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Capítulo 2: Estudo de caso: Grão-Ducado do Luxemburgo um perfil sucinto 2.1-Enquadramento e pertinência do estudo de caso

A. Relance sobre o enquadramento político

Ao longo dos seis meses em que acompanhei diariamente em diversas vertentes a atividade diplomática da Embaixada, com destaque para o setor económico, pude inteirar-me da situação político-económica luxemburguesa, da qual importa referir alguns aspetos. De salientar que tanto a SEXA Embaixadora como o Cônsul-Geral têm desenvolvido um programa de reuniões com personalidades da vida política e social luxemburguesa, tendo eu própria participado em alguns desses encontros.

Recorde-se que o Luxemburgo é uma monarquia constitucional, cujo chefe de Estado é o Grão Duque Henri (desde 2000). O atual primeiro-ministro é Xavier Bettel (desde Outubro de 2013).

Ao pensarmos na situação política recente do país deparamo-nos com duas fases: a primeira, particularmente longa no quadro europeu, que podemos apelidar de “período Juncker”, e uma segunda marcada pela chegada ao poder de Xavier Bettel (DP)34.

Jean-Claude Juncker, do CSV35, foi primeiro-ministro do Luxemburgo durante 18 anos. Em Julho de 2013, Juncker apresentou a sua demissão por ter sido associado a um escândalo relacionado com a supervisão do SREL (serviço de informações do Estado luxemburguês). Apesar do seu partido ter saído vencedor das eleições legislativas, que decorreram a 20 de Outubro de 2013, não conseguiu, contudo, alcançar uma maioria parlamentar que lhe permitisse formar governo, pois obteve apenas 23 dos 60 mandatos. Auscultadas as opiniões através de um mediador, constatou-se que nenhum dos partidos da oposição se mostrava disponível para formar coligação com o CSV. Nesta medida, três partidos (LSAP36, DP, Déi Greng37) decidiram coligar-se e apresentar a sua proposta ao Grão Duque Henri, que prontamente convidou Xavier Bettel, então burgomestre da cidade do Luxemburgo e líder do DP, a formar governo.

34 Partido Democrata 35 Partido Cristão 36 Partido Socialista 37 Os Verdes

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O governo liderado por Bettel tomou posse a 10 de Dezembro de 2013. Esta coligação depara-se agora com uma nova situação: a crise que afeta a União Europeia parece começar a atingir a economia luxemburguesa.

Na companhia de SEXA Embaixadora de Portugal no Luxemburgo, Dra. Rita Ferro, tive a oportunidade de assistir ao debate sobre o “Estado da Nação”, que decorreu no dia 2 de Abril de 2014, na Câmara dos Deputados. Durante o seu discurso, o novo primeiro-ministro luxemburguês, apresentou as principais linhas orientadoras da ação do governo: combater o desequilíbrio orçamental e o desemprego, apoiar a praça financeira, melhorar a educação, e caminhar no sentido de uma simplificação administrativa.

Xavier Bettel referiu que a dívida do país se situava nos 11 mil milhões de euros, e alertou para a perda de receitas provenientes do comércio eletrónico (equivalentes a 5 a 7% das receitas do Estado). Neste sentido, referiu a necessidade de aumento da TVA38 em Janeiro de 2015 (2% para três taxas, 15%, 12%, e 6% respetivamente, não se aplicando à taxa “super reduzida” de 3%). Tal medida será acompanhada de uma reforma fiscal anunciada para 2016, e de cortes que rondam os 231 milhões de euros no orçamento da administração pública.

O primeiro-ministro referiu também que “o nosso objetivo é ter uma praça financeira irrepreensível e de qualidade, mas vamos diversificar a nossa economia apostando nos sectores da logística, tecnologias da comunicação e da informação (TIC), eco tecnologias e investigação”. Referiu, por outro lado, a criação de um novo projeto “111 company” (uma empresa que pode ser constituída por uma só pessoa, num dia, com um custo de um euro), medida que visará então a facilitação da criação de novas empresas em território luxemburguês, constituindo um incentivo ao empreendedorismo.

Além disso, os valores do desemprego (7,3% em Julho de 2014, sendo que 20% na camada jovem), também preocupam o primeiro-ministro, que anunciou o reforço das competências da Agência para o Desenvolvimento do Emprego (ADEM). A falta de qualificação da mão-de-obra, e especialmente a questão da exigência

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linguística, conduziram Bettel a afirmar que “o Luxemburguês é a língua de integração”.

A preocupação com os problemas sociais não fica por aqui, prevendo-se um apoio a famílias jovens e monoparentais, um plano para o relançamento da natalidade, bem como a revisão do sistema social. O pacto de alojamento entre o Governo e os municípios, herdado do anterior executivo, deverá ser mantido. Prevê-se a possibilidade do casamento e adoção por homossexuais, bem como a despenalização do aborto.

A pressão que se faz sentir neste momento junto da praça financeira, devido ao processo de aprovação da Diretiva Poupança e do fim do sigilo bancário, previsto para 2015, também levaram o primeiro-ministro a manifestar o seu apoio ao setor financeiro, afirmando que, ao contrário do que os críticos possam afirmar esta poderá ser uma oportunidade para melhorar as suas competências e limpar a sua imagem de suspeição por eventual falta de transparência fiscal.

O Luxemburgo pretende desempenhar um papel importante no processo de internacionalização do renminbi, procurando tornar este país numa plataforma entre a América, a Europa, e a Ásia, transformando o Grão-Ducado num destino atraente para as multinacionais que operam no mercado chinês e que procuram financiamentos na moeda chinesa, e também para investidores internacionais que apostam na valorização do renminbi.

O “Bank of China Luxemburgo” lançou, em Maio de 2014, uma emissão de obrigações em renminbi (primeira emissão de uma entidade chinesa na zona euro), no valor de 1,5 mil milhões de euros, que deverá ser cotada na bolsa luxemburguesa. Tal emissão constitui um passo desta praça financeira para se aproximar do estatuto de Londres como centro de referência para os produtos de investimento chinês na Europa.

Encontram-se aqui instalados 3 grandes bancos chineses, aguardando-se a chegada de 4 novas entidades bancárias. Estima-se que 60% dos investimentos chineses na Europa deverão passar pelo Luxemburgo. Já aqui operam importantes empresas chinesas tais como a Huawei, e a HNCA que adquiriu 35% da companhia

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aérea luxemburguesa de transporte de carga, Cargolux, uma das mais importantes do setor a nível internacional, por 120 milhões de dólares, noticiou um jornal local39.

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