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Estudo 4 – Conhecimento tradicional

3.5.3 Relatórios dos estudos pelo MVC e a validade de conteúdo

A validade de conteúdo tem por objetivo responder se os elementos desenhados na pesquisa e a análise de dados são consistentes com a teoria econômica, com a prática estabelecida e com o objetivo da valoração (POE, 1998). Um relatório dessa natureza serve a dois propósitos, segundo Boyle (2003). O primeiro seria para fazer uma análise da situação real do ativo ambiental a ser valorado, porque nem sempre os dados primários estão disponíveis para avaliações e verificações mais criteriosas. E o segundo proposito seria para avaliar possibilidades de transferência de valor para a aplicação de novas políticas públicas, seja para implementá-las ou para punir infrações contra o patrimônio ambiental.

Para atingir os objetivos a que se propõe, um relatório de difusão de valoração ambiental requer uma comunicação clara das informações, incluindo detalhes sobre todos os passos alçados na valoração dos ativos. Boyle (2003) disserta sobre esses passos sem contudo estrutura-lós e exemplifica-lós. Decidimos, a partir dessa inspiraçao, proceder uma sistematização mais rigorosa desses passos, sistematização essa que passamos a discutir. Atendido todos os itens, do relatório, os documentos seriam uteis para validar o conteúdo e as estimativas de valor acertadas aos ativos ambientais. O Quadro 3.6 apresenta os itens imprescindíveis.

Quadro 3.6 – Itens indispensáveis a um relatório de Pesquisa do Método de Valoração Contingente

Itens do relatório de pesquisa 1. A aplicação do estudo

2. A definição teórica do valor 3. O quadro amostral

4. Modo de pesquisa e taxas de respostas

5. Descrição dado ativo ambiental e cenário de valorização da pesquisa 6. O formato de avaliação contingente utilizado

7. Características sociodemográficas dos respondentes e uso do recurso

8. Método de análise de dados, incluindo o tratamento de valores $0 e respostas de protesto e a equação de estimação

9. Estimativas de tendência central e dispersão dos dados e métodos utilizados para o cálculo da DAP

3.5.2.1 Exemplo da aplicação dos estudos por área do MVC

O relatório dos resultados das pesquisas brasileiras quando usam o MVC são muito diversificados e, em muitos casos, não permitem a avaliação da validade dos conteúdos. Os quatro relatórios de estudos (artigos) escolhidos para representar cada área das pesquisas em valoração contingente são avaliados segundo os itens sugeridos no quadro3.6. Foram usados os seguintes códigos: Item Completo (IC); Item Incompleto (IIC); e Item Não Realizado (INR). Os estudos estão assim divididos: Estudo 1 – MVC 1; Estudo 2 – MVC 2; Estudo 3 – MVC 3; e Estudo 4 – MVC 4. Os autores que os representam estão no quadro do apêndice B.5 e os resultados expressos no Quadro 3.7.

Quadro 3.7 – Avaliação de relatório de estudos brasileiros do Método de Valoração Contingente

Itens Estudo 1 Estudo 2 Estudo 3 Estudo 4

IC IIC INR IC IIC INR IC IIC INR IC IIC INR

A aplicação do estudo X X X X A definição teórica do valor X X X X O quadro amostral X X X X Modo de pesquisa e taxas de respostas X X X X

Descrição dado ativo ambiental e cenário de valorização da pesquisa X X X X O formato de avaliação contingente utilizado X X X X Características sociodemográficas dos respondentes e uso do recurso X X X X Método de análise de dados, incluindo o tratamento de valores $0 e respostas de protesto e a equação de estimação X X X X Estimativas de tendência central e dispersão dos dados e métodos utilizados para o cálculo da DAP

X X X X

Total 3/9 4/9 2/9 3/9 3/9 3/9 6/9 3/9 0/9 5/9 3/9 1/9

O Quadro 3.7 aponta que o artigo MVC 3 está mais próximo do que seria um relatório ideal para o MVC, aqui não inexiste um rigor estatístico a pontuação somente serve como norteador de itens certos, incompletos ou errados. Problemas recorrentes como quadro amostral inexistente e ou incompleto promovem o aviltamento da pesquisa, uma vez que não se pode fazer inferência dos resultados. A descrição do ativo e cenário de valorização incompletos leva a resultados errôneos no valor do ativo. As características sociodemográficas do respondente e uso do ativo inexistentes ou incompletos podem mascarar as respostas porque as expectativas de vida dos indivíduos e o meio em que estão inseridos, bem como seu grau de instrução, interferem, e muito, nos valores declarados na DAP. Conhecer os respondentes, com certeza, direciona melhor a pesquisa, levando-a a atender os diferentes interesses.

