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Em relação especificamente à população carcerária, o confinamento em celas ou outros espaços superlotados, sem

TEMPORÁRIAS COMO UMA MEDIDA SALUTAR DIANTE DO PRESENTE CONTEXTO, ISSO PORQUE, COMO JÁ APONTAMOS, A DIMINUIÇÃO, AINDA QUE TEMPORÁRIA,

1.5 Em relação especificamente à população carcerária, o confinamento em celas ou outros espaços superlotados, sem

ventilação, e com precárias condições de higiene torna as pessoas

privadas de liberdade extremamente vulneráveis à infecção. Esse

tipo de ambiente fica rapidamente contaminados. Por isso, medidas

para reduzir o número de pessoas presas têm sido adotadas por vários países como forma de evitar o agravamento desta crise de saúde coletiva. O vírus é altamente infecioso, passando de pessoa para pessoa com muita rapidez.23

Sendo assim, para que esta ação não seja a ​crônica de uma tragédia anunciada que acometerá a população prisional e os agentes do sistema penitenciário, se faz urgente permitir que o máximo de pessoas possível sejam colocadas fora dos cárceres dentro do atual contexto.

Medidas de redução do aprisionamento são necessárias ao resguardo não apenas da saúde das pessoas presas, o que já seria motivo mais do que suficiente para adotá-las, tendo impactos benéficos na defesa da saúde pública de toda a coletividade, mas também por outros dois motivos.

O primeiro diz respeito ao perigo de que o avanço do contágio dentro das unidades prisionais as transforme em um obstáculo no combate à pandemia em todo o país. As situações de insalubridade descritas anteriormente dão todas as condições para que esses locais se transformem em verdadeiros “criadouros” do novo coronavírus, podendo vir a se tornar, com o tempo, importantes focos de disseminação caso não sejam tomadas medidas para mitigar essa situação.

Importante destacar que esse é o caso hoje enfrentado diante da ​tuberculose (conhecida como “TB” nos presídios). Doença infecciosa gravíssima e altamente letal, a tuberculose permanece como um problema entre as faixas da população que não têm acesso às condições necessárias para o seu combate, com destaque para a ​população prisional, acometida por mais de 10% dos casos no Brasil24​. Diante disso, o combate à doença passa necessariamente pelo combate às condições que fazem das prisões um

23 Disponível em: http://ibccrim.org.br/media/documentos/doc-03-04-2020-21-08-45-553996.pdf.

Acesso em 24/07/2020, às 16h40min.

24 Disponível em:

https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/projeto-da-fiocruz-busca-reduzir-tuberculose-nas-prisoes/. Acesso em 24/07/2020, às 12h08min.

lugar privilegiado para sua disseminação, sendo esse um fator imprescindível para sua erradicação.

Em que pese a situação de privação de liberdade dos custodiados, as unidades prisionais têm diversos vasos comunicantes com o restante da sociedade. Entrada e saída de funcionários, prestadores de serviço, fornecedores e objetos das mais variadas naturezas são apenas alguns dos exemplos que demonstram ser impossível manter o sistema carcerário completamente isolado, ou seja, todos estão em risco como as pessoas presas, os funcionários do sistema penitenciários, as forças de segurança, os integrantes do sistema de justiça, como juízes/as, promotores/as e defensores que trabalham em unidades prisionais, assim como os familiares de todas essas pessoas.

Sendo assim, NÃO HÁ OUTRO CAMINHO POSSÍVEL que não seja tomar todas as medidas legais, constitucionais e necessárias, desde já, para evitar que as unidades prisionais se transformem em epicentros do contágio pelo vírus. Sendo a superlotação um dos principais dados que colaboram para isso, se fazem necessárias todas as medidas possíveis para mitigar esse quadro. É o que aponta artigo publicado nos Estados Unidos médicos e pesquisadores da Universidade Brown e da Universidade da Califórnia​25​.

