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Relatos de percepção de suporte familiar dos adolescentes

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.6 Relatos de percepção de suporte familiar dos adolescentes

Suporte Familiar

Fragmentos selecionados dos relatos dos adolescentes

Afetivo consistente

(... aí pergunta dos filhos dele e ele fala meu filho tá na FEBEM, meu filho tá usando droga, meu filho tá traficando. Ah eu acho que tipo pra ele é até esqueceu de nós, Gabriel)

(...a minha avó percebeu que a minha mãe bebia muito, e tal, então tipo assim, pra minha criação minha avó sempre foi mais rígida né. E eu quis ir morar com ela e tipo minha mãe não tava em condições de cuidar dela ia cuidar de uma criança de seis anos de idade, Fernanda)

(....Lá em casa a gente conversa pouco né, eu nem fico dentro de casa direito, Paulo)

(...ela (mãe) falou: Se você quiser essa vida pra você de novo... se for pego agora, da próxima vez eu não vou mais não, Paulo)

(...minha mãe nunca me deu atenção, aí já que ela não dava, também não dava atenção pra ela...só falava com meu pai, que me dava atenção... depois que aconteceu isso comigo, eu até me aproximei mais da minha mãe, que eu fiquei um ano sem falar com ela, aí ela foi na visita, eu vi quem é amigo, Ricardo)

Adaptação (...da molecada, eu era um dos moleques que não tinha nenhuma coisa né? Não tinha vídeo game, não tinha computador, não tinha roupa, roupa era os moleques que davam, quando não servia mais neles. Aí teve um tempinho ali, que eu atravessei a ponte e encontrei umas quebrada ali, que é comunidade.... entrei nessa vida e comecei a comprar roupa bonita e tal, Gabriel)

(...acabei batendo nela, ela bateu em mim bastante... ela falou: quero que você vai embora da minha casa...peguei umas roupas e fui pra favela né, Fernanda)

(...A gente de pivete só ficava, só vivia na rua jogando bola...agora também passo o dia todinho da rua, Paulo)

Autonomia (...meu, você vê tudo o que eu fiz, quando eu saí, minha mãe me deu o carro dela. Então assim, você vê que por mais que você tenha feito coisa errada, a família quer te apoiar pra você não voltar a fazer coisa errada, Leandro)

(...eu vinha de Santos pra cá, deixava minha mãe lá e vinha pra cá entende, nos funk, nas balada e tal, então minha mãe sempre, também sempre confiou em mim...tanta confiança em mim...só que aí chegou a época que tipo assim, eu já tava usando droga dentro de casa, então tipo...ah, minha mãe nunca tipo, nunca ligou, porque eu sempre falei que usava, Fernanda)

(...Tudo o que eu quis eu sempre tive que correr atrás mesmo... meu irmão tudo o que ele queria meu pai e minha mãe dava, e eu não, sempre trabalhei, Ricardo)

Os resultados advindos da aplicação e análise do Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) indicam uma percepção médio-baixa a baixa no que refere ao suporte familiar destes adolescentes. Embora os resultados de cada um dos fatores tenham sido distintos, segundo Baptista (2009), o resultado médio-alto na dimensão afetivo consistente retrata uma família afetiva, próxima, com boa interação e comunicação. Os resultados da dimensão adaptação familiar exprimem um sentimento de incompreensão, isolamento, sentimentos negativos em relação à família e competição entre os membros, além de percepção de pouca autonomia para desempenhar suas atividades e expressarem-se como pouca liberdade para realizar algumas tarefas, pouca privacidade e autorização para sair e fazer coisas que gosta ou mesmo se vestir como querem.

Nota-se que em relação à adaptação e autonomia familiar os adolescentes percebem o suporte da família como insuficiente (baixo), embora percebam a presença da família, apontando para as relações de proximidade e contanto, no quadro com os fragmentos de relatos dos adolescentes é possível identificar este resultado, na medida em que os adolescentes retratam a presença da família na história de vida, no entanto de maneira pouco consistente e com uma presença real descontinua.

Há algumas características relativas a adaptação familiar que possuem relação com as possibilidades de suporte material e financeiro da família nos relatos dos adolescentes; ao compreenderem que adaptação significa a chamada inclusão perversa denominada por Sawaia (2004), Gabriel apresenta este prisma da adaptação de maneira transversal no que tange o suporte familiar.

De maneira geral os participantes relatam este não-lugar na família ou no lar quando relatam situações relacionadas a adaptação, referindo a situações de violência, conflitos e identificação com o espaço coletivo e grupal fora da família. Winnicott (2005) retrata uma impossibilidade do adolescente para aceitar falsas soluções para os conflitos, dizendo que o adolescente aprende a tolerar o meio-termo, e quando isto o ocorre passa a descobrir diversos modos de experimentar a vida, no entanto, para que isso aconteça precisa sentir-se seguro e amparado, podendo assim oscilar entre a dependência e a rebeldia.

Entre os adolescentes entrevistados é possível identificar esta ambivalência entre a dependência e a rebeldia, além de um histórico de vivências de privação, para Winnicott (2005) estas experiências ocorrem em momentos de dificuldade na família, dissoluções, ausências, que podem acarretar em condições de extrema vulnerabilidade. Esta definição permeia o conceito da tendência antissocial, na qual identifica-se uma tentativa da criança ou do adolescente de obrigar o mundo a reconhecer sua dívida ou a reconstruir sua estrutura rompida, isto pode ocorrer com ou sem violência, neste momento é que o adolescente encontra no grupo as possibilidades de vivência desta expressão com a possibilidade de experimentar com espontaneidade novas realidades.

Nesse contexto de amadurecimento dos adolescentes e das relações na família, se faz necessário levar em conta as múltiplas dimensões envolvidas na problemática, considerando inclusive a carta magna do Brasil e o Estatuto da Criança e do Adolescente que preconizam os cuidados das crianças e adolescentes como função e dever do Estado, da sociedade civil e da família; a pesquisa em questão buscou aprofundar-se na dimensão da família e de seu suporte para o amadurecimento saudável dos adolescentes em conflito com a lei, para tanto, a seguir será apresentando relatos dos adolescentes entrevistados que ilustram com cautela algumas experiências psicossociais na família.

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