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3.3 Com a palavra o pólo ambientalista

3.3.2 Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, com relatório do deputado Luciano Zica do PV-SP, também tem como base a proposta original do deputado Sérgio Carvalho que emitiu parecer rejeitando o PL nº. 1.876/99, com os seguintes argumentos:

a) A lei nº. 4.771/65 é criadora de institutos jurídicos de alta relevância para o direito ambiental, como as áreas de preservação permanente e a reserva legal, além de dispor sobre reflorestamento e exploração florestal. Como o diploma legal é antigo, diversas alterações foram efetuadas para torná-lo adequado às exigências das épocas. Cite-se, Leis 5.106/1966 que dispõe sobre os incentivos fiscais concedidos a empreendimentos florestais; 5.868/1972 que cria o sistema nacional de cadastro rural e dá outras providências; 5.870/1973 que acrescenta alínea ao artigo 16 do código florestal de 1965; 6.535/1978 que acrescenta dispositivo ao artigo 2º do código florestal de 1965; 7.803/1989 que acrescenta dispositivos no código florestal de 1965 e revoga disposições em contrário; 9.985/2000 que insitui o sistema nacional de regulamentação da natureza; e, mais recentemente, a Medida Provisória nº. 2.166-67/2001 que altera os arts. 1o, 4o, 14, 16 e 44, e acresce

dispositivos à Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o Código Florestal, bem como altera o art. 10 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, e dá outras providências.

b) A medida provisória, elaborada em processo coordenado pelo CONAMA e com a participação de vários órgãos governamentais, de representantes do setor produtivo, e das entidades ambientalistas (ZICA, 2006:6), estabeleceu mudanças significativas no atual Código Florestal, listados assim:

- no art. 1º da Lei 4.771/1965, inserem-se explicitamente na lei importantes conceitos, como os de “pequena propriedade rural”, “área de preservação permanente”, “reserva legal”, “utilidade pública” e “interesse social”;

- no art. 4º, detalham-se as exigências para supressão de vegetação em APP em caso de utilidade pública ou de interesse social;

- no art. 16, definem-se com clareza os percentuais de reserva legal a serem observados nas diferentes regiões, bem como as regras para sua delimitação e registro;

- no art. 44, são explicitadas alternativas para o proprietário de imóvel rural que não possui reserva legal ou a possui em área inferior à prevista legalmente, quais sejam: recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua complementação; conduzir a regeneração natural da reserva legal; ou compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia;

- fica estabelecido que não se permite a conversão de florestas ou outra forma de vegetação nativa para uso alternativo do solo na propriedade rural que possui área desmatada, quando for verificado que a referida área encontra-se abandonada, subutilizada ou utilizada de forma inadequada, segundo a vocação e capacidade de suporte do solo;

- cria-se o instituto da servidão florestal, mediante o qual o proprietário rural voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou exploração da vegetação nativa, localizada fora da reserva legal e da área com vegetação de preservação permanente. (ZICA, 2006:5-6)

Estas mudanças, segundo a comissão, representam grande avanço em relação ao texto original do Código Florestal, agradando inclusive os chamados ruralistas, visto que,

Essa é a posição da maior parte dos técnicos que atuam no setor, das entidades ambientalistas e, também, das organizações que representam os produtores rurais. Deve-se registrar que a MP acata algumas propostas antigas dos ruralistas, como o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente em APP no cálculo do percentual de reserva legal em determinadas situações e a possibilidade de compensação de reserva legal. (ZICA, 2006:6-7)

Há o expediente de arrolar diferentes parcelas da sociedade como atendidas ou beneficiadas. Os especialistas tem sua posição atendida com as mudanças; os ambientalistas e os ruralistas são igualmente atendidos nos seus interesses, vistos como diversos, mas aqui nivelados.

c) A medida provisória, conta ainda com decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF), em relação à sua constitucionalidade; isto porque, em 2005 o Procurador Geral da República ajuizou ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, em face do art. 1º da MP 2.166-67/2001, na parte em que altera o art. 4º, caput e §§ 1º a 7º, do Código Florestal.

Tal dispositivo legal trata da supressão de vegetação em áreas de preservação permanente e o pedido liminar na cautelar se fundava em alegação de que o CONAMA estaria prestes a autorizar, por meio de resolução, que o gestor ambiental apurasse a utilidade pública de um empreendimento de mineração autorizando, sem lei, a supressão da vegetação em área definida como área de preservação permanente. (Brasil, 2006:7). A liminar foi concedida pelo Ministro Nelson Jobim que, reconhecendo o fumus boni iuris14 e o periculum in mora15, suspendeu, até o julgamento final da ação, a eficácia do art. 4º, caput, e §1º ao §7º da Lei nº. 4.771/65, atual código florestal.

Ocorre que o Supremo Tribunal Federal reviu essa posição e, em 01.09.2005, o Tribunal, por maioria, negou referendo à decisão que deferiu o pedido de medida cautelar, nos termos do voto do relator, Ministro Celso de Mello. Compreendeu o relator que a MP 2.166-67/2001 não produziu efeitos lesivos ao meio ambiente nos quatro anos de sua vigência e que ela “[...] longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente [...]”. O próprio Ministro Nelson Jobim reconsiderou seu voto inicial.

Em razão da nova decisão do STF, o Conama reabriu o processo de debate sobre a regulamentação dos casos em que se pode admitir supressão de vegetação em APPs. (ZICA, 2006:8)

d) Diante dessas discussões, por estar adequada à medida provisória, qualquer proposta de alteração deveria ser feita na própria medida provisória, deliberando o congresso nacional, em atendimento à emenda constitucional nº.

      

14

“o fumus boni iuris é a probabilidade da existência do direito material objeto do processo” (SOUZA, 2011:206), cuja tradução literal é dada pela expressão fumaça do bom direito.

15

“O periculum in mora é o risco de dano ao resultado útil do processo principal em razão da demora na prestação jurisdicional satisfativa do direito material do jurisdicionado naquele processo” (SOUZA, 2011:206), cuja tradução literal é dada pela

32/01, sobre a revogação ou manutenção da medida provisória. Nas palavras do relator da comissão:

(...) considero o momento completamente inoportuno para que esta Casa debata um novo Código Florestal, proposta do PL 1.876/1999. Além disso, as principais alterações e complementações necessárias em relação à Lei 4.771/1965 já constam da MP 2.166-67/2001, e eventuais ajustes devem ser debatidos pelo Legislativo no âmbito do processo legislativo relativo à MP em questão. Essa constatação também se aplica à proposta trazida pelo PL 4.524/2004.

Assim, sou pela rejeição dos Projetos de Lei nº 1.876, de 1999, e nº 4.524, de 2004. (ZICA, 2006:8)

Tem-se, até então, uma questão que envolve, além da discussão sobre a medida ambiental em si, uma questão de técnica jurídica, visto que até que se altere a legislação florestal, a medida provisória nº. 2.166-67 de 2001 continuará em vigor, sem, contudo, que tenha o poder legislativo apreciado sua revogação ou conversão em lei.

 

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