Por outro lado, o ​COVID-19 apresenta um potencial elevado de necessidade de internação, em muitos casos necessitando de tratamento intensivo em unidades de UTI e utilização de equipamentos como os respiradores, hoje em falta em todo o país ​,​26 por conta das graves complicações respiratórias por ela causadas. Por isso, uma das grandes preocupações relacionadas ao avanço da doença reside em evitar que um grande número de pessoas seja acometido pela doença ao

25 Disponível em:

https://www.washingtonpost.com/opinions/2020/03/17/we-must-release-prisoners-lessen-spread-cor onavirus/. Acesso em 24/07/2020, às 12h08min.

26 Disponível em:

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/04/06/governos-e-hospitais-correm-contra-o -tempo-em-busca-de-respiradores.htm. Acesso em 24/07/2020, às 12h09min.

mesmo tempo, um desafio diante da facilidade com que o vírus é disseminado, conforme aponta o Ministério da Saúde em um de seus boletins epidemiológicos:

As medidas de distanciamento social visam, principalmente, reduzir a velocidade da transmissão do vírus. Ela não impede a transmissão. No entanto, a transmissão ocorrerá de modo controlado em pequenos grupos (“clusters”) intradomiciliares. Com isso, o sistema de saúde terá tempo para reforçar a estrutura com equipamentos (respiradores, EPI e testes laboratoriais) e recursos humanos capacitados (médicos clínicos e intensivistas, enfermeiros, fisioterapeutas, bioquímicos, biomédicos, epidemiologistas etc.).27

Caso a doença se espalhe sem que haja o controle, teremos um colapso do sistema de saúde por conta da falta de leitos de UTI e de outros recursos necessários. Com isso, ​a letalidade aumentará não apenas dentre os acometidos pelo novo coronavírus, mas também entre aqueles que apresentarem complicações por conta de outras doenças e que não terão acesso aos recursos necessários para o seu tratamento​.

Um​estudo de grande impacto liderado pelo epidemiologista Neil Ferguson, do Imperial College de Londres, determinante para definir a política de combate à pandemia no ​Reino Unido​28​, trouxe resultados que demonstram eloquentemente esse quadro. De acordo com a modelagem estatística realizada, mesmo com estratégias de contenção de médio impacto que combinem auto isolamento daqueles que tiverem condições de fazê-lo e quarentena para idosos e doentes, ​o número de casos graves superaria em oito vezes a capacidade de atendimento dos sistemas de saúde do Reino Unido e dos Estados Unidos, podendo levar até a 250 mil mortes no primeiro e mais de um milhão no segundo29.

27 Disponível em:

https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/06/2020-04-06-BE7-Boletim-Especial-do-COE-Atuali zacao-da-Avaliacao-de-Risco.pdf. Acesso em 24/07/2020, às 12h09min.

28 Disponível em:

https://oglobo.globo.com/sociedade/estudo-que-previu-meio-milhao-de-mortes-no-reino-unido-fez-gove rno-mudar-de-posicao-sobre-coronavirus-24310244. Acesso em 24/07/2020, às 12h09min.

29 Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/so-medidas-drasticas-evitam-caos-na-saude- e-mortes-diz-estudo.shtml. Acesso em 24/07/2020, às 12h09min.

Diante disso, as medidas legais e constitucionais de cuidado para que as unidades prisionais não se tornem centros de disseminação da doença ganham ainda mais relevo. Uma vez que o vírus entre nesses locais, a tendência é que o contágio se espalhe de maneira extremamente rápida, muito por conta da superlotação das celas. Assim, quando os doentes começarem a apresentar complicações, situação de risco para muitos por conta das condições insalubres de aprisionamento, ​haverá um número grande de pessoas necessitando de cuidados intensivos em equipamentos de saúde de uma mesma região, contribuindo sobremaneira para que ocorra o colapso do sistema de saúde que hoje se tenta evitar​.

Sendo assim, seja pela necessidade de se ​garantir todos os dias não gozados de saída temporária de 2020​, seja pela inegável necessidade de se prorrogar a saída temporária como única​forma de enfrentar adequadamente a pandemia nos presídios, o ato coator deve ser anulado no ponto que estabelece o retorno para o dia 05 de janeiro de 2020.

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