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Após ter analisado a capacidade de vocalização e de agenda dos segmentos que compõem os conselhos e de suas estruturas de funcionamento, buscou-se comparar as duas capacidades a fim de verificar a relação entre elas.

Partiu-se do pressuposto de que uma capacidade não interferia sobre a outra, ou seja, uma delas poderia preponderar. Os dados que se encontram na tabela 3 possibilitam verificar que existe pouca variação entre às capacidades de vocalização e de agenda dos segmentos, sendo que na maioria dos casos estudados a capacidade de vocalização prevaleceu.

Os representantes do governo, na maioria dos conselhos estudados, apresentaram maior capacidade de vocalização do que agenda, no entanto essa

variação foi muito pequena. O mesmo ocorreu com o segmento do usuário, pois, em sete dos dez conselhos analisados, a capacidade de vocalização foi maior do que de agenda. Somente nos conselhos de Belo Horizonte e Divinópolis que a capacidade de agenda foi maior, o que pode ser reflexo de falas que continham mais de um tema relevante para a agenda. Destaque para Poços de Caldas que apresentou a mesma capacidade de agenda e de vocalização e para Governador Valadares que apresentou uma maior distância entre as capacidades.

O segmento dos trabalhadores também apresentou maior capacidade de vocalização do que agenda. Já em relação aos prestadores de serviço as capacidades quase não variaram sendo baixas em ambas.

Em relação aos atores externos, os oriundos do governo tiveram maior capacidade de agenda, já os da sociedade civil a variação foi mínima. E quanto às estruturas dos conselhos, a ordem se inverte, as comissões/câmaras temáticas, a mesa diretora e a secretaria executiva apresentaram maior capacidade de agenda do que vocalização, fato que pode ser explicado pelo papel que essas estruturas desempenham nos conselhos.

Desse modo, ao comparar as capacidades de vocalização e agenda de todos os segmentos que compõem o conselho, não se pode afirmar que existe uma correlação direta entre as duas capacidades. No entanto, ao observar os dados da tabela 3, verifica-se que, na maioria dos casos, o segmento que apresentou maior capacidade de vocalização também foi o que apresentou maior capacidade de agenda.

Tabela 3- Relação entre a Capacidade de Vocalização e de Agenda dos Segmentos (%)

Fonte:elaborada pela autora a partir dos dados da pesquisa, 2015.

Legenda: VOC= vocalização/ AGE= agenda/ Bar =Barbacena/ BH= Belo Horizonte/ Div = Divinópolis/ GV= Governador Valadares/ JF= Juiz de Fora/ PM = Patos de Minas/ PC= Poços de Caldas/ PN = Ponte Nova/ UBER = Uberaba/ UBERL = Uberlândia.

SEGMENTO BAR BH DIV GV JF PM PC PN UBER UBERL

CAPACIDADES VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE VOC AGE

Ator Externo Governo 3,32 6,61 3,87 4,81 6,86 5,00 15,07 13,61 8,99 4,64 22,60 19,80 8,23 4,17 4,84 4,88 10,82 11,67 6,74 9,95 Ator Externo Sociedade

