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1.5 Revisão da literatura: estudos sobre os modos verbais em espanhol

1.5.1 Orações substantivas

1.5.1.4 Relativos à abordagem sociolinguística

Os estudos sociolinguísticos têm oferecido instrumentos para a caracterização dos modos da língua espanhola, atestando a importância de relacionar as distintas variáveis sociais para explicar a correlação com os fenômenos linguísticos.

Silva-Corvalán (1994), por exemplo, se refere ao espanhol falado na cidade de Los Angeles, California. A autora, preocupada com fenômenos de mudança na variedade linguística, estudou o uso do subjuntivo com uma amostra de 17 bilíngues mexicanos- americanos residentes nessa cidade. Os informantes pertencem a três gerações: i) G1-

42 nascidos no México; ii) G2 – nascidos nos Estados Unidos, com pais provenientes do México; e iii) G3 – nascidos nos Estados Unidos, com pelos menos um dos pais nascido no México.

A autora identifica o uso dos modos verbais motivado pelo contexto pragmático da intenção comunicativa. Propõe o emprego de formas flexionais de modo, segundo o traço assertivo para o modo indicativo e o não-assertivo para o subjuntivo, como nos exemplos a) “No creo que tiene (IND.) fiebre” => contexto assertivo e b) “No creo que tenga (SUBJ.) fiebre” => contexto não-assertivo (cf. SILVA-CORVALÁN, 1994, p.259-60).

Em seu estudo, avaliou as variáveis linguísticas: contexto sintático, grau de liberdade de escolha (sem considerar fatores pragmáticos) e adequação da forma escolhida ao contexto discursivo. A autora identifica cinco tipos de contextos, relacionados ao critério do grau de liberdade de escolha: i) contexto de uso obrigatório do indicativo; ii) contexto de uso obrigatório do subjuntivo; iii) diferenças claras que envolvem orações adjetivas, adverbiais de modo, tempo e lugar, em que o enunciado codificado com o indicativo é [+ factual] e com o subjuntivo é [– factual]; iv) diferenças que envolvem as orações condicionais, em que o enunciado pode ser interpretado como possibilidade com o uso do indicativo e como menos provável com o subjuntivo; e v) avaliação subjetiva do falante, na qual a escolha por um modo está mais relacionada à questão da assertividade que à factualidade.

Em seus resultados, Silva-Corvalán constata que as orações principais de verbos volitivos (querer, pensar), de cláusula final e concessiva (a fin de que, para que, aunque), são contextos preferenciais à retenção do subjuntivo. Conclui seu estudo sugerindo que existe uma notável simplificação no paradigma verbal no espanhol na região analisada, e tal simplificação é um processo que se produz, de maneira gradual, seguindo padrões regulares, e se manifestam na diminuição da frequência do uso do modo subjuntivo no espanhol falado em Los Angeles.

Outro estudo citado, que versa sobre a influência dos traços sociolinguísticos na análise dos modos, é o desenvolvido por Serrano (1995). A autora espanhola analisou um total de 218 orações condicionais irreais, do tipo: “Si tuviera dinero, viajaría a Francia”, procedentes de um corpus de 1406 casos. Nesse estudo, valoriza a incidência de fatores sociais no processo da mudança sintática, em orações condicionais, no tempo presente, na comunidade de fala de Laguna (Santa Cruz de Tenerife, Espanha).

Constatou diferenças quanto à distribuição das variantes em função dos traços sociais: sexo, idade e nível sócio- cultural. A intersecção dessas variáveis foram os fatores que incidiram no processo de mudança sintática das formas verbais das orações condicionais. Nas

43 variantes encontradas, o modo indicativo, subjuntivo e condicional se alternamm, tanto na prótase como na apódose. No exemplo “Si tuviera un hijo pequeño, me gustaría más” (subjuntivo- condicional) é a forma considerada estándar e exposta como “correta” pela maioria das gramáticas de espanhol. No entanto, segundo os resultados da autora, atualmente, a forma estándar da comunidade de fala é “Si fuera mayor, tuviera menos ganas de vivir” (subjuntivo-subjuntivo). Essa variante é muito frequente no espanhol de várias zonas da América, tais como: Venezuela, Buenos Aires, México e pouco usada no espanhol peninsular e catalão. A partir da análise dos dados, a autora também constatou uma situação de mudança que parte da forma vernacular dessa comunidade de fala com a utilização do modo indicativo na prótase e na apódose “Si tenía doce hijos, los atendía a todos” (SERRANO, 1994, p.179).

De acordo com seus resultados, Serrano confirma uma situação sociolinguística que dá abertura aos fenômenos de mudança sintática relacionada com as variáveis extralinguísticas: sexo, idade, nível sócio-cultural, contexto formal e informal e atitude do falante.

