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Encontramos nos trabalhos de Sullivan (1940, 1953) investigação referente à teoria das relações interpessoais. O autor considerou que o desenvolvimento e funcionamento adaptativo da personalidade ocorreriam mediante as relações interpessoais. Os padrões interpessoais seriam

formados através da vivência de experiências interpessoais, dando origem a concepções (latentes) acerca do self, dito por outras palavras, as experiências interpessoais exerceriam influência na constituição do self. Estas concepções foram designadas por Sullivan de personificações – i.e. organizações das experiências interpessoais do indivíduo referentes ao passado e de carácter subjectivo. Preconiza que além da situação interpessoal, a própria dinâmica decorrente entre indivíduos na situação interpessoal deve ser considerada no estudo desta área do conhecimento (Sullivan, 1940, 1953).

O Modelo Interpessoal Circular ou Circumplexo - IPC foi preconizado por Leary (1957) e utilizado ao longo dos anos nos trabalhos de vários investigadores (e.g. Horowitz, et al., 2006; Gurtman, 2009; Gredecki & Ireland, 2012). Constituído por uma estrutura de duas dimensões: a vertical composta por aspectos como o controlo ou autonomia; a horizontal composta por aspectos como a afiliação e conexão. Horowitz e Strack (2011) acrescentam que o modelo permite verificar a totalidade dos comportamentos interpessoais através da combinação dos quatro polos das dimensões vertical e horizontal.

O comportamento interpessoal do indivíduo reflecte em parte as experiências iniciais com as figuras de vinculação, ou seja, os modelos internos dinâmicos do self e dos outros (Henry, 1994). Horowitz e seus colaboradores (1993) argumentam que através do Modelo Interpessoal Circular ou Circumplexo, poderia obter-se uma compreensão dos problemas interpessoais do indivíduo e que demonstraria as suas percepções e expectativas desadaptativas (Horowitz, Rosenberg, & Bartholomew, 1993). Os problemas interpessoais seriam em parte o resultado das experiências iniciais do indivíduo através das suas relações de vinculação (Horowitz, 1994). Estes problemas são compreendidos através de um conflito interno entre o desejo do indivíduo em expressar um determinado comportamento e a ansiedade por expressão do comportamento. O conflito surgiria devido às aprendizagens no passado ao nível interpessoal, revelando assim o estilo de vinculação (Horowitz, Rosenberg, & Bartholomew, 1993; Horowitz & Strack, 2011). Várias investigações incidiram no estudo da relação entre os estilos de vinculação no adulto e as relações interpessoais em diversas populações (e.g. Berry, Band, Corcoran, Barrouclough, & Wearden, 2007; Haggerty, Hilsenroth, & Vala-Stewart, 2009; Bosmans, Braet, & Van Vlierberghe, 2010; Cantazaro & Wei, 2010).

Haggerty, Hilsenroth e Vala-Stewart (2009) na sua investigação desenvolvida com uma amostra clínica, verificaram que valores elevados no estilo de vinculação ansioso estavam relacionados com comportamentos interpessoais de maior dependência para com o outro, associado a uma visão negativa do self. No mesmo estudo o estilo de vinculação evitante estava

relacionado com uma visão negativa dos outros, existindo assim uma procura de maior independência.

Relações Interpessoais na Depressão

Lewinsohn (1974, 1975) propôs que nos deprimidos existiriam défices ao nível das suas competências sociais e que estes défices constituiriam um factor de vulnerabilidade para o desenvolvimento desta perturbação emocional. Posteriormente, Lewinsohn e colaboradores (1985) referiram que as dificuldades nas competências sociais seriam um consequente decorrente da depressão. Contudo, importa mencionar que uma investigação de Petty, Sachs-Ericsson e Joiner (2004) concluiu que mesmo após a remissão da depressão, que estes indivíduos apresentavam um funcionamento interpessoal mais deficitário em comparação com indivíduos sem alteração psicopatológica.

Na depressão, existe uma tendência para os indivíduos fazerem uma avaliação mais negativa das suas competências sociais quando comparados com sujeitos sem depressão (Kandel & Davies, 1986; Huprich, Clancy, Bornstein, & Nelson-Gray, 2004), bem como apresentam níveis de bem- estar mais baixos nas suas relações interpessoais (Carton, Kessler, & Pape, 1999). Horowitz e Strack (2011) argumentam que indivíduos sem alteração psicopatológica apresentam uma tendência para sobrevalorizar as suas competências sociais, conjuntamente com o padrão de desvalorização por parte dos sujeitos deprimidos vai ao encontro da teoria do realismo depressivo de Alloy e Abramson (1988).

Uma investigação realizada por Zlotnick e colaboradores (2000), pretendeu analisar as relações interpessoais numa amostra de indivíduos deprimidos e, verificou que estes apresentavam relações interpessoais íntimas mais deficitárias quando comparados com um grupo de indivíduos sem alteração psicopatológica (Zlotnick, Kohn, Keitner, & Della Grotta, 2000). Mais recentemente, Rappaport, Moskowitz e D´Antono (2014) comparando indivíduos deprimidos e indivíduos ansiosos, observaram que ambos os grupos apresentavam uma maior submissão nas relações interpessoais. De um modo geral, o próprio contacto com o sujeito deprimido apresenta alterações, como por exemplo ao nível do contacto visual, gesticulação, expressão facial ou o discurso (Horowitz & Strack, 2011). Estas alterações seriam o reflexo de sentimentos como a tristeza ou zanga e, estariam igualmente associadas a revelações mais negativas sobre o próprio (Gurtman, 1987).

Na depressão seria igualmente comum, que indivíduos com esta perturbação emocional procurem de forma excessiva, a confirmação de diferentes aspectos por parte dos outros (Joiner & Metalsky, 2001), sendo resultante de uma baixa auto-estima (Joiner, Katz, & Lew, 1999) e, podendo conduzir à rejeição por parte dos outros nas suas interacções sociais (Joiner, 1999; Weinstock & Whisman, 2004). De um modo geral, a rejeição dos indivíduos deprimidos seria consequência da tendência destes indivíduos em procurar relações interpessoais, com uma ressonância emocional negativa para o próprio, como forma de confirmar a visão negativa que têm do self (Giesler & Swann, 1999). Neste seguimento, importa ainda referir que os indivíduos deprimidos encontram- se, tendencialmente, em relações interpessoais turbulentas e insatisfatórias (Segrin, Powell, Givertz, & Backin, 2003).

Importa ainda mencionar que as dificuldades nas relações interpessoais presentes na depressão estariam associadas a um risco de suicídio aumentado (e.g., Joiner et al., 2009; Van Orden et al., 2010; Davidson, Wingate, Grant, Judah, & Mills, 2011; Kleiman, Liu, & Riskind, 2014).

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