Koike, Hara e Adachi (1999) [29], mostraram que a evolução temporal, pró- xima à solução crítica, pode ser considerada como um grupo de renormaliza- ção, que ui no espaço de dados iniciais. Para equações diferenciais simples, parabólicas ou hiperbólicas, pode-se denir um semi-grupo discreto de re- normalização, atuando nas soluções das equações diferencias. Nesse aspecto, soluções são pontos xos, são invariantes por alguma escala bem denida e são, frequentemente, pontos críticos.
Nessa seção vimos que, com uma escolha apropriada de shift e lapso, pode-se transformar a evolução temporal, denida pelas equações do campo, em um sistema dinâmico.
4.5.1 A escolha de funções métricas
Vamos construir o espaço de fase com uma métrica (espacial) de uma varie- dade tridimendional e com a curvatura extrínseca da decomposição (3 + 1) do espaço-tempo [2].
Nessa seção, todos os dados iniciais são assintoticamente planos, para podermos representar um sistema isolado que possui auto gravidade.
Em uma notação sem muito rigor, as equações que têm a seguinte estru- tura
˙h, ˙K = F (h, K, α, β) ,
onde hij são as componetes da parte espacial da métrica, Kij são as compo-
nentes da curvatura extrínseca, α é a função lapso, β é a função shift e F é um operador diferencial não linear, de segunda ordem, e linear em α e β, são chamadas de equações ADM.
A evolução temporal de um sistema dinâmico é denida, em princípio, por equações que têm a forma das equações ADM. Essas equações contêm o shift e o lapso como campos arbitrários fornecidos.
Para obtermos um sistema dinâmico autônomo, precisamos de uma des- crição do sistema que dene um shift e um lapso, em conjunto com os dados inicias.
O shift e o lapso podem ser pensados como geradores innitesimais de coordenadas, devido a liberdade de escolha que a Relatividade Geral propor- ciona.
Por meio de um shift conveniente, podemos incorporar uma escala na evo- lução temporal de um sistema dinâmico. Através de uma escolha adequada
de lapso, podemos criar uma escala, denida por um intervalo temporal cons- tante.
Uma escolha de shift e de lapso que exige que os pontos xos do espaço de fase sejam espaços-tempo CSS, e que seus limites circulares sejam espaços- tempo DSS, nos fornece uma solução crítica do tipo 2 [19].
Alternativamente, podemos escolher o shift e o lapso de maneira que os pontos xos sejam soluções estacionárias e que seus limites circulares sejam periódicos. Assim, as soluções críticas apresentam os fenômenos críticos do tipo 1.
O shift e o lapso são independentes dos dados iniciais e eles apenas inu- enciam nas coordenadas da métrica.
Especicando as equações (α, β) = F (h, K), podemos substituí-las nas equações ADM e, então, adquirir as equações ˙h, ˙K= F (h, K), que de- nem o sistema dinâmico [19].
Agora, temos condições de fazer a seguinte questão: Dado os dados ini- ciais, existe uma descrição do shift e do lapso de maneira que se esses têm informações de uma solução auto-similar, o resultado da evolução temporal é uma métrica, que apresenta auto-similaridade ? Ou seja, após a evolução de um campo escalar sem massa, minimamente acoplado, com simetria esférica, a métrica resultante tem a forma da equação (4.13) ?
Garnkle e Gundlach (1999) [16] conseguiram várias combinações de con- dições para o shift e o lapso, que deixa o espaço-tempo CSS invariante e coloca o espaço-tempo DSS dentro de um círculo limite.
Assim, a solução encontrada por Choptuik (1992) [7], para a evolução de um campo escalar sem massa, com simetria esférica e minimamente acoplado, possui um círculo limite, pois a solução de Choptuik é DSS. Mesmo sem ainda ter apresentado o signicado de soluções DSS, um esboço do círculo limite foi apresentado na gura 3.2.
A principal diculdade, na escolha de uma combinação de shift e lapso, está na especicação das equações (α, β) = F (h, K). Isso se deve às condi- ções de contorno adequadas, necessárias para xar o espaço-tempo CSS em um ponto xo (ou o espaço-tempo DSS em um círculo limite).
Assim, uma boa escolha de shift e lapso não é suciente para garantir que a solução seja auto-similar.
4.5.2 As variáveis do espaço de fase
Para obtermos dados iniciais que, após uma evolução temporal, a solução seja auto-similar, além de uma boa escolha de shift e lapso, é preciso uma escolha adequada de variáveis. Essas variáveis especicam as componentes
Z (xi), do vetor Z (x), e esse vetor é justamente, o vetor que determina o estágio do sistema dinâmico em um tempo xo.
Dado um espaço-tempo estático, ou periódico, é usual escolhermos h e K para serem as variáveis do espaço de fase.
Os dados de Cauchy, de um campo gravitacional, são as componentes da parte espacial da métrica, se considerarmos que hij xk
e Kij xk
são induzidos pelos dados de Cauchy, em uma parte do espaço-tempo denido pelo sistema de coordenadas da equação (4.5),
gµν τ, xi = l2e−2τgµν xi ,
obtemos
hij(x, τ ) = l2e−2τhij(x) (4.60)
e
Kij(x, τ ) = l e−τKij(x) , (4.61)
onde i, j, k = 1, 2, 3 e as variáveis hij e Kij são determinadas pelo Momentum
e pela Hamiltoniana do problema [19].
Frequentemente, designa-se dimensões para essas variáveis, as coordena- das xi e τ são adimensionais, l e−τ tem dimensão de comprimento e g
µν tem
a dimensão de l2. Dessa denição, segue que h
ij e Kij tem dimensão de l2 e
de l, respectivamente e hij e Kij são adimensionais.
Note que é preciso a variável τ para construir as variáveis físicas, a partir das variáveis destacadas por barra.
Uma diculdade em formular a Relatividade Geral, como um sistema dinâmico, é que uma vez determinado o shift e o lapso, o espaço-tempo não necessariamente corresponde a uma única trajetória, no espaço de fase. E também, a solução crítica pode não corresponder a um ponto crítico.