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3. Ética e Responsabilidade Social

3.4. Ética e Responsabilidade Social no Relato

3.4.1. Relatório de Sustentabilidade

De forma a uniformizar a divulgação de informação, nomeadamente o tipo de informação e a forma de a apresentar nos Relatórios de Sustentabilidade, diversas instituições têm desenvolvido várias estruturas de divulgação da informação voluntária através da normalização de definições, formatos e indicadores de desempenho. Neste contexto, uma das tentativas de normalização dos Relatórios de Sustentabilidade é o dado pela GRI e aplicado por muitas das empresas que divulgam informação voluntária (Domingos, 2010). Neste sentido, em Portugal em 2006 as diretrizes da GRI eram o standart referido por cerca de 67% das empresas que utilizava o modelo para selecionar os conteúdos de um relatório de sustentabilidade (KPMG, 2006), em 2013 das empresas portuguesas que elaboraram relatório de sustentabilidade mais de 90% das empresas fizeram-no seguindo as diretrizes da GRI (KPMG, 2013a). Assim, constata-se que em Portugal as diretrizes da GRI são o standart adotado para a elaboração do Relatório de Sustentabilidade.

No final dos anos 90 constatou-se que existia várias diretrizes amplamente aceites internacionalmente para o relato do desempenho financeiro das empresas, porém o mesmo não acontecia para a medição e relato dos aspetos económicos, ambientais e sociais (GRI, 2011). Neste contexto, em 1997 na cidade de Boston uma coligação liderada pela Coalition for

Environmentally Responsible Economies e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

decidiu assumir a responsabilidade de encontrar uma solução por meio de um extenso processo de consulta a empresas, Organizações Não Governamentais (ONG’s), especialistas e outras instituições internacionais envolvidas em questões socio-ambientais. A GRI foi criada com a missão de tornar os Relatórios de Sustentabilidade tão comuns quanto os relatórios financeiros e ser a guardiã das diretrizes (que não são exclusivas de nenhuma indústria ou sector podendo ser aplicadas por qualquer tipo de organização, com ou sem fins lucrativos, independentemente da sua dimensão) e do seu processo de produção. Sendo que o seu objetivo é incrementar a utilidade da informação divulgada, permitindo que esta seja

41 comparável, fiável e relevante. As diretrizes da GRI para a elaboração de Relatórios de Sustentabilidade consistem em princípios para a definição do conteúdo do relatório bem como para a garantia de qualidade das informações divulgadas/relatadas, incluindo também a composição do conteúdo do relatório (indicadores de desempenho e outros itens de divulgação), além de orientações à elaboração do Relatório sobre temas técnicos específicos (Almeida, Carvalho e Texeira Quirós, 2011). Em 2000 surgiu a primeira versão (G1) das diretrizes para elaboração de Relatórios de Sustentabilidade. Em 2002, foi lançada a segunda versão (G2), publicada em português em 2004, com o apoio do Instituto Ethos, num esforço conjunto de diversos agentes envolvidos. Desde 2002 que a GRI é líder no que diz respeito a programas de divulgação voluntária dentro da responsabilidade empresarial (Trebucq, Evraert e Nassif 2008 apud Almeida et al., 2011)18. Em 2006 foi lançada a terceira versão denominada G3. Em 2011, a GRI publicou uma atualização das diretrizes G3, denominada de G3.1. Em 2013 foi publicada a quarta geração de diretrizes (G4). As diretrizes GRI para relato de sustentabilidade são revistas periodicamente com o objetivo de proporcionar orientações mais adequadas e atualizadas para a preparação eficaz de Relatórios de Sustentabilidade. As empresas têm como opção continuar utilizando a versão G3.1 das diretrizes GRI até o final de 2015. A evolução da estrutura da GRI (2000), GRI (2002), GRI (2006) e GRI (2013), especificamente por via da reestruturação dos seus aspetos e indicadores, pode verificar-se no Quadro 3.1, em relação aos aspetos e aos indicadores dos desempenhos económico, ambiental e social.

