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Foi atendido por uma colega médica veterinária, uma fêmea, da espécie canina, sem raça definida (SRD), 15 anos, pesando 4,5 Kg, não castrada e durante a anamnese da consulta, a responsável relatou episódios de vômitos por seis vezes em apenas um dia, negando quadro de diarreia.

Durante o exame físico foi possível avaliar os parâmetros como frequência cardíaca 110 batimentos por minuto, frequência respiratória 30 movimentos por minuto, mucosas apresentavam-se normocoradas, tempo de preenchimento capilar de 2 segundos, temperatura 38,5 graus Celsius, pulso normorítmico e normocinético e presumiu-se leve desidratação.

Perante ao quadro clínico que o animal apresentava, a suspeita clínica passou a ser gastrite. Em seguida, foi aplicado maropitan 1 mg/kg, dose única, por via subcutânea. Para casa, foi receitado omeprazol 1 mg/kg, BID, durante 15 dias, ranitidina 2 mg/kg, BID, durante 15 dias e dieta caseira a base de arroz e peito de frango desfiado.

Logo em seguida, a paciente foi encaminhada ao Centro de Diagnóstico Veterinário Bionostic para realização do exame ultrassonográfico. Durante a ultrassonografia, foi observado que o estômago estava preenchido por conteúdo mucoso e gasoso, espessamento importante em região de corpo, com medidas aproximadas de 0,80 cm e perda da estratificação das camadas nesta mesma região (FIGURA 12).

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FONTE: DALLAGNOL, S. M. 2016.

A motilidade gástrica apresentou-se diminuída. As alças intestinais apresentavam-se preenchidas por conteúdo mucoso e gasoso, parede com espessura e estratificação preservadas, porém com pregueamento difuso (FIGURA 13). A motilidade intestinal estava discretamente aumentada. Os demais órgãos avaliados estavam dentro da normalidade.

FONTE: DALLAGNOL, S. M. 2016.

Figura 11: Imagem ultrassonográfica do estômago em corte longitudinal (A) e transversal (B)

evidenciando a espessura mensurada (0,80 cm e 0,75 cm respectivamente) da parede gástrica da paciente.

Figura 12: Imagem ultrassonográfica das alças intestinais em corte longitudinal evidenciando e

pregueamento de forma difusa.

Com o espessamento moderado da parede e a perda da estratificação das camadas gástrica observadas no exame ultrassonográfico, foram estabelecidos alguns diagnósticos diferenciais, como gastrite crônica de ordem fúngica ou bacteriana e neoplasia. Desta forma foi recomendado endoscopia digestiva alta como exame complementar e exame histopatológico para confirmação diagnóstica. O pregueamento difuso intestinal, sugeriu processo inflamatório. Além do ultrassom, foi feita a coleta de material para a realização dos exames hematológicos (Tabela 4) e bioquímicos da paciente (Tabela 5), os quais não apresentaram resultados fora dos padrões de referência.

Tabela 4: Resultado dos exames hematológicos do cão, fêmea, SRD, 15 anos, encaminhada para o

Bionostic, PR, 2016.

FONTE: BIONOSTIC, 2016.

ERITROGRAMA Resultado Valor de referência

Eritrócitos 5,7 milhões/mm³ 5,7 a 7,4 Hemoglobina 14,6 g/dL 14,0 a 18,0 Hematócrito 42% 37 a 47 VCM 73,68 u³ 63 a 77 HCM 23,86 pg 21 a 26 CHCM 32,38% 31 a 35

LEUCOGRAMA Resultado Valor de referência

Leucócitos 12.800/mm³ 6.000 a 17.000 Neutrófilos 77% 9856/mm³ 55 a 80% Blastos 0/mm³ 0% Metamielócitos 0% 0/mm³ 0% Bastonetes 0% 0/mm³ 0 a 1% Segmentados 77% 9856/mm³ 55 a 80% Eosinófilos 0% 0/mm³ 1 a 9% Basófilos 0% 0/mm³ 0 a 1% Linfócitos 22% 2816mm³ 13 a 40% Monócitos 1% 128mm³ 0 a 6% Plaquetas 260.000/mm³ 150.000 a 800.000 Proteína Plasmática 6,8 g/dl 6.0 a 8,0

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Tabela 5: Resultado dos exames bioquímicos do cão, fêmea, SRD, 15 anos, encaminhada para o

Bionostic, PR, 2016.

