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CAPÍTULO 4 – RESULTADOS, ANÁLISES E DISCUSSÕES

4.3 Relações de pertencimento e os sujeitos da linguagem

Nesta seção traremos à tona indícios a partir dos questionários, dos desenhos e das transcrições relacionado ao trabalho com o grupo focal em estudo, em que possa ser detectada uma relação de pertencimento com o lugar onde os sujeitos da pesquisa estudam. Pretendemos ainda verificar se os alunos possuem alguma relação afetiva com este espaço, o que eles dizem sobre o museu e se os alunos fazem uma relação entre o museu e seu cotidiano escolar. A seguir citaremos alguns exemplos tanto das falas transcritas do grupo focal, quanto das respostas mediante aos questionários.

Em relação à questão número 5 do questionário: ―Cite três palavras que identificam o lugar onde você mora‖, das oito respostas dadas pelos alunos, apenas três responderam:

Exemplo 18 / Questionário. ―Museu e dinossauro.‖

―Você gosta de participar de atividades no museu?‖ Exemplo 19/questionário

4 alunos responderam que ―sim‖ e 4 alunos responderam que ―não‖

―Em sua opinião o Museu dos Dinossauros é:‖, todos responderam: Exemplo 20/questionário

―Uma coisa importante‖.

Retomando a transcrição das falas advindas dos slides, perguntei para o grupo porque evidenciar a imagem do museu nas representações é algo importante. Jô dá a sua opinião, conforme descrito no exemplo a seguir:

Ex. 21, S. 14 SP. Jô

― Não ia ter dinossauro ali de concreto, e não ia ter o nome da escola.‖

A fala de Jô emergiu a partir da figura 57 conforme representado a seguir.

Figura 57: reprsentação de duas alunas representando um tempo presente

Fonte: Arquivo da autora (2015)

A partir desta imagem projetada perguntei para Cibele, uma das autoras de um dos desenhos, porque para ela considerou importante evidenciar o Museu dos Dinossauros. Ela respondeu:

Ex. 22, Slide 14, SP. Cibele

―Porque eu gosto muito de visitar o museu‖

Em outra pergunta: ―Se não existisse o museu como você acha que seria em Peirópolis‖?

Ex. 23, S. 14, SP. San

―Vazio‖

Ex. 24, S. 15, SP. Jô

―Sem graça, porque a gente quase não vê um réptil, um dinossauro, e no museu tem. Mas, na escola é muito difícil mostrar.‖

As falas dos sujeitos pesquisados nos indicam algumas ligações dos elementos que levam às noções de pertencimento ao lugar da pesquisa, no caso específico, Peirópolis e Museu dos dinossauros. Podemos observar que alguns sujeitos da pesquisa indicam que gostam de participar de atividades no museu e que o lugar seria ―vazio‖ (fala de um aluno) se não existisse o museu. Isto significa que, ao afirmar a importância do museu, o aluno mostra a relação de proximidade do local com sua própria identidade.

Para tanto, é preciso compreender o lugar como espaço vivido, conforme nos informa Brandão (2008, p.76):

[...] percebemos os lugares de onde somos e onde vivemos através de diferentes sensações e percepções. E atribuímos a eles diversos sentimentos, saberes e significados, de acordo com a maneira como os vivenciamos através de nossos sentidos, nossa mente e as nossas sensibilidades. Entre todas as terras do planeta Terra há uma que é a ―minha terra‖, e mesmo que ela seja num deserto, muitas vezes esse deserto é o jardim mais florido que eu conheço.

Observe que Brandão (2008) destaca o lugar como espaço vivido pelo sujeito que o habita. Nele, o sujeito constrói sua identidade por intermédio das emoções e das percepções que tal lugar desperta sobre ele. Assim, um aspecto somente terá importância para determinado sujeito, a partir do momento em que lhe é atribuído um significado. No caso de

nosso estudo, cabe à escola construir os significados do Museu dos Dinossauros para a formação identitária dos educandos.

Por outro lado, dos oito sujeitos indagados acerca das palavras que podem identificar o lugar onde moram apenas três citaram ―museu‖ e ―dinossauro.‖ Aqui vemos uma boa contradição para análise: apesar de alguns afirmarem a importância do museu, a maioria não citou o museu e dinossauro como elementos ligados ao lugar em que moram.

Conforme podemos constatar em tópico anterior, o dinossauro é uma marca patêmica por si só e altamente potencializada pela mídia e pela indústria cinematográfica e, além disso, o dinossauro está materializado pela existência de um museu real localizado na própria comunidade e a poucos metros da escola, no qual as principais peças são réplicas e fósseis de dinossauros, então, como se explica sua ausência nas respostas dos sujeitos investigados?

Esta contradição pode nos conduzir à suposição de que apesar dos dinossauros constituírem-se como marcas patêmicas, eles estão presentes apenas no imaginário dos alunos e distantes de sua realidade cotidiana. Isto nos leva a constatar que a escola, embora esteja localizada a poucos metros do museu, não trabalha as questões didáticas e pedagógicas ligadas ao museu.

Ao não trabalhar devidamente o museu como elemento da realidade do aluno, a escola deixa lacunas que permitem seu distanciamento dos aspectos importantes de seu cotidiano. Assim, a importância que o aluno constrói em seu imaginário acerca dos dinossauros, está vinculada apenas aos efeitos trabalhados pela mídia, desenhos animados e filmes, o que deixa o museu distante de sua realidade, porque ele não consegue construir a ligação entre o dinossauro idealizado pela mídia e a realidade científica expressa no museu do dinossauro.

Assim, a lembrança do dinossauro remete o aluno sempre à representação cinematográfica construída pelo cinema sobre a temática que dá a ele (dinossauro) o papel de protagonista de um enredo e de uma história contada por ele mesmo, com o forte apelo aos movimentos e efeitos especiais. Ele não percebe que as peças (réplicas ou fósseis) expostas no museu pertencem ao mesmo contexto espaço/temporal trabalhado pelo cinema, justamente por serem estáticas e desprovidas de movimento e efeitos especiais, que lhe conferem vida e constroem o espetáculo nas telas.

Portanto, apesar da grande proximidade do museu, a escola se mostra alheia à importância do museu como relevante aporte didático pedagógico que poderia auxiliar não

somente no trabalho com os conteúdos em sala de aula, como também para auxiliar os educandos na construção de pertencimento ao lugar onde vivem e sua importância para a construção de sua própria identidade.

Porém, é relevante reconhecer as dificuldades da escola em competir com o grande cabedal de tecnologias utilizado pela mídia cinematográfica. Entretanto, isto reforça a necessidade da escola também recorrer a estas tecnologias para trabalhar com seus alunos, atividades interativas no museu, explorando seu potencial didático e pedagógico de forma dinâmica e criativa.