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3.4 Divergências e convergências nos discursos

3.4.4 Relação Profissional de saúde/paciente

O uso do termo "profissional" ao invés de "médico" se deve principalmente pelo fato de que em um dos centros a enfermeira como referência dos diabéticos é, de modo geral, maior quando comparado com o médico clínico geral. É claro que existe a questão de uma equipe multiprofissional presente auxiliando nos grupos do diabético em ambos os centros.

Durante a entrevista, os diabéticos foram questionados sobre a relação com os profissionais se, de um modo mais informal, sentem-se "a vontade" para expor suas condições, suas dificuldades, seus problemas e seus questionamentos. Esse fator precisa ser estudado pois como Augusto Rocha destacou, "não basta o ato de prescrever um medicamento para que o paciente o use", além disso, o fator "profissional de saúde" é um dos "três tipos de fatores que influenciam o diabético" mencionados por Olmedo Canchola, que serão aprofundados logo mais.

Todos os pacientes demonstraram se sentir bem com o médico ou a enfermeira de referência e de modo geral, pelo menos do ponto de vista desses pacientes, não há dificuldades em conversar ou esclarecer dúvidas, afirmando inclusive que "Elas são muito prestativas e assim...perguntam muito se a gente tá entendendo" (Fátima, paciente diabética do CSC nº 08). Outro paciente declarou:

A Lúcia é uma pessoa muito calma, explica com clareza, se não entendeu ela repete de novo, uma pessoa de muita vontade, é uma espécie de super mãe, uma pessoa que a gente confia demais. Pra mim a Lúcia é tudo. Minha esposa tem até um pouco de ciúme. Mas a Lúcia é uma pessoa

extraordinária. E o doutor Diego é uma pessoa também que tá sempre acompanhando a gente, é uma pessoa muito bacana, novo ainda, mas ele é bastante experiente, muito calmo, muito humilde. Ele analisa as coisas pra fazer e passar um remédio, ele tem uma noção, não vai jogando de qualquer jeito. Eu não conheço bem os outros aqui não, eu conheço o outro doutor Fernando, mas eu confio mais ainda no doutor Carlos do que no próprio doutor Fernando que é mais de idade, eu acho que o doutor Diego é uma pessoa que nóis precisa dele aqui, como se fosse o pai acompanhando o filho. (João, diabético do CSC nº 08)

Novamente houve uma diferença de um Centro de Saúde para outra, pois apesar dos diabéticos entrevistados do CSC nº 4 não afirmarem ter uma relação ruim, a fala demonstra que não há uma relação aberta: "a gente só faz a consulta, não tem muita coisa pra conversar", exemplificando justamente a questão levantada por Augusto Rocha citada anteriormente. Duas possibilidades para essa incidência: a não conscientização por parte do profissional sobre a importância da adesão ao tratamento (citada por Rocha A.) ou esse profissional não está ciente do pensamento não oculto desses pacientes, em ambos os casos, o que existe, talvez para ambos os lados (médico e paciente), é a falsa sensação de que esse aspecto segue sem déficits.

Se por um lado o paciente se sente confortável com o profissional, sem dificuldade em sanar as dúvidas com o profissional, por outro, o profissional chega a destacar inclusive em que termos a dificuldade é maior:

Principalmente com relação a sexualidade. Por que quando a pressão tá alta, diabetes tá alta, afeta a sexualidade. Diminui o desejo sexual, causa impotência sexual, então, eles tem muita vergonha de conversar comigo e até com o médico. O nosso clínico é meio assim, extrovertido, gosta de fazer brincadeira. Então eles tem receio. Quando chegam lá, o médico faz brincadeira e eles acabam tendo medo de tá conversando com ele. Então uma parte realmente que eles tem muita dificuldade é essa parte da sexualidade. E também a memória deles acabam falhando e eles tem vergonha daquilo que eles já assistiram na palestra de tá perguntando "ah, ela falou mas eu não lembro", a memória falha muito. A medida que eles vão envelhecendo, a memória falha e às vezes eles tem vergonha "eu sei que ela falou, mas eu esqueci". Então tem essa situação, né? (Lúcia, Enfermeira no CSC nº 08) O médico do CSC nº 04 observou que os usuários apresentam dificuldade e constrangimento em tirar dúvidas e que isso ocorre com frequência. A forma que ele

encontrou para lidar com isso foi tentando se antecipar: "Eles tem dificuldade de tirar suas dúvidas. Mas a gente se antecipa. Eu percebo que ele tá com dúvida num determinado assunto, então a gente já aborda o assunto e procura esclarecer de alguma forma."

