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A importância do presente estudo reside primeiramente na ausência de descrições empíricas sobre o desenvolvimento da autoconsciência, tanto situacional como disposicional, em nível nacional e internacional. Também por tentar esboçar um quadro das formas de organização do autofoco em diferentes idades, a partir das diversas categorias superordenadas deste fenômeno. Neste sentido, o desenvolvimento dos tipos de autofoco privado, público, ruminação, reflexão, a conscientização e a autoatentividade serão avaliados no espectro entre adolescência e adultez representando um avanço na medida em que se propõe a investigar o desenvolvimento da autoconsciência em termos multidimensionais.

Por outro lado, esta pesquisa também trará contribuições para ampliação da validade convergente da Escala de Autoconsciência Disposicional (NASCIMENTO, 2008). A presente proposta também alarga o escopo de relacionamento do autofoco com outros construtos, como as psicopatologias, em vários escalões de idades. Podendo trazer amplas contribuições ao delinear um modelo científico de explicação das redes complexas de relações entre autoconsciência e psicopatologias com base em modelos de regressão triangulados com a metateoria das facetas;

Visto que a autoconsciência parece ser um elemento chave nas psicopatologias, os achados resultantes dessas avaliações podem trazer implicações para o tratamento de algumas desordens psicológicas como ansiedade e depressão, ressaltando a relevância para a consideração da autoconsciência nas abordagens clínicas e terapêuticas destes transtornos e, por fim, uma abordagem do autofoco poderá contribuir para o desenvolvimento continuado da perspectiva sociocognitiva do funcionamento humano “normal” e patológico.

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6 OBJETIVO GERAL

Investigar o desenvolvimento da Autoconsciência disposicional e situacional, em adolescentes e adultos jovens, e suas relações com indicadores de psicopatologias.

6.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Mapear a estrutura e níveis da Autoconsciência situacional e disposicional em adolescentes e adultos jovens;

● Descrever os relacionamentos da Autoconsciência situacional e disposicional com as flutuações nos estados de humor em adolescentes e adultos jovens;

● Avaliar os relacionamentos da Autoconsciência situacional e disposicional com sintomas psicopatológicos em adolescentes e adultos jovens;

● Investigar a estrutura e desenvolvimento da ruminação em adolescentes e adultos jovens e seu relacionamento com indicadores psicopatológicos;

● Construir um modelo científico de explicação das relações entre os processos cognitivos em tela, com base em modelos de regressão triangulados com a metateoria das facetas.

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7 MÉTODO

O estudo foi estruturado a partir de um delineamento de tipo ex-post-facto, de natureza quantitativa e corte transversal que objetiva investigar a estrutura da autoconsciência e seus relacionamentos com indicadores psicopatológicos, em um corte sincrônico consistindo este o primeiro plano analítico cujos os resultados serão reportados no primeiro artigo. Em segundo plano investigamos, em termos diacônicos, o desenvolvimento da Autoconsciência no recorte da adolescência a adultez explicitando a diferenciações no seio da tipologia do autofoco em função do tempo o qual terá seus resultados reportados no artigo dois.

7.1 PARTICIPANTES

A amostra foi composta por 932 estudantes com idades de 15 a 65 anos com média de 22,1 (DP: 6,94) segundo dados apresentados na tabela 1, 83,9% da amostra tem até 30 anos de idade (783), estratificando a amostra por faxias etárias temos 461 participantes na faixa dos 15 aos 19 anos (49,4%), 322 participantes com idades entre 20 e 27 anos (34,5%) e 116 com idades entre 28 e 65 anos (12%) e 33 participantes não relataram a idade (3,7%). Em relação ao sexo 572 participantes são mulheres (61%), 292 participantes são estudantes do ensino médio (31,4%) e 640 estudantes universitários (68,6%) dos cursos de pedagogia, psicologia, expressão gráfica, licenciatura em artes, música, filosofia, educação física, geografia, história, dança, ciências biológicas, arquitetura, engenharia mecânica, engenharia de produção, engenharia da computação, farmácia, terapia ocupacional, odontologia, física, biomedicina, ciências sociais, química e letras. Entre os universitários 50 participantes (5,4%) possuem curso superior prévio.

Entre os estudantes do ensino médio 102 participantes (35%) estão no primeiro ano, 95 estão no segundo ano (32.5%) e outros 95 participantes (32.5%) estão no terceiro ano. Considerando toda a amostra 283 participantes (30%) acumulam estudo e trabalho. Quanto a renda dos participantes 260 (27,9%) deles relataram renda de até RS 500 reais, 250 (26,8%) participantes relataram renda de até RS 1000 reais, 189 (20,3%) participantes relataram renda de até RS 2000 reais, 179 participantes (19,3%) possuem renda acima de RS 2000 reais e 54 (5,8%) pessoas não relataram sua renda. Observamos que 3.8% tem filhos e 45% não tem religião,

