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Na Tabela 7 estão apresentadas as verbalizações dos entrevistados sobre a mudança nas relações hierárquicas de trabalho. É possível observar que os itens 1 e 2 destacam as verbalizações relativas ao apoio e respeito nas relações com os encarregados. S1 falou que o seu relacionamento com o chefe era de apoio e amizade. S4 mostrou que na relação havia respeito mútuo. Os itens de 3 a 6 indicam relações com algum tipo de conflito. S5 ressaltou que pessoalmente se relacionava bem com o chefe, uma pessoa excelente. Outros colegas tinham algumas desavenças com o chefe. Revelou que o antigo chefe sempre o mandava fazer tudo que precisava, qualquer problema que surgisse, era ele o escolhido para resolver, esse não. S6 falou que nunca teve problemas com nenhum chefe.

Tabela 7

Verbalizações dos entrevistados sobre a mudança nas relações hierárquicas de trabalho e suas reações

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No âmbito individual

1.“(...) encontrei um chefe bom, na verdade me deu apoio, até fiz uma certa amizade com ele”. [primeiro chefe]

(S1)

2. “(...), a gente se dá bem, a gente respeita eles, eles respeitam a gente não tem problema nenhum” (S4). 3. “Eu na minha parte pessoal eu me relaciono bem, agora os outros lá, tem suas desavenças. (...) É um cara excelente, trabalha bem, e daí, pra mim não mudou em nada.A única coisa que mudou é que ele não pega muito no meu pé ( riso). O outro encarregado que tinha ali, eu era o alvo dele” (S5).

4. “Um chefe sempre tem uma coisa ou outra que não dá certo, mas com os chefes mesmo não tive problema nenhum com todos eles. Sempre alguma discussãozinha sem muita importância” (S6)

No âmbito grupal

5.(...) na verdade você sabe, as coisas mudam e ele no começo queria... sabe, é difícil falar essas coisas, porque, mas não foi só comigo que ele teve problemas, ele tinha problema com todos os 25 funcionários da fábrica. Ainda temos problema até hoje, mas o pessoal deixa rolar, tolera, porque todo mundo precisa” [segundo chefe] (S1).

6. “No começo foi difícil, pois ele era uma pessoa meio complicada de se trabalhar. Até num certo ponto meio ignorante em certas coisas(...). Ele acha que tem que ser tudo no berro né? (...) então no começo foi difícil, foi bem difícil. Mas depois que ele começou a conviver, a entender, aí ele próprio viu que não era daquele jeito, dali pra frente, hoje é tranqüilo” (S8).

___________________________________________________________________________ Quando o ponto de vista entre eles era divergente, conversavam, mas eram discussões sem importância.S1 sentiu dificuldade em falar na relação trabalhador/chefe, mas relatou que o

encarregado tinha problemas com todos os vinte e cinco trabalhadores da Fábrica. Ainda hoje existem problemas que são tolerados, porque todos precisam trabalhar. S8 relatou que o encarregado era uma pessoa de difícil convivência para trabalhar, era grosseiro em certas coisas, achava que resolvia tudo gritando. No começo foi mais difícil, depois ele começou a entender que não era daquele jeito que as coisas funcionavam e hoje o relacionamento é bom.

Bowditch e Buono (2000) relatam que cada indivíduo representa na vida uma grande diversidade de papéis, sendo difícil atender às expectativas desses papéis que, freqüentemente, não são possíveis de concretizar porque são divergentes ou contraditórios. A divergência das expectativas resulta em conflito de papéis. Sabe-se o que é esperado em uma certa posição, porém o conjunto diverso de expectativas em relação a outros papéis torna a concordância difícil. Em outras circunstâncias, recebem sinais ambíguos sobre o que é esperado e não tem certeza sobre como devem comportar-se ou fazer. Os conflitos ou a ambigüidade de papéis são associados a baixos níveis de satisfação no trabalho e desempenho e experiências freqüentes de estresse. É perceptível em algumas verbalizações a existência de certa ambigüidade na definição dos papéis e do status dos trabalhadores, resultando em dificuldades de relacionamento e de aceitação. Nessas verbalizações é possível perceber que a nomeação do chefe determinou uma liderança em que o poder era exercido pela força do cargo. Não é, portanto, uma liderança consensual. Assim surge a dificuldade de aceitar o status e o poder que a organização atribui ao cargo. Torna-se difícil separar os papéis de amigo, colega e chefe e atribuir o status adequado para cada papel.

As mudanças nas relações hierárquicas dos entrevistados provocaram as seguintes reações: S1 afirmou que a sua relação com o encarregado (primeiro chefe) foi uma relação de apoio e amizade. S4 afirmou que não tinha problema de relacionamento e se dava bem com o chefe. S5 relatou que não teve problema em seu relacionamento com o chefe, mas entre os colegas e o chefe existiam problemas. S6 revelou que seu relacionamento com os chefes sempre foi sem problemas, embora algumas vezes, por divergência em alguns pontos, ocorressem discussões sem muita importância. S1 ressaltou que era problemática a relação com o encarregado, sendo mantida por tolerância dos trabalhadores que precisavam do emprego. S8 revelou que no começo foi difícil, porque o chefe era uma pessoa difícil “para se trabalhar”, às vezes grosseiro, mas, depois, ele próprio ( o chefe) percebeu que devia mudar o comportamento e mudou.

Bowditch e Buono (1922) relatam que a liderança nas organizações geralmente é nomeada e exerce sobre o grupo o poder da posição ou da autoridade formal. Líderes nomeados podem utilizar o sistema organizacional de recompensas e punições para

influenciar os liderados a executarem tarefas. Embora os líderes naturais (reconhecidos como tal pela influência que exercem sobre o grupo) também tenham controle sobre algumas recompensas e punições, seu poder está baseado mais em suas características pessoais do que nas organizacionais. Existe também o poder do conhecimento, baseado no domínio do indivíduo sobre certos assuntos. No entanto, esse conhecimento poderá estar nas mãos de pessoas de posição hierárquica inferior, criando situações incongruentes de status. A incongruência de status pode gerar conflitos e ansiedades no local de trabalho. Em alguns casos os atributos e qualidades das pessoas chegam a encobrir suas posições formais na organização e passam a exercer maior influência do que alguém hierarquicamente superior. Pessoas com maior status sentem dificuldade em receber ordens de gerentes de status inferior, assim estabelecem os conflitos, que geram ansiedades e dificuldades no relacionamento interpessoal. Foi possível perceber por meio das verbalizações, que as lideranças são escolhidas e nomeadas pela administração. Alguns trabalhadores, ao serem promovidos, não sabem como utilizar o poder que lhes foi atribuído, ocasionando conflitos. Ainda, no status de chefes, atribuem-se conhecimentos que às vezes não possuem, dificultando a tomada de decisões e provocando desentendimentos com os subordinados.

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