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III. Análise da evolução d os critérios políticos de adesão: 2005 a 2016

III.3. Relatório de progresso da Turquia em 2007

O relatório referente a 2007 tem início com a decisão da Comissão Europeia em não abrir negociações em oito novos capítulo devido às restrições colocadas pela Turquia nas questões relacionadas com Chipre. A abertura desses capítulos encontrava-se dependente do

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cumprimento das condições submetidas à Turquia nesta matéria, tais como a implementação total do Protocolo Adicional para o Acordo de Associação.

Independentemente de não terem sido iniciadas as negociações nos oito capítulos, a relação entre a Turquia e a União Europeia continuou a florescer da mesma forma como tinha sido até então, através de uma cooperação e apoio em relação aos principais desafios identificados pela Comissão Europeia para que a Turquia cumprisse os critérios políticos de Copenhaga e as negociações ganhassem uma nova dimensão.

Foram introduzidas mudanças em relação à Constituição turca. A Comissão Europeia (2007: 6) sublinhava a “adoção de um pacote de reformas constitucionais proposto pelo partido que detém a maioria, o AKP”. O conteúdo deste pacote centrava-se na eleição do presidente através do voto popular, algo que não acontecia anteriormente, e que o mandato do governo passaria para quatro anos em vez de cinco. A aprovação destas reformas dependia de um referendo a realizar em Outubro.

O AKP, liderado por Erdoğan, foi novamente eleito, e o seu compromisso com a adesão ao projeto europeu foi reiterado. De acordo com a Comissão Europeia (2007: 7), o governo “planeia continuar as reformas constituições extensivas de modo a alinhar a Turquia com os padrões internacionais na área dos direitos fundamentais”, e de modo a fortalecer este compromisso foi criado um mapa que iria ter como função orientar a implementação destas

reformas. Ainda de acordo com a Comissão Europeia (2007: 7) esse mapa iria “oferecer uma

orientação interna para alinhar os ministérios com o acervo comunitário cobrindo assim o alinhamento com a legislação primária e secundária que deve ser adotada em 2007 a 2013”. É importante referir que o Ministério dos Negócios Estrangeiros continuava à frente do processo de negociações com a União Europeia, e neste sentido, o Secretariado Geral para os Assuntos Europeus foi colocado sob a égide do ministério, continuando a coordenar o processo, nomeadamente nas questões relacionadas com os critérios políticos. A Comissão Europeia (2007:7) considerava que, dentro do papel significativo que este secretariado desempenhava, o mesmo deve “ser fortalecido assim como o seu staff e recursos”, porém não foram registadas mudanças.

À semelhança do que tem sido verificado em anos anteriores, as Forças Armadas turcas continuavam a exercer uma influência significativa na política do país, com declarações públicas sobre temas (muitas vezes temas sensíveis como a questão curda e o secularismo) sobre os quais não deviam ter qualquer tipo de intervenção. A Comissão Europeia (2006: 9) referia “diversas tentativas dos membros seniores das forças armadas em restringirem investigações académicas

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e o debate público na Turquia, em particular em questões relacionadas com a segurança e direitos das minorias”. Como já referido nesta dissertação, esta realidade tem raízes profundas no passado da sociedade turca, onde as forças armadas e militares entendem que o seu papel deve ser de intervenção em todas as esferas, o que não vai ao encontro do que acontece nos estados-membros europeus e na comunidade internacional.

No que diz respeito ao sistema judicial, as preocupações em relação à sua independência e imparcialidade permaneciam, apesar de terem sido registados progressos em relação à eficiência do sistema, implementação de reformas e alinhamento com os padrões internacionais. É importante a introdução das tecnologias de informação no sistema judicial turco que se traduziam em alterações benéficas, como a simplificação e organização do sistema. Ao contrário, não tinha sido criada uma estratégia anticorrupção, nem um organismo com a função de desenvolver e avaliar progressos na formulação de políticas para erradicar a corrupção no sistema judicial e na própria sociedade turca. De acordo com a Comissão Europeia (2007: 11), as “instituições envolvidas na luta contra a corrupção, tais como quadros de inspeção não foram fortalecidos”, e não existia a recolha de dados/estatísticas que seria importante para identificar áreas que necessitassem de maior intervenção. Sem estes mecanismos, o progresso nesta matéria seria sempre limitado. A Comissão Europeia (2007: 11) recomendava “o desenvolvimento de uma estratégia anticorrupção com a criação de um órgão central para coordenar a sua implementação, e para fortalecer a legislação”.