Quadro 3.8 – Sugestões de checklist detalhado para um relatório de pesquisa

1 Aplicação do Estudo 2 Definição teórica do valor

3 Quadro amostral População Amostra Amostragem Fórmula usada 4 Coleta de dados

5 Pré-teste e grupo focal

6 Do recurso

Veículo de pagamento Cronograma de pagamento Entidade administrativa do recurso

Informações sobre os bens/ serviços substitutos

7 Cenário da pesquisa Real

Hipotético

8 Formato de avaliação contingente utilizado

Informações dos entrevistados Informações auxiliares Informações de fronteira 9 Caracterização sociodemográficas dos inquiridos e uso do recurso

10 Método de Análise de dados

Resposta de protesto Resposta zero

Equação de estimação 11 Estimativas de tendência central e dispersão dos dados

12 Método do cálculo e da agregaçãoda DAP

O Quadro 3.8, apresenta uma lista para verificação de itens que não podem faltar para que os relatórios das pesquisas brasileiras sejam transformados em documentos para uso em políticas públicas ou uso judicial. Essa lista tem o intuito de uniformizar as informações necessárias ao uso MVC e dar mais visibilidade aos trabalhos científicos. Não existe a pretensão de criar um rigor formal nas pesquisas e inibir o poder criativo de cada pesquisador, mas fornecer meios para se verificar se as informações contidas nos relatórios conseguem aglutinar o maior número possível de informações. Nesse ponto já se pode extrair algumas conclusões que são apresentadas na próxima seção.

3.6 COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS

No Brasil, quando se fala em valoração, tudo é novo. As avaliações ambientais, ora produzindo valores reducionistas, ora extrapolados, não obedecendo a uma inferência adequada, procuram sempre um meio termo, e essa busca leva ao confronto de métodos de valoração. Mas quando o debate está direcionado às perdas irreversíveis das potencialidades do ambiente é difícil ignorar todos os problemas enfrentados.

O MVC ainda não está sendo aplicado no Brasil conforme todas as diretrizes sugeridas pelo Painel NOAA. Entre os fatores que mais afetam a aplicação do método estão: vencer todos os vieses; a descrição do cenário; o uso de uma amostra realmente significativa e abrangente. No final de duas décadas de estudo, ainda sabemos pouco, avaliamos pouco e não adquirimos tradição suficiente para valorar produtos de não mercado com a eficiência desejada.

Os pesquisadores avançaram muito, mas a restrição do conhecimento aos interiores dos muros acadêmicos tem dificultado a cooptação de um valor real para o meio ambiente no processo VC. A sociedade deveria ser mais envolvida, expressando seu juízo de valor segundo suas preferências e utilidade. Porém isso só pode ocorrer se for bem informada da grandiosidade do ativo a ser valorado. Muitas vezes é convidada a fazê-lo, mas o entendimento sobre o bem ou serviço que valora é reduzido, porque outros bens e serviços estão também em jogo.

Observou-se que, quando o objeto de valoração está bem próximo da realidade do indivíduo e atua diretamente a favor ou contra seus interesses, o valor imputado é mais homogêneo, porque envolve um mesmo interesse. Contudo, se o ativo ambiental tem pouco significado, ou sua percepção está ofuscada pela complexidade e extensão do bem ou serviço, os indivíduos se omitem em valorar ou passar essa responsabilidade a outros que julgam ser mais qualificados.

Os pesquisadores deveriam debater mais o tema, explicar melhor através de suas pesquisas os processos, suas experiências, usar a mídia a seu favor para que a população pudesse participar mais dos conhecimentos científicos e, só assim, ter condições de expressar um valor mais próximo da realidade. Assim, em termos práticos, na ausência de mercado dos quais possam derivar direta ou indiretamente valores de uso, faz-se isso quantificando o consentimento marginal para pagar ou aceitar, considerando respectivamente aquisição ou renúncia do bem avaliado.

Cada pergunta merece uma resposta. Se bem entendida, a resposta também será clara. Se mal interpretada, a resposta poderá apresentar a dúvida da pergunta. Para se responder com eficiência, precisa-se conhecer o tema. Para se perguntar, precisa-se conhecer o ambiente do interlocutor. Isso significa que o cenário que antecede a DAP deve ser bem projetado, claro, preciso e simples. Com raras exceções, as perguntas sobre a DAP feitas nos trabalhos de pesquisa no Brasil têm alcançado seus objetivos, porém o conhecimento para se responder é que ainda embaraça o momento da valoração.

CAPÍTULO 4