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Foto 6 – Quadro de madeira (25x25 cm) para avaliação de plantas espontâneas

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.6. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

2.6.2. Relação inseto/planta

Os agroecossistemas naturais são ambientes equilibrados, onde todos os componentes da cadeia alimentar possuem uma função específica, exercida para garantir o equilíbrio da comunidade. Quanto mais distante um agroecossistema estiver de um modelo de ecossistema natural, quanto mais homogêneos, maior será sua tendência ao desequilíbrio. Essa é uma das razões pela qual as monoculturas são mais suscetíveis às pragas: porque existe uma desproporção entre a população de espécies- praga e seus inimigos naturais, causada pela grande oferta de um só alimento (HENZ et al, 2007). Os autores afirmam ainda que a retirada da vegetação nativa e o uso frequente de agrotóxicos são exemplos de situações que causam desequilíbrio: elas reduzem a diversidade das espécies na área e favorecem o desenvolvimento de outras que, no decorrer do tempo, terão sua população adensada de forma exponencial, até que também se tornem pragas.

De acordo com Souza e Resende (2006) existem duas principais teorias, não excludentes, que buscam explicar a menor incidência de insetos herbívoros em ambientes agrícolas mais diversificados (policultivos). A primeira delas, a Teoria dos Inimigos Naturais, defende que os inimigos naturais (predadores e parasitóides) são

mais abundantes em policultivos devido: à maior disponibilidade de pólen e néctar no ambiente, o que complementa suas necessidades alimentares, tornando-os mais eficientes na supressão das populações de herbívoros; às temperaturas mais amenas e estáveis e à maior umidade relativa, já que são pouco resistentes à perda de água; à maior diversidade de presas e hospedeiros; à maior movimentação dos herbívoros em busca de alimentos, o que os torna mais vulneráveis ao parasitismo e à predação. A segunda delas, ainda de acordo com os autores, trata da Teoria da Concentração de Recursos, que atesta que os herbívoros, por encontrarem com mais facilidade seus hospedeiros (plantas) em ambientes onde estes estejam mais adensados, permanecem por mais tempo na área. Por outro lado, a diversificação de culturas em um sistema de produção dificulta o acesso dos herbívoros ao alimento e abrigo adequados. Afinal de contas, a eficiência de todos os seus mecanismos de localização do hospedeiro (identificação pela textura, cor ou sinais químicos, como alomônios) estão comprometidos pela heterogeneidade do ambiente.

Henz et al (2007) complementam que o manejo adequado do ambiente, favorecendo a biodiversidade e o correto balanço nutricional das culturas, é fundamental para se atingir equilíbrio populacional entre as espécies. Citam a Teoria da Trofobiose (trofo = alimento; biose = existência de vida), publicada em 1980 pelo pesquisador francês Francis Chaboussou, e que se tornou o princípio básico da agricultura orgânica. Segundo Penteado (2004), a teoria afirma que uma planta em bom estado nutricional, quando não há excesso de adubação, principalmente com o uso de adubos minerais solúveis, torna-se resistente ao ataque de pragas e doenças. Logo, a presença de herbívoros não é a causa principal do ataque às plantas, mas sim os desequilíbrios nutricional e metabólico, agravados pelo uso de agrotóxicos, que as deixam mais vulneráveis.

Segundo New (2002), as fêmeas da maioria dos insetos são as responsáveis pela localização de um hospedeiro que lhes proporcione abrigo seguro para ovoposição e posterior alimentação dos seus filhotes. Por isso, a decisão da mãe é determinante para o sucesso ou o fracasso do desenvolvimento larval. De uma maneira geral, a escolha do hospedeiro pelo inseto segue uma equação simples: o inseto permanece na área onde a oferta de comida é farta ou vai embora se ela for pobre. Portanto, o estudo das interações fisiológicas e químicas do inseto com o meio é fundamental para entender seus mecanismos de escolha do hospedeiro. Campos et al (2011) afirmam que a interação entre a planta e seus patógenos é consequência do relacionamento

coevolucionário entre eles e a resistência da planta, sendo a patogenicidade do patógeno o resultado dessa interação. Afirmam que essa interação é:

"...íntima (genética, gene a gene); complexa (ativação de reações bioquímicas em cascatas, acúmulo de proteínas de defesa e mudanças citológicas e morfológicas na planta) e antiga (desde a evolução das plantas na terra). Numa batalha coevolutiva, plantas respondem ao ataque de patógenos e pragas, fazendo uso de mecanismos efetivos de resistência a doenças." (CAMPOS et al, 2011).

Da parte do inseto, essas interações acontecem por meio de todas as suas habilidades sensoriais: olfato, paladar, visão e tato (NEW, 2002). De acordo com o autor, quando o alvo é examinado, o organismo da praga interpreta se ele é propício ou não ao fornecimento de alimentos e oviposição.

A planta, quando atacada, aciona seus mecanismos de defesa no momento em que reconhece a agressão. Se o reconhecimento for rápido, pode haver uma indução de resistência eficiente contra doenças e ferimentos, impedindo que eles se alastrem, e prevenindo a planta quanto a agressões posteriores (CAMPOS et al, 2011). Os autores alertam que um reconhecimento tardio pode resultar em uma resistência induzida tardia, ou seja, após a instalação do patógeno, mas ainda assim estimular a síntese de compostos elicitores, o que pode prevenir a planta contra futuras infecções.

De acordo com Souza e Resende (2006), do ponto de vista do ambiente, quando ocorre derrubada da área nativa a ser cultivada, forma-se também um ambiente propício à colonização por novos patógenos. Para New (2002), por outro lado, a introdução de fatores excitantes ou inibidores nesse meio vai influenciar a escolha da praga. Essa manipulação de fatores positivos e negativos é conhecida como modelo ‘rolling- fulcrum’, estímulos que podem ser tanto na modificação dos arranjos dos canteiros, adotando-se o consórcio com plantas que não sejam atrativas para as pragas, quanto com a utilização de feromônios e outros voláteis. Souza e Resende (2006) complementam com outras formas de se dificultar essa dispersão: a criação de barreiras de ambiente inóspito, como cercas vivas, faixas de leguminosas ou de vegetação nativa e áreas de pousio avançado.

Para New (2002), um exemplo da eficiência da combinação de estratégias ocorre com a chamada mosca da cebola: em ensaios no laboratório, os estímulos visuais e químicos separados resultaram em redução da oviposição de apenas 2,8%. O autor afirma, porém, que quando combinados, o índice sobe para 78%.

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