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1. INTRODUÇÃO

1.3. Relevância do Estudo

Em Portugal, até à data e ao nosso melhor conhecimento, não foram realizados estudos sobre a patologia ocular em doentes VIH+ na era da TARc. Um estudo com análise transversal da patologia ocular em doentes VIH+ antes de estes iniciarem a TARc, é importante pois os doentes estão na fase de maior imunodepressão, ou seja, com maior risco de complicações oculares. Por outro lado, a população VIH+ residente em Portugal apresenta algumas particularidades, como a fraca adesão à TARc

1. Introdução

30 e deteção da infecção pelo VIH por vezes em fases muito avançadas da doença (SIDA) – dos casos diagnosticados e declarados em 2012, quase um terço (31,8%) já se encontravam na fase SIDA (Instituto Nacional de Saúde Dr Ricardo Jorge, 2013). Uma análise das complicações oculares dos doentes VIH+ em Portugal permitirá conhecer melhor esta população e eventualmente levar à implementação de medidas/guidelines para melhorar os cuidados oculares.

Como já foi referido, na era da TARc, muitas das alterações oculares nos doentes VIH+ devem-se à microvasculopatia retinianas e apenas podem ser detetadas por exames específicos através da análise dos campos visuais, sensibilidade ao contraste e visão cromática. Estas alterações, não são na maioria das vezes motivo de queixa dos doentes e, mesmo os doentes VIH+ com ou sem retinopatia infecciosa apresentam medições da qualidade de vida visual e global equivalentes (Douglas A. Jabs et al, 2007). De igual forma, num estudo transversal de avaliação de complicações oftalmológicas em doentes que iam iniciar TARc na Índia, apenas uma percentagem muito baixa de doentes apresentava queixas visuais, mesmo na presença de retinopatia (Sophia Pathai et al, 2009). Uma avaliação exaustiva dos doentes VIH+, na sua fase de maior imunodepressão, permitirá conhecer melhor o estado de saúde ocular. Vários estudos confirmaram a importância de uma adequada função visual para uma boa qualidade de vida (I. U. Scott et al, 1999). A diminuição da acuidade visual (AV) tem um impacto significativo nas atividades da vida diária, implicando muitas vezes dependência de terceiros, por exemplo, para a própria toma de fármacos. No entanto, muitas pessoas com bons resultados nos testes de acuidade visual apresentam baixa capacidade visual funcional, com alterações na visão cromática e na sensibilidade ao contraste e repercussão importante nas atividades de vida diária e autonomia (B.E. Klein et al, 1999).

Numa era em que cerca de metade da população mundial VIH+ tem acesso à terapêutica antirretroviral (UNAIDS, 2012), torna-se importante conhecer o impacto preciso desta terapêutica na patologia ocular dos doentes VIH+. Apesar de vários estudos terem avaliado a prevalência de patologia e parâmetros oculares em doentes VIH+ na era pré e pós-TARc, nenhum estudo fez essa avaliação nos mesmos doentes

1. Introdução

31 antes e depois de ser iniciada a TARc, o que permitirá avaliar se a reconstituição imunitária que ocorre nestes doentes altera de alguma forma os parâmetros oculares. Apesar de se saber que a prevalência de retinite a CMV assim como de retinopatia do VIH diminuem drasticamente, não se sabe se as alterações oculares devidas à doença microvascular e disfunção neurorretiniana se mantêm ou se alteram com a reconstituição imunitária. O nosso estudo também permitiu avaliar se alguns parâmetros oculares sensíveis ao envelhecimento, como por exemplo a densidade do cristalino, a sensibilidade ao contraste, a visão cromática e a espessura da camada de fibras nervosas, se aceleram com a TARc, ou se, pelo contrário, existe um abrandamento do envelhecimento precoce ocular com a reconstituição imunitária.

1.4. Objetivos do Estudo

1.4.1. Objetivo Principal

Determinar os efeitos da terapêutica antirretrovírica combinada em parâmetros e patologia ocular de doentes VIH+ que vão iniciar ou reiniciar TARc.

1.4.2. Objetivos Específicos

• Determinar as alterações oculares em doentes VIH+ residentes em Portugal que vão iniciar a TARc pela primeira vez

• Determinar as alterações oculares em doentes VIH+ residentes em Portugal que vão reiniciar a TARc

• Avaliar os efeitos visuais após 9 meses de TARc em doentes VIH+

• Levantamento epidemiológico das alterações oculares em doentes VIH+ residentes em Portugal

1. Introdução

2. Material e Métodos

33 2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Desenho do estudo

Foi realizado um estudo observacional, transversal, longitudinal, prospetivo e exploratório para avaliar as alterações nos parâmetros visuais e patologia ocular em doentes VIH+ residentes em Portugal que iniciaram ou reiniciaram TARc durante o período do estudo. Os doentes VIH+ que cumpriram os critérios de inclusão e aceitaram participar no estudo foram avaliados antes da primeira toma de TARc, o que nos permitiu avaliar a prevalência de alterações e patologia ocular nestes doentes.

Aos participantes da primeira avaliação que cumpriram os critérios de manutenção no estudo e que aceitaram ser reavaliados, foi feita uma segunda avaliação passados 9 meses da primeira toma de TARc. Foi assim realizado um estudo por série de casos (case series) prospetivo, observacional, exploratório e analítico que nos permitiu verificar se a TARc influenciou de alguma forma as alterações detetadas na primeira avaliação.

2.2. Local do Estudo

O estudo foi implementado no Hospital Garcia de Orta E.P.E. (HGO) no Concelho de Almada – Distrito de Setúbal. Este hospital tem um Serviço Infecciologia (Diretora: Dra. Maria João Águas) que segue aproximadamente 2000 doentes VIH+ residentes na margem sul do Rio Tejo dos quais 1268 se encontravam em Janeiro de 2011 sob TARc. Em média, é feito o diagnóstico de infecção pelo VIH em aproximadamente 120 doentes por ano; por volta de 100 doentes VIH+ TARc-naive iniciam TARc. A avaliação oftalmológica dos doentes foi realizada no Serviço de Oftalmologia do mesmo Hospital (Diretor: Dr. Nuno Campos). O Serviço de

2. Material e Métodos

34 Oftalmologia é composto por gabinetes de consulta geral e subespecialidades, gabinetes de exames complementares de diagnóstico e terapêutica, bloco operatório de ambulatório, enfermaria e serviço de urgência e tem ao seu dispor vários meios complementares de diagnóstico. Uma das subespecialidades existentes é a Inflamação Ocular (Responsável: Dra. Belmira Beltrán) que avalia todos os doentes VIH+ aos quais sejam pedidas avaliações oftalmológicas.

2.3. População do Estudo

Todos os doentes VIH+ seguidos pelo Serviço de Infecciologia do HGO que iniciaram ou reiniciaram TARc durante o período de recrutamento do estudo (entre Junho de 2011 e Junho de 2012) foram convidados a participar no estudo. Foi feita uma reavaliação 9 meses após a primeira toma de TARc a todos os doentes que cumpriam os critérios de manutenção no estudo e que aceitaram ser reavaliados.

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