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A RELAÇÃO PROFISSIONAL COM A GESTANTE PORTADORA DE DHEG VALORIZA OS ASPECTOS CLÍNICOS, ABORDANDO-OS DE FORMA OBJETIVA

E IMPESSOAL

[...] É só a gente fazer tudo que o médico mandar, né? [...] Aí o médico falava: menina, você não chora não, porque senão sua pressão vai subir mais ainda. E eu não conseguia me controlar, né?

(Roseânia)

[...] Então me assustou, principalmente quando o médico me disse que

corria risco de vida, eu e o bebê. (Beatriz)

[...] Já tôu seguindo as orientações do médico, tá bem melhor agora.

(Guaciara)

Nessa unidade, onde se aborda a relação objetiva e impessoal da(o) profissional de saúde com a mulher portadora de DHEG, Martins (2001) expõe que a(o) profissional de saúde que desenvolve atividade assistencial, além das ações e procedimentos técnicos ligados a sua área específica, estabelece sempre, com as pessoas que atende, relações interpessoais. Seu trabalho, portanto, é de qualidade técnica e qualidade interacional.

Refere ainda que é de fundamental importância que a(o) profissional de saúde incorpore o aprendizado e o aprimoramento dos aspectos interpessoais da tarefa assistencial, que desenvolva a sensibilidade para conhecer a realidade da cliente, ouvir suas queixas e, junto com ela, encontrar estratégias que facilitem a aceitação e compreensão da doença, contribuindo para a adaptação ou modificações que, porventura, tenha que fazer por conta de seu problema de saúde.

As reflexões sobre a tarefa assistencial conduzem também ao campo ético. A questão ética surge quando alguém se preocupa com as conseqüências que sua conduta tem sobre o outro e, para que haja preocupação ética é preciso perceber o outro (MARTINS, 2001).

Foi desvelado, na atitude objetiva e impessoal da(o) profissional de saúde, que as mulheres eram abordadas como pessoas que deveriam seguir orientações, ter controle emocional e saber dos riscos de vida que corriam. Então, quando perguntado sobre o risco da DHEG, respondiam:

[...] Eu acho que o risco [...] “Num” tem risco nenhum né? É só a gente fazer tudo que o médico mandar, “né”? (Roseânia)

[...] Fico nervosa assim [...] pensando [...] Será que vai acontecer algum problema na hora do parto? (Francisca)

Compreendi que as mulheres não conhecem, de forma clara, o risco de vida por ter a DHEG e vivem em constante incerteza, fruto talvez da deficiência na relação cliente/profissional que deveria, conforme Capella e Leopardi (1999), levar em conta o ser humano em suas dimensões que se constituem de modo indivisível e integrado e não apenas considerar o aspecto biológico e a doença.

Reforçam estas autoras que é necessário ver o ser humano como ele se apresenta, através de um contato integral, interessando-se tanto pelo que a competência técnica possibilita, como o que a sensibilidade apreende, porque este ser é histórico, é pensante e traz consigo a concepção de totalidade humana que vai muito além da matéria biológica.

Oliveira et al. (2003) comungam a idéia de que o modelo médico-clínico deve ser somado ao modelo psicológico de atenção à saúde, que focaliza o crescimento e o desenvolvimento do ser humano, fazendo com que as(os) profissionais de saúde possam

respeitar a subjetividade e singularidade dos seres humanos envolvidos na gestação, no parto e no nascimento, buscando, inclusive, compreender a experiência vivida pela mulher.

Defendem que, na relação sujeito profissional e sujeito cliente, é possível conhecer a mulher na sua individualidade singular, favorecendo, dessa forma, o respeito ao momento vivenciado por ela, desencadeando a possibilidade dessa mulher sentir-se mais segura quanto à evolução da DHEG e, consequentemente, ter mais tranqüilidade para estabelecer um diálogo, já que estar-com pode-se dar não apenas pelos procedimentos técnicos, mas por uma conduta de escuta, por um olhar compreensivo, para que a mulher se sinta confortável numa relação em que haja valorização dos seus anseios, temores e dúvidas na vivência da gestação portando a DHEG.

Para Heidegger (1981, p. 39-40), o nosso modo de proceder com os entes envolventes dentro do mundo é chamado de “cuidar” e, ontologicamente, há uma distinção essencial entre o modo indiferente no qual as coisas acontecem juntas, ao acaso e o modo pelo qual os entes que são com-os-outros não se interessam por eles.

Assim, o cuidar em relação aos seus modos, tem dois extremos possíveis: pode-se, por assim dizer, tomar “conta” do outro, ou colocar-se em sua posição de cuidar; pode-se “saltar sobre o outro”.

Esse modo de cuidar em que se “salta sobre o outro”, é o que assume o encargo que é do outro de cuidar de si mesmo. O outro é lançado fora de seu próprio lugar. Em tal solicitude, o outro pode tornar-se alguém que é dominado e dependente, mesmo que essa dominação seja por ele tácita, ou permaneça oculta.

Esse modo de solicitude, que consiste em “saltar sobre o outro” e em tomar conta dele e por ele, é um vasto âmbito determinativo de ser-com-os-outros e, em geral, pertence ao nosso cuidar dos entes-envolventes.

solicitude, que não consiste em “saltar sobre o outro, mas em se antecipar a ele em sua existencial possibilidade-para-ser”. Um modo em que não se protege o outro, mas em que, antes disso, faz-se com que ele se volte para si mesmo autenticamente.

Este modo pertence essencialmente ao “autêntico” cuidar – isto é, para com a existência do outro e não para um “o quê” ele cuida, ele salva o outro para torná-lo transparente a si mesmo em seu cuidar, para torná-lo livre para si.

Coerente com essas idéias, este estudo revela que devemos evoluir para um cuidado autêntico com a mulher com DHEG, levando-a à possibilidade-para-ser, ou seja, chegar a compreensão de que a relação entre profissional de saúde e cliente deve levar a mulher a ser condutora de sua vida e sua saúde.

A MATERNIDADE É VIVIDA PELA GESTANTE COMO ALGO IMPORTANTE E