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Ao estabelecer o gênero, Choisy (1834, 1837, 1845) considerou Jacquemontia intimamente relacionado a Ipomoea e Convolvulus, e incluiu esses e outros gêneros na tribo Convolvuleae, que compreendia então as plantas com ovário sincárpico e cápsulas deiscentes. Este arranjo sistemático foi seguido por Meisner (1869), Bentham & Hooker (1876) e Peter (1897). Este último adotou ainda a subtribo Convolvulinae. Alguns autores acreditavam que a relação de Jacquemontia e Convolvulus era tão próxima, que os consideravam como um único gênero, apesar de não demonstrarem nenhuma

justificativa para a fusão (Endlicher 1839, Kuntze 1898).

No sistema de classificação de Hallier (1893), Jacquemontia permaneceu inserido na tribo Convolvuleae, junto a Aniseia, Calystegia, Convolvulus, Hewittia, Merremia, Operculina e Polymeria. Shinners (1970) excluiu Merremia e Operculina de Convolvuleae, e os reposicionou como gêneros próximos a Ipomoea, apesar de ambos apresentarem grãos de pólen lisos, ao invés de espinhosos como no último.

Um dos sistemas mais discrepantes ao proposto por Hallier foi o publicado por Roberty (1952, 1964). Baseando-se principalmente na forma da corola ele dividiu a família em diversas tribos, subtribos e gêneros. Entretanto, as hipóteses lançadas sobre as relações entre tribos e gêneros eram tão artificiais que seu sistema não foi empregado pelos estudiosos da família.

Austin, um dos especialistas em Convolvulaceae mais ativos, publicou em 1973 e mais recentemente em 1998a, uma nova proposta de classificação, que no momento melhor refletia uma possível filogenia para a família, dividindo-a em 10 tribos. Neste trabalho, Jacquemontia estava incluída em Convolvuleae junto a Calystegia,

Convolvulus e Polymeria. Ele reconheceu inicialmente que Aniseia, Iseia,

Tetralocularia, Hewittia, Operculina e Merremia, gêneros anteriormente relacionados à Jacquemontia, deveriam ser posicionados em um clado informal denominado de

“Merremioid”, que teria um ancestral em comum a Ipomoea. Entretanto, no trabalho de 1998a, ele reconsiderou o clado Merremioid como próximo à tribo Convolvuleae.

Robertson (1971) acreditava que além de estar relacionado a Convolvulus, Jacquemontia poderia também estar aliado, ineditamente, a Evolvulus. Isso devido a

33 morfologia polínica e outros caracteres citológicos. Entretanto, nenhuma reclassificação de tribos foi proposta em seu trabalho.

Em contradição a todos os trabalhos anteriores baseados exclusivamente em dados morfológicos, Stefanovic et al. (2003) sugeriu que Jacquemontia parecia estar evolutivamente mais relacionado ao clado formado por gêneros com estiletes bífidos (como Evolvulus), ou clado “Dicranostyloideae”, e propôs ainda uma nova tribo Jacquemontieae, embora a relação tenha apresentado um baixo suporte filogenético. Morfologicamente, a palinologia já mostrava evidências dessa possível relação, tendo em vista que muitas espécies possuem os grãos de pólen policolpados, com os colpos organizados em pentágonos, como encontrados em Evolvulus. Todavia, Tellería & Danners (2003) também reportaram a presença de grãos de pólen tricolpados em Jacquemontia, assim como os de Convolvulus. Desta forma, a estrutura das aberturas apenas sustentava a incógnita da relação de Jacquemontia com os outros gêneros da família. Uma das grandes questões é que Stefanovic et al. (2003) analisaram apenas cinco das cerca de 120 espécies de Jacquemontia, podendo ser considerada uma baixa amostragem em face a variabilidade do grupo. Esta questão foi resolvida no ano seguinte, quando Stefanovic & Olmstead (2004) publicaram uma filogenia que incluía menos espécies, mas com vários marcadores moleculares, e então reforçaram, com maior suporte estatístico, Jacquemontia como grupo irmão do clado Dicranostyloideae.

Morfologia

Na revisão das espécies da América do Norte, Central e Caribe, o trabalho mais recente e mais completo a respeito do gênero, Robertson (1971) considerou

Jacquemontia a partir da associação dos seguintes caracteres: 1. Tricomas estrelados ou derivados dessa condição; 2. Corola glabra; 3. Pólen policolpado; 4. Ovário glabro, 2- locular, 4-ovulado; 5. Estilete único e não ramificado; 6. Lobos estigmáticos elipsoides e achatados dorsi-ventralmente; 7. Cápsula deiscente por 4 (2 – 8) valvas; e sementes glabras, lisa ou com texturas, e geralmente com um anel marginal.