Como alguns pacientes sentem essa dificuldade de questionar dentro do consultório, existe a possibilidade de essas dúvidas estarem sendo sanadas (ao menos na concepção dos profissionais da saúde) fora do consultório. Os diabéticos afirmam que não: "Procuro ninguém não, só o médico mesmo"; " A primeira pessoa que eu procuro é a da Luz. Quando não tá na área dela, ela encaminha a gente para o doutor". Em contrapartida, o médico e a enfermeira afirmam que isso ocorre e esta discorre quais as fontes de informação mais recorrentes: "A maioria das vezes fora do consultório, primeiramente a televisão, depois vem a internet, depois vem leitura, folheto que a gente entrega, ou quando vão pra algum evento, desses que acontece final de semana, Feira de Saúde, Ação Global, Ação de Saúde."

O clínico geral declarou que procura desfazer os argumentos levantados pelo meio exterior: "Eu procuro mostrar que a orientação nossa, modéstia a parte, é a correta. E é a orientação que eles devem seguir, e não a orientação dos leigos, né?"

Ao lado das dúvidas, existem as dificuldades diárias desses pacientes, e segundo os profissionais da saúde, as maiores dificuldades se encontram no uso do medicamento, na adaptação da dieta balanceada, e na prática da atividade física como parte do cotidiano: "Do uso da medicação, seguir a dieta que a gente orienta, até por que alguns não tem condições de ter uma alimentação saudável, então eu acredito que seja por razão financeira." (Médico André)

"Eu acho que é em relação à alimentação. Diminuir aqueles alimentos que a gente não proíbe. Diminuir realmente os alimentos que prejudicam o açúcar no sangue. É o pão de queijo, o sorvete, a pizza, o refrigerante. Então esses alimentos, eu acho que a maior dificuldade deles em primeiro lugar é a alimentação. Segundo, o exercício, aderir ou por preguiça ou por falta de tempo. Eu tenho pacientes que fazem faculdade, trabalham o dia todo, à noite estudam, chegam meia noite. Outra coisa também em relação à medicação: muito comprimido. Dez comprimidos por dia, tem essa dificuldade. A gente fala 'primeiro, segundo, terceiro' , de repente eu falo "primeiro alimentação", né, mas se a gente for colocar na balança eu acho que acaba ficando linear. Em relação a medicação, pela quantidade, tem o que não sabe ler, não enxergam, tem isso também." (Enfermeira Lúcia)

Apesar dos usuários afirmarem tomar de acordo com o indicado, eles não tem muita informação sobre a atuação desse medicamento, mas isso se deve pela falta de interesse por parte dos usuários: quando questionados se já haviam perguntado ao médico a respeito ou se tinham interesse em perguntar, responderam que não para ambas as perguntas. Mesmo que a compreensão seja uma barreira, a motivação em entender é um passo para melhor aderir ao tratamento medicamentoso. Todos os usuários entrevistados afirmaram saber que aquele respectivo medicamento é pra hipertensão e o outro para diabetes, por exemplo, não sabendo explicar nem ao menos que sua atuação é no metabolismo fazendo o controle da glicose.

4 Fatores que interferem na adesão ao tratamento

Como apresentado na metodologia, o trabalho compreende a categorização utilizando os fatores citados por Olmedo Canchola no artigo Falta de adherencia al

tratamiento en el enfermo diabético: un problema de salud pública (Falta de adesão ao

tratamento por diabéticos: um problema de saúde pública) para analisar e classificar as causas que levam os diabéticos a abandonarem o tratamento.

Tratamento se refere a medidas encaminhadas para curar ou aliviar enfermidade de uma pessoa doente, tanto no aspecto farmacológico como em outros cuidados. O tratamento da diabetes, busca proporcionar uma qualidade de vida tanto através do aspecto farmacológico como por cuidados baseados geralmente em mudanças de hábitos que estão enraizados na cultura ocidental.

Segundo Olmedo Canchola, os motivos que interferem na adesão ao tratamento pode ser classificados em vários fatores distribuídos da seguinte forma:

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