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3. METODOLOGIA

5.2 Relações entre Fatores do Indivíduo e o Desenvolvimento Motor e

Entre os fatores individuais, o gênero foi o que apresentou mais relações (significativas ou não) com o desenvolvimento dos bebês estudados. As demais variáveis não apresentaram relação ou essa relação foi muito pequena. Desta forma, confirma-se em parte a hipótese de pesquisa 3.

5.2.1 Gênero

O presente estudo não observou relação significativa do gênero com o desenvolvimento motor dos bebês, no entanto, essa variável se manteve no modelo da regressão no primeiro e no segundo momentos avaliativos (B1=-3,410; p1=0,073;

B2=-2,825; p2=0,063) ajudando a explicar a variância do escore bruto na AIMS,

sendo que melhores desempenhos foram observados para os meninos embora não significante. Outro estudo com bebês brasileiros de 0 a 18 meses também não detectou diferença significativa no desenvolvimento motor entre os gêneros na amostra de crianças brasileiras de diferentes semestres de vida (SACCANI et al, 2013). Da mesma forma, não foram observadas diferenças significativas entre os gêneros no índice de desenvolvimento psicomotor de bebês do nordeste do Brasil aos 12 meses de vida (EICKMAN et al, 2007).

Já no desenvolvimento cognitivo, encontrou-se no presente estudo relação significativa do gênero com o escore bruto da Bayley nos dois primeiros momentos

64 avaliativos (B1=4,549; p1=0,022; B2=3,884; p2=0,015) e com o índice de

desenvolvimento mental da Bayley nos dois últimos momentos avaliativos (B2=9,228; p2<0,001; B3=8,906; p3<0,001). Meninas demonstram desempenho

cognitivo superior. Resultado semelhante foi observado em bebês brasileiros de baixa renda aos 12 meses (EICKMAN et al, 2007) e entre 17 e 19 meses em meninas suecas, as quais apresentaram melhor vocabulário expressivo, além de vivenciaram mais oportunidades de leitura compartilhada quando comparadas aos meninos (WESTERLUND; LAGERBERG, 2008), fatores que podem ter facilitado o desenvolvimento da linguagem. Em outro estudo, aos 18 meses, bebês gregos do sexo feminino apresentaram escores mais elevados na cognição, comunicação receptiva e expressiva, motricidade fina e desempenho sócio-emocional (KOUTRA et al, 2012). Portanto, o resultado observado nas meninas brasileiras assemelha-se aos resultados de meninas de outros países.

5.2.2 Fatores Biológicos

No presente estudo, a idade gestacional não apresentou relação estatística com o desenvolvimento dos bebês na análise de regressão. A prematuridade tem sido referida como fator de risco para atraso desenvolvimentais em diversos estudos (KOUTRA et al, 2012; PIN et al, 2009; PIN; ELDRIDGE; GALEA, 2010), porém não se confirma no presente estudo. Destaca-se que o efeito dos diferentes fatores de risco no desenvolvimento pode variar ao longo do tempo, havendo uma tendência de os fatores biológicos se mostrarem menos influentes com o passar dos meses, ao passo que aumenta a importância dos fatores psicossociais (KOUTRA et al, 2012). A falta de significância observada na relação com a idade gestacional pode ser também explicada pela baixa incidência de bebês com prematuridade no grupo de bebês analisado no presente estudo, além de a média da idade gestacional ter sido satisfatória (38,20 ± 2,574). Futuros estudos devem ser realizados com bebês com idade gestacional inferior.

Ainda entre os fatores biológicos, podemos citar o peso ao nascer, que no presente estudo apresentou relação significativa com o desenvolvimento cognitivo dos bebês, mais especificamente com o índice de desenvolvimento mental da

65 Bayley, apesar da relação ter sido pequena (B1=0,008; p1=0,017; B2=0,007;

p2=0,003). Esse resultado confirma estudos previamente reportados. Em estudos

conduzidos com a Bayley, o peso ao nascer demonstrou associação com a comunicação expressiva de bebês gregos aos 18 meses (KOUTRA et al, 2012) e no índice de desenvolvimento mental de bebês brasileiros de 12 meses provenientes de família de baixa renda (EICKMAN et al, 2007). Quanto ao desenvolvimento motor, não foi observada relação com peso ao nascer. Embora estudo prévio reporte correlação fraca, positiva e significativa entre o percentil na AIMS e o peso ao nascer de bebês brasileiros ao longo dos três primeiros semestres de vida (r=0,13; p=0,04) (SACCANI et al, 2013), no presente estudo com amostra de características semelhantes esta relação não foi observada.

Por fim, a última variável biológica que apresentou relação com o desenvolvimento no presente estudo foi o Apgar no quinto minuto, que apresentou uma relação inversa com o índice de desenvolvimento mental da Bayley no segundo momento avaliativo (Apgar: B1=-2,915; p1=0,039). Esse resultado foi bastante

curioso e contraditório, pois quanto menor o Apgar maiores são as chances de comprometimento neurológico. No entanto, os bebês do presente estudo apresentaram uma média de Apgar bastante elevada (8,95 ± 1,219). Este resultado fortalece o entendimento que variáveis ambientais interferem no desenvolvimento cognitivo da criança nascida com desenvolvimento típico e de menor risco, levantando preocupações ainda maiores com relação às oportunidades que o contexto oferece para crianças. Além disso, esse resultado contraria a literatura também em relação ao desenvolvimento motor. Previamente estudo evidencia que o Apgar se relaciona com o escore motor bruto aos 12 meses de vida de bebês prematuros (R2ajustado=0,069, F=4,63; p=0,037) (PIN; ELDRIDGE; GALEA, 2010),

fato não observado no presente estudo em nenhuma idade.

5.2.3 Condições de Parto e Internação

Entre as variáveis relacionadas ao parto, apenas o período em ventilação mecânica foi forte para se manter na análise de regressão, e esta não demonstrou relação significativa com o desenvolvimento infantil em nenhum momento, apesar

66 de, na primeira avaliação, ter auxiliado na explicação da variância no escore bruto do desenvolvimento motor (r=0,353; p=0,099). A literatura sugere que o tipo de parto não tem associação com o desenvolvimento de bebês aos 18 meses (KOUTRA et al, 2012). Outra variável investigada foi a internação hospitalar e não se manteve no modelo de regressão, entretanto, a internação em UTI tem sido reportada como fator associado negativamente ao desenvolvimento cognitivo e motor de bebês (KOUTRA et al, 2012). Em geral, quanto maior o tempo de hospitalização, piores foram os escores percentílicos na AIMS obtidos por bebês brasileiros de 0 a 18 meses (r=0,21; p=0,05) (SACCANI et al, 2013), fato não observado no presente estudo.

5.3 Relações entre Fatores do Ambiente e o Desenvolvimento Motor e

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