Apesar de Jacquemontia ser amplamente conhecido como um gênero de espécies trepadeiras, são reconhecidos muitos representantes arbustivos. Os arbustos

34 prostrados são relativamente comuns, sendo possível, inclusive, ser observado o

enraizamento nos nós, como ocorre em Jacquemontia ovalifolia Hallier (Robertson, 1971). No Brasil, espécies arbustivas são bastante frequentes em áreas de campos rupestres (Bianchini & Ferreira 2012).

O tipo de tricoma é tradicionalmente adotado para a distinção genérica em Convolvulaceae (Austin 1998a). Jacquemontia geralmente apresenta tricomas estrelados. No entanto, é possível observar grande variação no número e no

comprimento das ramificações destes tricomas. São encontrados tricomas com duas até doze ramificações, em forma de T, com todos os ramos iguais ou desiguais, além de tricomas glandulares encontrados em algumas poucas espécies (Robertson 1971). Porém, descrições mais detalhadas dos tipos de tricomas podem ser encontradas apenas no tratamento de Robertson (1971) e nas recentes descrições de novas espécies

(Bianchini 1999; Bianchini & Pirani 2005; Krapovickas 2009).

A estrutura das inflorescências foi utilizada como caráter primário na definição das seções em Jacquemontia (Meisner 1869; van Ooststroom 1936). As inflorescências em Convolvulaceae são, num geral, cimeiras. Entretanto, apresentam uma variação nas formas que vão desde flores solitárias axilares, até tirsos com florescências parciais umbeliformes, capituliformes, corimbiformes, entre outras (Austin 1973, 1998a). Em Jacquemontia, não apenas a forma, mas tanto a posição das inflorescências quanto a morfologia das brácteas, podem auxiliar na identificação das espécies (Meisner 1869).

Caracteres relacionados ao cálice são fundamentais no reconhecimento específico em Jacquemontia. Sua importância tem sido destacada desde os primeiros trabalhos de Choisy (1837, 1845) e foi bastante relevante principalmente na chave de identificação disponibilizada na Flora Brasiliensis (Meisner 1869) e no tratamento de Robertson (1971). A forma, base, ápice, indumento e também a relação morfométrica entre as sépalas internas e externas – se diferentes ou iguais em tamanho – são aspectos considerados relevantes para o reconhecimento dos táxons no gênero.

A corola é, na maioria das espécies, infundibuliforme e de coloração azul a branca. Algumas raras exceções entre as espécies do gênero apresentam flores róseas e campanuladas, como J. tomentella Hallier f. (Ásia), ou hipocrateriformes e vermelhas, como J. solanifolia (L.) Hallier (América Central). São geralmente inteiras ou

35 espécies da América Central (ex: J. havanensis Urb., J. curtissi Peter ex Hallier f.). Flores com corola profundamente lobadas são encontradas em um grupo de espécies ocorrente na América Central, como J. curtisii Peter ex. Hallier f., J. havanensis Urb. e J. ovalifolia Hallier f. (Robertson 1971). Apesar de ter sido caracterizada por Robertson (1971) como glabra, a corola em Jacquemontia pode ser pubescente na região

mesopétala assim como observado em algumas poucas espécies: J. cephalantha Hallier f. e J. sphaerocephala Meisn. (Meisner 1869; van Ooststroom 1963; O’Donell 1960b).

Ainda que não tenham sido encontradas evidências de que a forma do estilete e dos lobos estigmáticos, que são tratadas como características mais conservadas e relevantes taxonomicamente para o gênero auxiliem no reconhecimento de espécies, alguma variabilidade é observada. Jacquemontia nodiflora (Desr.) G. Don., por exemplo, apresenta lobos estigmáticos cilíndricos, ao invés de ovais-planos que é a forma mais comum no grupo (Robertson 1971, McDonald 1993). Variações na posição dos estiletes na fauce da corola também são relatadas, podendo estes ser insertos ou exsertos em algumas espécies, como em J. glaucescens Choisy (Buril & Alves 2011).

Caracteres que são amplamente utilizados na classificação de Convolvulaceae como um todo, e também importantes na caracterização específica em Jacquemontia, estão nos grãos de pólen. Hallier (1893) e Sengupta (1972) estudaram

palinologicamente diversas espécies do gênero e os caracterizaram como pantocolpados, com colpos (cerca de 15) organizados em pentágonos. Tellería & Danners (2003)

encontraram grãos de pólen tricolpados em J. blanchetii Moric. e J. nodiflora. Vital et al. (2008) também relataram estes dois tipos polínicos no gênero, e sugeriram que caracteres polínicos eram potencialmente importantes para auxiliar no reconhecimento de grupos de espécies.

Outro exemplo é a morfologia das sementes. Em Ipomoea, por exemplo, a ornamentação das sementes é bastante significativa no reconhecimento de espécies (Simão-Bianchini 1998). Em Jacquemontia, Robertson (1971) e Elsam (2008) observaram a presença de um anel de tricomas rígidos nas marges de suas sementes. Esse anel é encontrado apenas em Jacquemontia, entretanto, não está presente em todas as espécies.

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