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5.2 | Relevância social e diversidade cultural

Transparência e clareza

III. 5.2 | Relevância social e diversidade cultural

Enquanto espaços cívicos de conhecimento, de cultura e de aprendizagem, espera-se que, de forma evolutiva, os MPM ponham em marcha processos de participação construtiva e coletiva dos públicos na programação, não só no sentido da democratização do acesso à cultura cultivada ou “alta cultura”, mas também da democracia cultural, ou seja, do acesso à ampla gama das expressões culturais. Uma abordagem participativa, ciente do valor das coleções e das especificidades de cada Museu, Palácio e Monumento, envolverá as pessoas, as famílias, os “amigos dos museus” e as comunidades nas atividades de extroversão, como a programação, as exposições e as ações de mediação. Nestas atividades, a consulta de grupos representativos poderá desempenhar um importante papel na governança dos MPM e ampliar

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o seu envolvimento social. Incentivar a participação implica capacitar os profissionais de Museus, Palácios e Monumentos quer para a promoção de processos participativos no âmbito da programação oferecida, quer para a promoção do acesso, através do reconhecimento e ultrapassagem das barreiras que inibem o contacto dos públicos com as instituições e que geram o distanciamento e o alheamento cultural que é crucial evitar.

Aos públicos devem ser proporcionados instrumentos, conteúdos e ambientes de participação para que possam, se assim o desejarem, contribuir, de forma construtiva e coletiva, em sintonia com as premissas dadas pela instituição.

A sustentabilidade dos museus na próxima década depende da diversificação dos seus públicos, ultrapassando assimetrias no acesso. É de notar que o já mencionado Estudo de

Público dos Museus Nacionais confirmou que o perfil social predominante no conjunto destes

museus, pese embora a especificidade de cada um, é o de públicos qualificados em termos de escolaridade e de atividade socioprofissional, muitas vezes com hábitos prévios de visita, maioritariamente do género feminino, adultos e caucasianos. Estes dados mostram que, apesar de inclusivos na sua vocação e de alguns projetos bem-sucedidos já testados, estes museus não estão a conseguir chamar a si a sociedade na sua diversidade.

Para concretizar o compromisso com a diversificação dos públicos e a atração de outros grupos demográficos da população não basta que os MPM estejam abertos e desenvolvam atividades de mediação frequentadas por “públicos cultivados”. Este objetivo requer um envolvimento proativo e de longo prazo, no sentido de responder às necessidades de diversos grupos, interagindo com segmentos, temas e metodologias, revendo o recrutamento de pessoal, incluindo recursos para o efeito e reforçando as equipas no campo educativo, o grande motor democrático de mediação pedagógica e científica. Implica também a aposta em programas dirigidos à captação de novos visitantes, considerando os seus interesses e obstáculos específicos. Do mesmo modo que importa conhecer os públicos efetivos, reais e potenciais, importa também promover um conhecimento mais detalhado dos públicos sub-representados em cada MPM, com vista a desenhar e desenvolver estratégias e redes com a colaboração de interlocutores das comunidades. Esta atitude inclui a colaboração com outros agentes e parceiros especializados na mediação sociocultural, procurando em conjunto trazer para a vivência dos museus outros grupos e comunidades menos representadas nos MPM, por exemplo, imigrantes e migrantes, minorias étnicas, pessoas com deficiência, pessoas com doenças incapacitantes e desempregados.

São conhecidas, à partida, possíveis barreiras inibidoras da procura dos MPM por parte de uma fatia significativa da população, como a baixa escolaridade, as dificuldades económicas, a falta de interesse (e de representatividade nos discursos), a ausência de hábitos de visita aos MPM e a própria comunicação ineficaz e insuficiente das instituições. Por outro lado, os MPM terão ainda de resolver questões relacionadas com a apresentação de coleções, o acolhimento e a disponibilidade, entre outras.

Sabe-se também que os obstáculos são de vária ordem, mais ou menos complexos e certamente interdependentes. Algumas destas barreiras mostram a premência de aumentar a oferta de programas culturais e educativos junto de públicos diversificados e de equacionar horários de funcionamento mais flexíveis e adaptados à vida contemporânea. Porém, não está ao alcance exclusivo dos museus derrubar as barreiras implícitas e explícitas que as separam dos seus públicos. Na sociedade é emergente a consciência sistémica dos problemas, indicando caminhos mais abrangentes que poderão criar condições estruturais, políticas e legislativas para enquadrar e facilitar soluções. Neste âmbito, é fundamental a noção de organização em rede, que estrutura e viabiliza a ação através da corresponsabilização e da

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mobilização de vários intervenientes – e. g. escolas, municípios, associações e grupos de cidadãos –, reforçando os compromissos partilhados com o património e com o território. É igualmente essencial o esforço articulado das políticas públicas governamentais (Cultura, Educação, Igualdade, Solidariedade Social, Trabalho, Economia e Saúde), na promoção de medidas conjuntas, de ações concretas e de projetos dirigidos a determinados grupos e comunidades sub-representados. Neste campo, importa explorar as possibilidades do “contrato de impacto social das organizações culturais”, uma medida do Plano Nacional das Artes, mediante a criação de planos de ação dos MPM com o objetivo de ampliar o seu impacto e a sua relevância na esfera social.

A necessidade de ultrapassar barreiras conduz à problemática do acesso, que é multidimensional e abrange todas as funções e áreas de atuação dos MPM, dos espaços físicos aos espaços em ambiente digital. No caso das acessibilidades físicas e comunicacionais (apesar de alguns avanços, em particular na sequência do estudo de 2016 sobre a acessibilidade nos imóveis afetos à DGPC), trata-se de uma dimensão que continua a exigir esforços no sentido de ultrapassar as debilidades identificadas. Por outro lado, a acessibilidade intelectual levanta ainda muitas questões, sendo preciso ter em conta que a redução e a conceptualização da informação nos museus são formas de exclusão implícitas que reforçam as assimetrias no acesso e podem explicar a desmotivação perante a visita. Nesse sentido recomenda-se: o recurso quer a diferentes estratégias, canais e meios de comunicação/mediação quer a uma linguagem clara e acessível; a conectividade dos conteúdos com a complexidade das realidades contemporâneas e os conhecimentos previamente adquiridos dos próprios visitantes. Bem como se recomenda: abordagens inclusivas e representação de diferentes pontos de vista (éticos, étnicos e culturais), que questionem os visitantes, gerando relações empáticas e motivadoras da descoberta.