Já a política de não tolerância perante a tortura e maus tratos teve resultados positivos. De acordo com a Comissão Europeia (2007: 60), as reformas legislativas para ir ao encontro das lacunas existentes nesta matéria continuavam a ter efeitos benéficos e a “tendência de decréscimo do número de casos de tortura e mau tratamento é confirmado”. No entanto, continuavam a ser reportados casos dentro e fora dos centros de detenção, continuando a não existir um organismo independente para regular estas situações.

Em relação à luta contra a impunidade em matéria de violação dos direitos humanos mantinham-se as preocupações existentes em anos anteriores. Esta questão tem uma importância central, sendo necessário que as violações em matérias de direitos humanos sejam punidas de acordo com os princípios internacionais. A Comissão Europeia (2007: 13) apontava “a falta de investigações imparciais e independentes acerca das alegações de violações dos direitos humanos da parte de membros das forças armadas”, sobretudo na região do Sudeste. Os procedimentos criminais neste sentido, devido à falta de investigações eficazes e imparciais,

resultavam, de acordo com a Comissão Europeia (2007: 13), em atrasos devido à “falta de

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sublinhava, novamente, a inexistência de mecanismos “de monitorização independente nos locais de detenção da parte de organismos nacionais independentes, e a adoção do protocolo opcional das Nações Unidas da Convenção contra a tortura ainda se encontra pendente”. À semelhança de anos anteriores, continuavam a não existir melhorias significativas, apesar das recomendações constantes, com medidas explícitas que a Turquia de forma persistente continua a não implementar.

Nas matérias relacionadas com liberdades individuais, como a liberdade de expressão, o quadro mantem-se igual aos anos anteriores: não foram alteradas as provisões do código penal e criminal que permitiam uma interpretação dupla que resultava em punições por expressar opiniões não violentas. Pelo contrário, a Comissão Europeia (2007: 14) afirmava que se registou “um aumento ainda mais elevado do número dos processos judiciais” durante o ano de análise. É importante recordar que o jornalista turco Hrant Dink, de origem arménia, ao longo dos anos teve um elevado número de processos e acusações por expressar opiniões não violentas sobre questões históricas, foi assassinado em 2007. A Comissão Europeia (2007: 15) refere que a sua morte teve uma interpretação dupla na sociedade: tanto levou “a um movimento de solidariedade na sociedade turca, mas também foram registadas expressões de apoio aos perpetuadores”. A Comissão Europeia (2007: 15) voltava a referir que estes “procedimentos judiciais e ameaças contra defensores dos direitos humanos, jornalistas e académicos, criou um clima que levou à ocorrência de situações de censura no país”.

A questão das minorias mais uma vez não sofria alterações. Em relação à situação no Sudeste da Turquia não se verificavam mudanças positivas, pelo contrário, a nível socioeconómico as dificuldades permaneciam, tal como os ataques perpetrados pelo PKK. A Comissão Europeia (2007: 23) relatava um ataque bombista suicida em Ancara, que demostra a violência terrorista “contra cidadãos ao longo de todo o país”, e como tal, a luta contra o terrorismo foi fortalecida com o estabelecimento de zonas de segurança em regiões fronteiriças, com medidas de segurança mais restritas.

A situação face a Chipre permanecia igual, com o compromisso de resolução reforçado pela Turquia, mas transposto para a realidade. Os protocolos continuaram a não ser cumpridos, pelo que o Conselho Europeu decidiu que as negociações de acesso não iriam ser iniciadas em oito capítulos e que mais nenhum seria iniciado até que a as restrições que a Turquia impôs ao Chipre fossem levantadas.

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