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2.2 RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO E PESQUISAS SOBRE NARRATIVAS

2.2.1 Relatório da Administração

No Brasil, o RA é uma peça integrante do conjunto de informações que as empresas de

capital aberto colocam à disposição do público em geral, juntamente com as demonstrações

contábeis, acompanhadas pelas notas explicativas e parecer da auditoria.

Segundo a pesquisa realizada por Procianoy e Rocha (2002), o relatório anual das

empresas brasileiras é, na maioria das vezes, elaborado pelo Diretor de Relação com os

Investidores (69% dos pesquisados) e aprovado pelo presidente (75,4%). Ainda, segundo os

pesquisados, o relatório anual é considerado o veículo mais utilizado pela companhia para a

comunicação com seus acionistas (90,8%).

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários descreve quais são os temas exigidos no

Relatório Anual, trazidos no artigo 133 da Lei 6.404 (CVM, 2009), quais sejam:

a) aquisição de debêntures de sua própria emissão (art. 55, § 2º);

b) política de reinvestimento de lucros e distribuição de dividendos constantes de acordo de acionistas (art. 118, § 5º);

c) negócios sociais e principais fatos administrativos ocorridos no exercício (art. 133, inciso I);

d) relação dos investimentos em sociedades coligadas e/ou controladas evidenciando as modificações ocorridas durante o exercício (art. 243).

A CVM complementa no Parecer de Orientação n° 15, publicado em dezembro de

1987, as informações trazidas pela Lei para as companhias abertas, fazendo recomendações

sobre as seguintes informações mínimas que devem ser apresentadas:

a) descrição dos negócios, produtos e serviços; b) comentários sobre a conjuntura econômica geral;

c) recursos humanos; números de empregados, investimento em treinamento, fundos de seguridade, planos sociais etc.

d) investimentos realizados; e) pesquisa e desenvolvimento; f) novos produtos e serviços; g) proteção ao meio ambiente; h) reformulações administrativas;

i) investimentos em controladas e coligadas; j) direitos dos acionistas e dados de mercado;

l) perspectivas e planos para o exercício em curso e os futuros (CVM, 2009).

Em 1989, a CVM publicou o Parecer de Orientação n° 17, com o objetivo de

apresentar procedimentos, que devem ser observados pelas companhias abertas e auditores

independentes quanto à elaboração e à publicação das demonstrações contábeis, do relatório

da administração e do parecer de auditoria. Nesse documento, a CVM afirma que o

“acompanhamento das demonstrações contábeis de 1987 revelou uma melhoria na qualidade e na quantidade das informações fornecidas” e não apresenta novas orientações para o RA, por já terem sido “exaustivamente exemplificadas no Parecer de Orientação nº 15/87”. Entretanto, a Comissão reafirma a necessidade da apresentação dessas informações no RA, ao afirmar

que a sua divulgação é considerada indispensável (CVM, 2010).

A CVM emitiu a Deliberação n° 488, em outubro de 2005, que traz, mais uma vez,

uma proposta de conteúdo mínimo que deve ser apresentado no Relatório da Administração.

a) descrição dos negócios, produtos e serviços, comentários sobre a conjuntura econômica geral relacionada à entidade, incluindo concorrência nos mercados, atos governamentais e outros fatores exógenos materiais sobre o desempenho da companhia; informações sobre recursos humanos; investimentos realizados; pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e serviços; reorganizações societárias e programas de racionalização; direitos dos acionistas e políticas de dividendos, societárias e perspectivas e planos para o período em curso e os futuros; b) fatores principais e influências que determinam o desempenho, incluindo mudanças no ambiente no qual a entidade opera, a resposta da entidade às mudanças e seu efeito, a sua política de investimento para manter e melhorar o desempenho; c) fontes de obtenção de recursos da entidade;

d) os recursos da entidade não reconhecidos no balanço por não atenderem à definição de ativos.

De acordo com essa Regulamentação, o Relatório da Administração deverá descrever

e explicar quais as principais características do desempenho financeiro e os principais riscos e

incertezas que a entidade enfrenta (CVM, 2010).

O Pronunciamento CPC 26, publicado e aprovado pela CVM, em julho de 2009,

também trouxe informações acerca do RA. Segundo o pronunciamento, o RA deve incluir as

seguintes análises:

(a) dos principais fatores e influências que determinam o desempenho, incluindo alterações no ambiente em que a entidade opera, a resposta da entidade a essas alterações e o seu efeito e a política de investimento da entidade para manter e melhorar o desempenho, incluindo a sua política de dividendos;

(b) das fontes de financiamento da entidade e a respectiva relação pretendida entre passivos e o patrimônio líquido; e

(c) dos recursos da entidade não reconhecidos nas demonstrações contábeis de acordo com os Pronunciamentos.

Em novembro de 1995, foi criado o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBGC) e, em 2001, o Instituto publicou a primeira versão do documento denominado de

Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, que adota a transparência, a

prestação de contas, a equidade e a responsabilidade corporativa como princípios a serem

seguidos pelas empresas (IBGC, 2010b). A quarta edição desse código, publicada em

setembro de 2009, traz os seguintes textos relacionados ao RA:

O Conselho deve prestar contas aos sócios, incluindo um parecer sobre o relatório da Administração e as demonstrações financeiras, além de propor, para deliberação da

assembleia, a remuneração anual dos administradores, sempre vinculada a um processo de avaliação dos órgãos e de seus integrantes (IBGC, 2010a, p. 30).

Sobre a avaliação formal do desempenho do Conselho e de cada um dos conselheiros, tem-se:

“Recomenda-se que o processo e os resultados da avaliação sejam divulgados aos sócios por meio de um item específico no relatório da Administração” (IBGC, 2010a, p. 39).

Em 2006, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento

(UNCTAD) publicou um guia sobre boas práticas para a apresentação de informações sobre a

governança das empresas (Guidance on Good Practices in Corporate Governance Disclosure

– GGPCGD), que revisa a publicação apresentada em 2002. Esse documento é apresentado

em seis seções, sendo que a primeira trata sobre a evidenciação de informação financeira e a

segunda sobre informação não financeira. Essa seção é detalhada nos seguintes assuntos: (a)

objetivos da empresa; (b) composição do capital social e direito dos acionistas; (c) mudanças

no controle e operações em partes substanciais de ativos corporativos; (d) estruturas e

políticas de governança: (d.1) estrutura, papel e funções do conselho de administração, (d.2)

comitês do conselho de administração; (d.3) normas éticas e estrutura de apoio; (e) membros

do conselho e executivos principais: (e.1) obrigações e qualificações; (e.2) mecanismos de

avaliação; (e.3) remuneração dos diretores; (e.4) planos de sucessão; (e.5) conflitos de

interesses; (f) questões relacionadas com as partes interessadas e à gestão ambiental e social;

(g) principais fatores previsíveis de risco; (h) independência dos auditores externos; e (i)

função da auditoria interna (UNCTAD, 2010).

Como se pode observar, existem diversas normatizações e recomendações sobre

informações que, embora não haja obrigatoriedade de cumpri-las, uma vez divulgadas nos