Quadro 3.1: Evolução dos aspetos e dos indicadores do desempenho económico, ambiental e

social da GRI. GRI Desempenho Económico Desempenho Ambiental Desempenho Social

Aspetos Indicadores Aspetos Indicadores Grupos Aspetos Indicadores

2000 9 23 9 36 2 13 37

2002 5 10 7 16 4 16 24

2006 3 9 9 30 4 22 40

2013 4 9 12 34 4 30 48

Fonte: Adaptado de Almeida et al. (2011: 8).

18 TREBUCQ, S.; EVRAERT, S.; NASSIF, N.M. – Adoption of GRI's Guidelines Reporting by European companies. EAA Roterdão, 2008.

42 Para Moneva, Llena e Lameda (2005 apud Almeida et al., 2011)19o reduzido crescimento dos indicadores de desempenho económico prende-se com o facto das partes interessadas por este desempenho alcançarem de forma mais facilitada informações financeiras para satisfazer as suas necessidades através de outros meios de comunicação. Neste contexto, e analisando o Quadro 3.1 pode constatar-se que a G4 veio dar continuidade ao aumento dos aspetos e indicadores do desempenho ambiental e do desempenho social.

A G4 tem como principal objetivo ampliar a adesão à publicação de Relatórios de Sustentabilidade por qualquer tipo de organização. Assim, aumentou a facilidade de aplicação, uniformidade e qualidade técnica, incorporando alterações na metodologia geral do relatório e comunicação (KPMG, 2013b). Outro objetivo é detalhar as informações (forma de gestão e indicadores) sobre os tópicos relevantes à organização ou às suas várias partes interessadas. A tendência dos relatórios baseados na diretrizes do G3, de dar enfase à quantidade (número de indicadores) e não à qualidade (foco em temas relevantes) levou à proposição de novas diretrizes sobre a materialidade e limites dos relatórios e maior destaque às informações sobre as formas de gestão. Neste sentido, as diretrizes G4 prepõem adotar um único conjunto de critérios de conformidade que inclui a obrigatoriedade de divulgar todas as informações de Perfil e de Forma de Gestão e indicadores essenciais para todos os tópicos relevantes, e ainda dos indicadores do suplemento sectorial (caso se aplique) e uma declaração de conformidade da presidência ou órgão superior de governação (ibid.). Neste contexto, e em conformidade com a KPMG (2013b: 4) «[o] resultado tende a ser uma redução no foco e a divulgação de informações excessivas /quantidade e não qualidade), com relatórios extensos e dados de baixa qualidade».

Até à publicação das diretrizes G4 a organização após a elaboração do relatório devia declarar o nível que aplicou, através dos níveis de aplicação. Assim, proporcionaria aos utilizadores do relatório, clareza sobre a extensão em que as diretrizes da GRI foram aplicadas, existindo três níveis no sistema C, B e A (sendo o nível A declarado quando todos os indicadores essenciais são divulgados), uma organização podia ainda declarar um (+) em cada nível se o relatório fosse alvo de verificação por uma entidade externa. Com a publicação das diretrizes G4 ocorreu a substituição dos níveis de aplicação por duas opções de reporting “de acordo”: a opção Essencial e a opção Abrangente (PwC, 2013). A opção Essencial contém os elementos

19 MONEVA, J.; LLENA, F., LAMEDA, I. – Calidad De Los Informes De Sostenibilidad De Las Empresas Españolas. In XIII Congreso de La Asociacion Española De Contabilidad Y Administracion De Empresas (AECA). Oviedo, 2005.

43 essenciais de um Relatório de Sustentabilidade, ou seja, é relatado os impactes do seu desempenho económico, ambiental, social e de governança, enquanto a opção Abrangente parte da opção Essencial, exigindo a divulgação de informações adicionais sobre a estratégia, análise, ética e integridade da organização (GRI, 2013).

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