Quanto aos indicadores de saúde, 187 (20,1%) participantes declararam possuir algum problema de saúde atualmente e 114 (12%) reportaram estar fazendo algum tratamento de saúde, 136 (14,6%) participantes declararam possuir algum transtorno mental diagnosticado, destas 15 pessoas descreveram qual o transtorno diagnósticado entre eles: ansiedade,

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depressão, transtorno bipolar, pânico e transtorno de ansiedade generalizada. Verificamos que 416 (44,6%) reportaram presença de transtornos mentais diagnosticados em sua família, 20 (2.3%) pessoa informaram possuir doença neurológica, 11 (1,2%) participantes informaram ter algum dano cerebral prévio e 20 (2,1%) participantes infromaram possuir alguma doença neurológica. Quanto ao uso de alguma medicação psiquiátrica 112 (12.3%) participantes informaram fazer uso, enquanto 299 (32,1%) pessoas declararam ter feito uso de substâncias psicoativas na ultima semana e 535 (57,4%) declararam ter feito uso pelo menos uma vez na vida. Quanto a orientação sexual 540 (57%) participantes não relataram, 342 (36,6%) declararam-se heterossexuais e 50 (5,3%) participantes declararam-se não-heterossexuais.

Tabela 1. Estatística descritiva das variáveis sociodemográficas

Idade f % Idades 15-19 461 49,4 Idades 20-27 322 34,5 Idades 28-65 116 12,4 Não relatadas 33 3,7 Idades (total) 932 100 Sexo f % Feminino 572 62 Masculino 351 38 Sexo (total) 932 100 Orientação sexual f % Heterossexuais 342 36,6 Não-Heterossexuais 50 5,3 Não relatado 540 57

Orientação sexual (total)* 932 100

Escolaridade f %

99 Ensino médio 292 31,4 Escolaridade (total) 932 100 1º ano Médio 102 35 2º ano Médio 95 32,5 3º ano Médio 95 32,5

Ensino médio (total) 292 100

Universitários com curso superior prévio 50 5,4

Estuda e trabalha 283 30,4 Renda f % Até 500,00 260 27,9 Até 1000 250 26,8 Até 2000 189 20,3 Até 3000 64 6,9 Até 4000 39 4,2 Até 5000 24 2,6 5001 em diante 52 5,6 Não relatado 54 5,8 Total 932 100,0 Indicadores de saúde f %

Pessoa com problema de saúde atual 187 20,1

Pessoa em tratamento de saúde 114 12

Pessoa com transtorno mental diagnosticado 178 19,1 Presença de pessoas com transtorno na família 416 44,6

Pessoa com doença neurológica 20 2,1

Pessoa com dano cerebral prévio 11 1,2

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7.2 INSTRUMENTOS

Questionário de Ruminação-Reflexão - QRR: Composto por 24 itens que avaliam as diferenças individuais na capacidade cognitiva de autofoco enquanto um traço (disposicional), formada pelos fatores: ruminação e reflexão, com bom índice de consistência interna alfa de Cronbach de .87 nos dois fatores. Este instrumento foi validado no Brasil por Zanon e Teixeira (2006), a partir da escala original de Trapnell e Campbel (1999). Apresenta itens como: “Eu sempre pareço estar remoendo, em minha mente, coisas recentes que eu disse ou fiz” (Ruminação), respondidos em uma escala Likert de 5 pontos variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente).

Escala de Autoconsciência Disposicional - EAD: Escala formada por 22 itens que avaliam as diferenças individuais nas capacidades de autofoco enquanto um traço (disposicional), composta pelas dimensões de conscientização que representa a disposição de estar consciente de si mesmo; atentividade que representa uma preocupação em estar atento a si mesmo com o vetor dos sistemas atencionais direcionados ao Self e mediação cognitiva que representa o caminho cognitivo pelo qual o Self se auto-observa. Foi construída e validada por Nascimento (2008) apresentando índices de consistência interna alfa de Cronbach de .71 para conscientização, de .76 para atentividade e de .66 para mediação cognitiva. Possui itens como: “Eu gosto de me autoanalisar, de refletir sobre mim mesmo e conhecer mais meus pensamentos, emoções e necessidades”, os quais são respondidos em escala Likert de 5 pontos variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente).

Escala de Autoconsciência Revisada - EAC-R: A Escala de Autoconsciência Revisada foi validada por Gomes e Teixeira (1996) para uso no Brasil, a partir de sua versão original norte americana (Scheier & Carver, 1985). É composta por 22 itens que objetivam avaliar diferenças individuais na qualidade e frequência do autofoco. Foi desenvolvida por Scheier e Carver (1985), buscando preencher as lacunas encontradas na Escala de Autoconsciência (EAC) de Fenigstein, Scheier e Buss (1975). A EAC-R apresenta uma estrutura trifatorial: autoconsciência privada, autoconsciência pública e ansiedade social (ver seção 1.3), com

Usou psicoativo na última semana 299 32,1

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índices de consistência interna variando de .69 a .74. Contendo itens como: “Eu penso muito sobre mim mesmo.” (item 4, Autoconsciência Privada); “Eu geralmente me preocupo em causar uma boa impressão” (item 13, Autoconsciência Pública); “É difícil pra mim trabalhar quando há alguém me olhando” (item 7, Ansiedade social).

