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Capítulo 3 – Análise de sentimento

3.5. Relações retóricas na análise de sentimento

Alguns estudos têm tentando perceber qual o contributo das RR para a investigação no domínio da AS (por exemplo: Asher et al., 2009; Benamara et al., 2013; Trnavac et al., 2015). Assim, trabalhos realizados no escopo da RST, de Mann & Thompson (1988), ou da SDRT, de Asher & Lascarides (2003), têm trazido novidades quanto ao papel que as RR desempenham na AS, mais precisamente, têm-se observado que determinadas RR – como, por exemplo, as relações de contraste, de condição e de elaboração – afetam a interpretação da avaliação contida nos textos (cf., entre outros, Asher et al. (2009); Taboada et al., 2011; Taboada & González, 2012; Trnavac & Taboada, 2012, 2014; Trnavac et al., 2015; entre outros).

Este reconhecimento deve-se à constatação de que o sentimento global de um texto é intimamente afetado pela sua estrutura discursiva. Nesse sentido, ao dividir um texto em diferentes macro e microestruturas ligadas umas às outras através de relações discursivas distintas, conseguimos extrair diferentes pesos destas relações, no sentido de calcular o sentimento global de um texto e, assim, desvendar quais as RR que têm mais impacto nesse cálculo.

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Passamos em seguida em revista, de uma forma breve, alguns dos estudos mencionados. Asher et al. (2009) e Benamara et al. (2013) (apud Trnavac et al., 2015) concentram o seu estudo na medição ou no cálculo do efeito da estrutura discursiva na AS. Usando a SDRT como enquadramento teórico, estes autores tentam perceber como é que as RR interagem com os textos/fragmentos de opinião e até que ponto essas interações podem depender do género textual em que se inserem. Asher et al. (2009) e Benamara et al. (2013) propõem, desta forma, um novo esquema de anotação que é baseado numa análise semântica lexical com uma ampla classe de expressões, juntamente com uma análise de como as orações que envolvem essas expressões de opinião estão relacionadas umas com as outras no discurso.

Asher et al. (2009) utilizam essencialmente cinco tipos de RR para a análise: contraste, correção, suporte, resultado e continuação. A proposta destes autores é a seguinte:

“They propose that Result relations strengthen the polarity of the opinion in the second argument, while Continuation relations strengthen the polarity of the common opinion, and Contrast relations may strengthen or weaken the polarity of opinion expressions. However, there is no definitive mapping between opinion frames and rhetorical relations.”

(Trnavac et al., 2015: 3)

Por sua vez, Taboada et al. (2011), que procuram encontrar métodos que operem num nível profundo de análise, incorporando a orientação semântica de palavras individuais e contextos que exprimem sentimento (incluem: adjetivos, verbos, nomes e advérbios), propõem um método que prevê que as palavras de opinião encontradas nos núcleos das RR de um documento são as mais significativas para o sentimento global de um texto.

Taboada & González (2012) estudam o comportamento da relação de Concessão (Mann & Thompson, 1988), em textos de opinião, na escrita e fala em Inglês e Espanhol, verificando ainda quais os tipos de marcadores discursivos utilizados para inferir essa relação. Assim, na modalidade escrita, as autoras verificaram que a relação de Concessão é a mais utilizada para qualificar opiniões, enquanto na modalidade oral esta relação é utilizada para corrigir/esclarecer mal-entendidos.

Por usa vez, Trnavac et al. (2015) estudam a forma como as relações retóricas podem, ou não, alterar a orientação de sentimento de um dado segmento textual. Assim, por exemplo, uma relação como a de concessão (no âmbito da RST), marcada, por exemplo, pela adversativa

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(i) intensificar o valor de uma palavra, um segmento da frase ou uma frase; (ii) reduzir o valor de uma palavra, um segmento da frase ou uma frase; (iii) reverter o valor de uma palavra, um segmento da frase ou uma frase.

Os autores notam que as modificações ocorrem com maior frequência com as relações de reafirmação, evidência e concessão.

Estas são algumas investigações sobre RR feitas no âmbito dos estudos da AS que têm vindo a trazer contributos científicos imensos não só na forma de olhar este campo de investigação, como na análise propriamente dita dos textos e discursos.

3.6. Sumário

O capítulo sobre a AS é, tal como os capítulos anteriores, eminentemente teórico, com referência a propostas e estudos já realizados.

Em primeiro lugar, apresentamos uma definição de AS no âmbito dos estudos semântico- pragmáticos do texto e do discurso. Vimos que a AS pode ser chamada de diferentes formas (subjetividade, avaliação, entre outros) e que tem sido trabalhada de diferentes perspetivas, precisamente devido não só à abrangência do campo, mas também por ser um domínio científico que estabelece interface com outras áreas. Para além disso, destacamos os seus principais objetivos, tendo em linha Mejova (2009).

Pareceu-nos imprescindível adotar a Appraisal Theory, proposta por Martin & White (2005) para a análise do nosso corpus, porquanto é a teoria mais adequada ao tratamento que pretendemos fazer e por ser uma teoria linguística que aplica a AS de forma mais estruturada aos textos.

De seguida, apresentamos brevemente o software Semantic Orientation CALculator (SO-CAL), que permite a extração automática de sentimento num determinado texto com base em dicionários anotados com a polaridade de adjetivos, nomes, advérbios, modificadores e marcadores de negação.

Seguindo Mohammad (2017), expusemos ainda os vários desafios da AS, mostrando que os investigadores deste domínio necessitam de uma base sólida para a realização da análise. Em particular, esta secção permitiu-nos refletir sobre a necessidade de considerar diversos aspetos não só na construção do questionário usado no nosso estudo, como também na análise dos resultados.

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Por fim, delineamos uma lista breve de trabalhos que têm sido realizados no âmbito dos estudos que conjugam as RR e a AS, como Asher et al. (2009) e Benamara et al. (2013) (apud Trnavac et al., 2015), Taboada & González (2012), de forma a mostrar como as RR podem contribuir de forma significativa para um melhor entendimento da AS.

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Capítulo 4 – Breve caracterização semântica dos adjetivos e dos