O último estudo a ser destacado nesta subseção é de Studerus (1995), que se traduz com o curioso título “Algumas questões não-resolvidas do modo em espanhol”. O autor aponta a necessidade de inclusão, na análise dos modos, de noções como a habitualidade, as verdades gerais e o conhecimento compartilhado, e não apenas o conjunto de regras categoriais, costumeiramente apontado pelos estudos tradicionais da língua.

Sua pesquisa discute a variação encontrada nos dados empíricos do espanhol/inglês de falantes de Laredo, no Texas e de Nuevo Laredo, no México. O estudo envolve 139 indivíduos e a análise de cinco grupos de fatores, que são listados a seguir:

i) Modo e habitualidade < María siempre hace lo mejor que puede/pueda>. ii) Modo em sentenças de verdade geral < Un hombre que dice/diga muchas

mentiras no es confiable>.

iii) Modo depois das dubitativas < Tal vez esa gente vive/viva bien>.

iv) Modo e double embedding21 < Es imposible que haya gatos que vuelan/vuelen>.

v) Modo e conhecimento compartilhado < El hecho de que el mundo es/sea redondo es significativo> (STUDERUS, 1995, p. 95).

21

O fator double embedding se refere à dupla forma de subjuntivo que pode aparecer na construção Es imposible que haya gatos que vuelan/vuelen, ou seja haya e vuelen são formas verbais do tempo presente do subjuntivo.

44 As variáveis analisadas foram: 1) grupo: falantes de Laredo, categorizados como grupo 1 e de Nuevo Laredo, como grupo 2; ii) gênero: Sujeitos masculinos e femininos; iii) idade: Sujeitos entre 17 e 30 anos e sujeitos com mais de 30 anos. A fim de facilitar a apresentação dos resultados, ilustram-se, no quadro a seguir, as percentagens da proporção de escolha do subjuntivo para cada item.

Quadro 4: Percentagens de uso do subjuntivo ( STUDERUS, 1995)

Fatores Exemplos Laredo Nuevo

Laredo Habitualidade Él siempre se bebe toda la cerveza que está/esté en la nevera 18% 47%

María siempre hace lo mejor que puede/pueda 23% 13%

Él siempre se bebía toda la cerveza que estaba/estuviera en la nevera 39% 42%

María siempre hacia lo mejor que podía/pudiera 17% 9%

Verdade geral Un hombre que dice/diga muchas mentiras no es confiable 28% 24% Un hombre que nunca dice/diga muchas mentiras no es confiable 28% 34%

Dubitativas Tal vez esa gente vive/viva bien 37% 55%

Probablemente los europeos comen/coman mucha lechuga 19% 46% Es probable que los europeos comen/coman mucha lechuga 72% 84% Double

embedding

Es imposible que haya gatos que vuelan/vuelen 74% 88%

Es imposible que hubiera gatos que volaban/volaran 73% 89% Conhecimento

compartilhado

El hecho de que el mundo es/sea redondo es significativo 54% 84%

Os resultados apontam evidências de que os falantes mexicanos de Nuevo Laredo tendem a utilizar mais o subjuntivo que os americanos mexicanos de Laredo. O autor também observa que há uma tendência de uso do subjuntivo quando os falantes conversam sobre uma informação que é compartilhada e do indicativo quando a informação é nova para o ouvinte.

E para encerrar os estudos de abordagem sociolinguística, cita-se o estudo de Dunlap (2006) Dialectal variation in mood choice in Spanish journalistic prose em que a autora tece considerações sobre a variação dialetal na escolha do modo na construção después de que e luego de que, em orações subordinadas de passado temporal. A amostra analisada é constituída por textos jornalísticos, obtidos através do Corpus de referencia del español actual (CREA) e dados on-line da Real Academia Espanhola.

De acordo com a autora, a oração principal das sentenças analisadas apresenta verbos no passado, indicando que ação foi realizada e, portanto, espera-se o uso do indicativo. No entanto, nos dados investigados aparece o uso do subjuntivo nesses contextos, como no exemplo: “La noticia se difundió en estos días, luego de que Jack – el joven afortunado – naciera sin complicaciones y con un estado de salud bueno” (DUNLAP, 2006, p. 36). Nesta

45 sentença, a ação do verbo da oração principal é passada, ocorre depois da ação expressa na subordinada, logo a natureza factual inerente desse conjunto de circunstâncias cria um contexto favorável ao indicativo, porém, usa-se o subjuntivo. Seus resultados corroboram o fato de que a variação modal é livre e não está associada apenas a noções de subjetividade/objetividade, realidade/ não-realidade.

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