FONTE: BIONOSTIC, 2016.

Após o exame de ultrassonografia abdominal, o paciente retornou ao Bionostic para a realização do exame de endoscopia digestiva alta. Neste exame, foi observado que, em porção de esôfago distal, havia uma área vilosa, moderadamente hiperemica e outra área erosiva, também com hiperemia moderada, oposta a primeira lesão (FIGURA 14).

FONTE: BENVENHO, A. C. 2016.

As demais porções esofágicas encontravam-se preservadas. No estômago, a porção de corpo gástrico proximal não aparentava alterações, já em terço distal de corpo havia presença de área com aspecto hiperplásico da mucosa, com proliferação tecidual e lesões arredondadas planas com medidas aproximadas de 2x3 cm (FIGURA 15).

BIOQUÍMICOS Resultado Valor de

referência Alanina aminotransferase/transaminase glutâmica

pirúvica

28,9 UI/L 10,0 a 88,0

Colesterol Total 165,9 mg/dl 125,0 a 270,0

Creatinina 0,8 mg/dl 0,5 a 1,5

Fosfatase Alcalina 49,9 UI/L 20,0 a 150,0

Glicose 64 mg/dl 60,0 a 110,0

Triglicerídeos 41,5 mg/dl Menor que 150,0

FONTE: BENVENHO, A. C. 2016.

Em porção de antro pilórico, a mucosa apresentava leve espessamento e em terço médio havia uma lesão polipoide séssil, com presença de erosões puntiformes (FIGURA 16).

FONTE: BENVENHO, A. C. 2016.

A região de piloro apresentava edema moderado, não sendo possível progredir o exame para o duodeno (FIGURA 17). Através da endoscopia, foram colhidos fragmentos da porção esofágica e da lesão hiperplásica localizada em estômago para Figura 14: Terço distal de corpo gástrico apresentando hiperplasia da mucosa, com proliferação tecidual

e presença de pequena lesão (seta preta).

Figura 15: Região de antro pilórico apresentando lesão polipoide (seta branca) com presença de

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o exame histopatológico. Também foi realizado o teste da urease para a pesquisa da bactéria Helicobacter pylori, tendo resultado negativo.

FONTE: BENVENHO, A. C. 2016.

A alteração em porção distal esofágica observada através da endoscopia, sugeriu lesão secundária à metaplasia intestinal, esofagite crônica ou infiltração neoplásica. A área hiperplásica em porção de corpo gástrico poderia estar associada a gastrite foveolar moderada ou neoplasia. E em porção de antro, a alteração visibilizada, foi sugestiva de gastrite erosiva. O exame histopatológico, foi conclusivo de gastrite crônica ativa com ulceração focal do epitélio.

Após a realização do exame de endoscopia digestiva alta juntamente com o diagnóstico definitivo obtido através do exame histopatológico, a médica veterinária responsável pelo caso clínico iniciou o devido tratamento à paciente.

A colega solicitou à tutora, que mantivesse a ranitidina, por 30 a 60 dias, juntamente com o sucralfato por dez dias. A paciente apresenta bastante oscilação em relação a alimentação, tendo dias que se alimenta menos e ainda apresentando quadro de vômitos esporádicos. A médica veterinária responsável recomendou uma reavaliação ultrassonográfica, porém, a responsável alegou problemas financeiros, não sendo possível realizar um novo exame de ultrassom abdominal. Mediante a situação, a médica veterinária recomendou uso continuo da ranitidina e suspensão do sucralfato depois dos dez dias de uso, como relatado anteriormente.

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