Escala de Depressão do centro de estudos epidemiológicos (CES-D): Escala formada por 20 itens que objetivam identificar o estado de humor experimentado nos últimos 7 dias. Apresenta quatro dimensões: afeto depressivo, afeto positivo, atividade somática e relações interpessoais. Contém itens como “Senti não conseguir melhorar meu estado de ânimo” a serem respondidos em uma escala Likert de 0 (durante pouco ou algum tempo) a 3 (durante a maior parte do tempo ou todo tempo), validada no Brasil por Silveira e Jorge (1998) apresenta consistência interna de .85.

Escala de Avaliação de Sintomas – 40 (EAS-40): Consiste de uma escala para avaliação de sintomas psicopatológicos, adaptada do Symptom Checklist-90-Revised (SCL-90-R, Derogatis, 1994) por Laloni (2001). É composta por 40 itens que avaliam quatro dimensões de sintomas: psicoticismo (F1), “um contínuo entre psicose e depressão com sintomas de hostilidade e ideias paranoides” (p. 119); obsessividade- compulsividade (F2), “um conjunto de sintomas de ações e pensamentos repetidos acompanhados de desconforto nas relações interpessoais” (p. 119); somatização (F3), “sintomas comuns aos transtornos somáticos e somatoformes” (p. 119) e ansiedade (F4), “um conjunto de sintomas desde a ansiedade generalizada até ansiedade fóbica dirigida a situações ou objetos” (LALONI, 2001). A avaliação da intensidade do sintoma é feita por meio de uma escala Likert de 0 = nenhum, 1 = pouco, 2 = muito. Oferece o Índice Global de Severidade (IGS), um escore geral que representa o nível atual e a intensidade dos sintomas. A EAS-40 tem demonstrado bons índices de consistência interna variando de .73 a .88 (LALONI, 2001).

Escala de Autoconsciência Situacional - EAS: Composta por 13 itens que avaliam as diferenças individuais na capacidade cognitiva de autofoco enquanto estado (situacional) e formada pelos fatores “reflexão”, “ruminação” e “mediação icônica”, com índices de consistência interna de .74, .74 e 69 respectivamente. Validada por Nascimento (2008), a escala permite distinguir formas de autofoco ansiosas e não-ansiosas e a mediação cognitiva de autoconsciência por imagens mentais, também apresentando bons indicadores de validade convergente. Contém itens como “Neste instante, eu penso sobre aspectos meus que me causam ansiedade”, os quais são respondidos numa escala Likert de 5 pontos em que,

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variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), os indivíduos são orientados a marcar o grau de adequação dos conteúdos das autoafirmações a partir do modo como se percebem no exato instante em que respondem ao instrumento.

Questionário sociodemográfico

Consiste de um protocolo contendo questões acerca de informações como sexo, idade, grau de instrução, local de residência e estado de saúde, especificamente serão propostas questões sobre o histórico pessoal e familiar de transtornos mentais e problemas neurológicos, bem como o histórico de uso de substâncias psicoativas do participante no dia ou semana do experimento.

7.3 PROCEDIMENTOS

A coleta de dados foi realizada em Escolas públicas e Instituições de ensino superior públicas e privadas da região metropolitana de Recife-PE após a aprovação pelo comitê de ética em pesquisas da UFPE (parecer CEP/CCS/UFPE nº 2.387.508). Os participantes voluntários foram previamente informados dos objetivos, procedimentos do estudo e do sigilo das informações prestadas; no caso dos adolescentes, seus pais foram informados por meio de reuniões de pais nas escolas os quais assinaram o termo de assentimento. A participação no estudo foi condicionada a assinatura do termo de consentimento livre esclarecido pelos participantes. Os instrumentos foram aplicados de forma coletiva em ambientes livres de estímulos autofocalizadores.

7.4 PROPOSTA DE ANÁLISE DE DADOS

A análise se utilizou de técnicas da psicometria tradicional, como a análise fatorial e análise dos componentes principais para avaliar a dimensionalidade dos instrumentos, com a obtenção dos seus respectivos índices de consistência interna através da estatística Alpha de Cronbach. O coeficiente de correlação de Pearson serviu para avaliar os relacionamentos entre os construtos em estudo e a avaliação das diferenças entre grupos foi obtidas pelo teste de U de Mann-Whitney. Os Coeficientes de correlação de Pearson, Spearman e Bisserial serão utilizados para o levantamento de evidências de validade convergente e discriminante entre as escalas e variáveis do estudo. Técnicas de regressão múltipla foram usadas para a avaliação do efeito do conjunto de variáveis consideradas neste estudo sobre a variável dependente (HAIR et al., 2005) e esboço do modelo científico sobre fatores de desenvolvimento da autoconsciência.

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8 ARTIGO 1 - AUTOCONSCIÊNCIA E SINTOMAS PSICOLÓGICOS: OS