Civil 0,49 0,57 0,25 0,80 0,98 0,83 0,72 2,04 0,92 1,27 0,68 0,99 1,30 1,67 2,69 1,63 0,64 0,24 1,52 1,99 Ator Externo NI 4,67 3,16 14,59 8,82 8,33 7,50 3,35 1,36 4,15 1,27 4,79 2,97 0,87 0,83 1,08 1,63 1,80 1,19 1,74 1,49 Segmento Governo 10,20 6,03 5,86 2,14 11,27 5,00 4,07 0,68 7,72 8,86 10,27 11,88 19,91 19,17 20,43 18,70 2,45 0,00 13,04 14,93 Segmento NI 10,81 4,02 3,37 3,21 5,88 5,83 0,72 1,36 4,03 0,84 2,05 0,00 4,76 1,67 8,06 2,44 8,38 5,71 1,30 0,00 Segmento Prestador 5,53 1,15 0,24 0,00 4,41 4,17 2,87 0,00 0,92 0,42 0,68 0,99 9,52 1,67 1,61 0,81 2,45 1,90 1,09 1,49 Segmento Trabalhador 4,79 3,74 10,47 6,95 9,31 8,33 16,51 4,76 10,25 2,95 4,11 0,99 3,03 0,83 18,28 17,89 9,28 6,90 9,13 6,47 Segmento Usuário 28,01 18,97 17,71 22,99 20,10 22,50 18,90 4,76 20,51 7,17 10,27 5,94 15,15 10,83 11,83 11,38 25,26 21,67 9,13 7,96 Comissão/ Câmara técnica 0,12 0,29 2,87 1,87 0,00 0,00 1,91 3,40 4,72 9,28 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,90 0,95 3,91 3,48 Mesa Diretora 32,06 55,46 33,79 43,05 27,94 37,50 31,82 57,82 17,97 25,32 39,04 52,48 37,23 59,17 31,18 40,65 32,73 43,10 31,52 32,34 Secretaria Executiva 0,00 0,00 0,50 0,27 4,90 2,50 3,59 9,52 15,44 31,22 5,48 3,96 0,00 0,00 0,00 0,00 3,61 5,71 5,00 8,96 Ouvidoria 0,00 0,00 - - - 4,38 6,75 - - - -

Conselheiros Loc. Distr.

Estad. - - 6,48 4,81 0,00 0,83 0,48 0,68 0,00 0,00 - - 0,00 0,00 0,00 0,00 1,68 0,95 15,87 10,95

Dados semelhantes foram encontrados em outros conselhos de políticas públicas. No trabalho de Cunha (2009), realizado em cinco conselhos municipais de assistência social, foi confirmado à correlação entre a capacidade de vocalização e de agenda para todos os segmentos que compunha os conselhos, ou seja, o segmento com maior capacidade de vocalização também era o que apresentava maior capacidade em colocar temas para o debate público. Para Cunha (2009), uma possível explicação para tal fato deve-se a capacidade de influência de alguns membros dos conselhos que reflete tanto na sua maior expressão nas falas quanto na proposição de temas à deliberação.

A hipótese da autora pôde ser evidenciada nas entrevistas, momento em que foi possível constatar que a maioria dos conselheiros considera que alguns membros exercem maior influência nas deliberações e apontam a experiência no conselho, o conhecimento, algumas características da personalidade, como o poder de persuasão e a oratória, como sendo os principais motivos de deterem maior influência do que outros conselheiros, o que se expressaria na sua capacidade de vocalização e de agenda. Alguns depoimentos coletados para esta pesquisa ilustram esta percepção;

Aquele conselheiro que atua a mais anos no conselho, ele sempre tem, pela sua convivência, pela sua experiência que ele adquiriu nesses anos, ele sempre influi sim, porque, pela sua própria experiência, pela bagagem

que ele buscou (ENTREVISTA 16 – SEGMENTO USUÁRIO).

O presidente exerce uma influência grande, porque ele já é antigo no conselho, conhece mais as normativas do conselho, e ele tem um poder de persuasão importante (ENTREVISTA 1- SEGMENTO GOVERNO). Tem pessoa que se destaca, né, acaba tendo maior influência. [...] O poder de convencimento mesmo e a oratória, porque tudo é muito discutido, tudo é muito falado, então é a argumentação (ENTREVISTA 13- SEGMENTO USUÁRIO).

Ao analisar a capacidade de vocalização e de agenda presente nos conselhos, é possível inferir que eles têm se consolidado em espaços que possibilitam o debate público de diferentes atores vinculados à área da saúde e que têm apresentado capacidades variadas de vocalização e de agenda. No entanto, como colocado por Cunha (2015) a qualidade do processo deliberativo também depende do conteúdo da deliberação e não apenas da possibilidade de expressão e de colocar temas à agenda.

Nesse sentido, conhecer os temas que compõem a agenda dos conselhos e a forma como eles são apresentados é importante para conhecer melhor a dinâmica desses espaços, e é esta questão que será analisada na próxima seção.