros familiares, 4 unidades de sentido, respetivamente.

Figura 29. Relação Trabalho, Família e ES: frequência por unidades de sentido

A sociedade contemporânea é cada vez mais exigente relativamente a estes domínios e, independentemente de dimensões de análise como o género, o trabalho e/ou

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a família, estes estão irremediavelmente interligados. Este pressuposto é contrário ao modelo de carreira, que se baseava no pressuposto de que o homem era o “chefe de família” e que a mulher era a “fada do lar”. Os problemas entre a vida familiar e a vida profissional eram praticamente inexistentes ou ignorados, já que o casamento, e o nascimento dos filhos, eram tidos como essenciais para a responsabilidade e a estabilidade pessoal de um profissional.

Contudo, vivemos numa sociedade em que as dinâmicas e as mutações sociais se desenvolvem a uma grande velocidade, e onde o “aprender” se tornou um bem essencial à vida do ser humano. Neste sentido, as dimensões sociais do trabalho e da família, aliadas à responsabilidade de desempenharem um bom papel enquanto estudantes universitários, representam um enorme desafio na vida dos M23. A tomada de decisão para regressar aos “bancos de escola” requer um plano de avaliação, onde entram em “jogo” dimensões e variáveis importantes, relacionadas com o campo do trabalho ou da família.

No caso dos estudantes M23, a realização profissional e o desejo de se tornarem especializados numa determinada atividade profissional no qual já detém algum orgulho e satisfação são fatores determinantes que potenciam a decisão de ingressar no Ensino Superior. Segundo Adams et al. (1996, citado em Lerner, 2009), existe uma forte correlação entre as dimensões do trabalho e da família, produzindo, assim, efeitos benéficos e satisfatórios no local de trabalho e também na relação com a sua vida conjugal. De igual modo, as mesmas investigações demonstraram que o elevado nível de envolvimento por parte do adulto trabalhador pode também gerar situações de conflito e falta de suporte emocional, dentro do seio familiar. Contudo, as referências apuradas na categoria “Relação ES-cônjuge” apontam para um cenário animador, pela forte presença de um espírito de entreajuda entre os entrevistados e as respetivas famílias.

No que se refere à subcategoria “Gestão das tarefas domésticas” importa sublinhar dois aspetos importantes detetados no discurso dos entrevistados, sobretudo nas mulheres. Os excertos apurados apontam m dois sentidos: a necessidade de execução e de partilha das tarefas domésticas com o apoio do marido, e ainda, o espírito de sacrifício, esforço e empenho em conciliarem a vida pessoal (familiar e profissional) com a recente vida académica.

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