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2. Mercado de trabalho

2.3. Remunerações do trabalho

Por disparidade salarial de género entende-se a diferença salarial média entre homens e mulheres. No quadro da UE, o indicador comummente utilizado para medir a disparidade salarial entre homens e mulheres é o designado gender pay gap in unadjusted form16, atualizado

anualmente pelo Eurostat17.

Atendendo aos dados mais recentes do Eurostat, a disparidade salarial de género em Portugal em 2017 era de 16,3%, abaixo dos 17,5% registados em 2016 e dos 17,8% registados em 2015. Portugal encurtou assim a distância face à média europeia neste indicador, passando a estar apenas 0,3 p.p. acima da média dos 28 Estados Membros (16,0%) quando em 2016 e em 2015 a distância era de 1,2 p.p. e 1,3 p.p. respetivamente.

Por outro lado, de acordo com a informação mais recente dos Quadros de Pessoal (GEP/MTSSS)18, e seguindo uma metodologia diferente da utilizada pelo Eurostat para cálculo

16 O indicador mede a diferença entre os ganhos horários brutos médios dos TCO do sexo masculino e do sexo feminino, em percentagem dos ganhos horários brutos médios dos TCO do sexo masculino. De referir, ainda, que, de acordo com a metodologia utilizada, este indicador é calculado para as empresas com 10 ou mais TCO. http://ec.europa.eu/eurostat/en/web/products-datasets/-/SDG_05_20

17 http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/show.do?dataset=earn_gr_gpgr2wt&lang=en

18 Neste contexto, para o cálculo das remunerações são considerados/as TCO a tempo completo que no período de referência (outubro) trabalharam o horário completo, tendo auferido remuneração completa (não são considerados/as TCO a tempo parcial nem TCO a tempo completo que tiveram ausências não remuneradas pela empresa).

0,0 40,0 80,0 120,0 160,0 200,0 240,0 280,0 320,0 H M H M H M

Menos de 12 meses 12 e mais meses 25 e mais meses

Milh

ar

es

da disparidade salarial entre homens e mulheres, ao considerar todos os salários pagos em todas as empresas com trabalhadores/as por conta de outrem, e não apenas nas empresas com mais de 10 trabalhadores/as, a disparidade salarial entre homens e mulheres19 baixou de 16,6% em

2015 para 15,7% em 2016 e para 14,8% em 2017 no que se refere à remuneração base. Em relação ao ganho, a diminuição da disparidade salarial foi mais acentuada (-0,9 p.p.), passando de 19,1% em 2016 para 18,2% em 2017, o que representa, ainda assim, a uma perda média de 224,1 € por mês para as mulheres em relação aos homens.

Resta salientar que grande parte do tecido empresarial português é constituído por micro e pequenas empresas (excluídas da metodologia de cálculo do Eurostat), e que, como tal, e apesar do indicador apurado pelo GEP-MTSSS não permitir comparações internacionais, captará de forma mais próxima a realidade do mercado nacional.

Tabela 19 - Remuneração média mensal base e ganho por sexo e disparidade salarial entre homens e mulheres em Portugal, 2010-2017 (€)

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Remuneração média mensal base

H 974,4 982,0 996,6 990,5 981,7 986,5 994,0 1.008,7

M 799,6 806,5 812,8 814,6 818,5 823,2 838,4 859,2

Remuneração média mensal ganho

H 1.182,7 1.193,2 1.209,9 1.205,8 1.199,8 1.204,4 1.212,2 1.233,5

M 935,3 945,1 954,9 956,7 961,6 965,3 981,0 1.009,4

Disparidade salarial entre homens e mulheres (%)

H 17,9 17,9 18,4 17,8 16,6 16,6 15,7 14,8

M 20,9 20,8 21,1 20,7 19,9 19,8 19,1 18,2

Fonte: GEP/MTSSS, Quadros de Pessoal

A evolução do indicador de disparidade salarial de género ao longo do período 2010-2017 mostra que tem havido uma melhoria nas condições de equidade remuneratória entre mulheres e homens. Se em 2010 a disparidade da remuneração de base entre sexos era de 174,8 €/mês, em 2017 passou para 149,5 €/mês (um decréscimo de 14,5% do diferencial). Em relação à remuneração ganha, a diferença passou de 247,4 €/mês em 2010 para 224,1 €/mês em 2017 (uma redução de 9,4% do chamado gap salarial).

Figura 19 - Disparidade salarial entre homens e mulheres em Portugal, 2010-2017 (%)

Fonte: GEP/MTSSS, Quadros de Pessoal

Tendo em conta as disparidades salariais existentes em 2017, no que diz respeito aos níveis de qualificação, constata-se a tendência salarial dos anos anteriores, em que a disparidade salarial entre homens e mulheres tende a acentuar-se à medida que aumenta o nível de qualificação profissional.

Se, como já foi referido, no total, se verificou em Portugal uma descida da disparidade entre sexos de 2016 para 2017 na remuneração média mensal de base (-0,8 p.p.) e na remuneração média mensal ganho (-0,9 p.p.), ao nível dos “Quadros superiores” e dos “Quadros médios” o comportamento foi diferenciado, tendo ambos aumentado na remuneração base e diminuído na remuneração ganho, ou seja, a remuneração base das mulheres ficou abaixo da dos homens nos “Quadros superiores” em 26,4% (mais 0,1 p.p. face a 2016) e 13,4% nos “Quadros médios” (mais 0,2 p.p.). Em relação ao ganho médio mensal foi de 27,7% (menos 0,1 p.p.) e 16,4% (menos 0,4 p.p.), respetivamente.

Verificou-se uma descida da disparidade entre as remunerações base e ganho entre sexos nos “Encarregados mestres, chefe de equipa” (-1,0 p.p. na remuneração base e -1,1 p.p. na remuneração ganho), nos “Profissionais qualificados” (menos 0,2 p.p. quer na base quer no ganho), nos “Profissionais não qualificados” (menos 1,2 p.p. na base e no ganho), e na remuneração base dos “Praticantes e aprendizes” (menos 0,2 p.p.) tendo a remuneração ganho permanecido inalterada. Observou-se também que não houve variação nos “Profissionais altamente qualificados” quer na remuneração base quer no ganho, e o aumento da diferença remuneratória nos “Profissionais semi-qualificados” de 0,3 p.p. na base e de 0,6 p.p. no ganho.

17,9 17,9 18,4 17,8 16,6 16,6 15,7 14,8 20,9 20,8 21,1 20,7 19,9 19,8 19,1 18,2 14 15 16 17 18 19 20 21 22 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Base Ganho

Figura 20 - Disparidade entre as remunerações das mulheres e homens, por nível de qualificação, em Portugal, 2017 (%)

Fonte: GEP/MTSSS, Quadros de Pessoal

Em sintonia com o observado com os níveis de qualificação profissional, também quando se consideram os níveis de escolaridade a diferença salarial é mais acentuada nos níveis de escolaridade mais elevados, diminuindo nos níveis de escolaridade mais baixos.

Como tal, a disparidade salarial de género em 2017, no que respeita ao grupo de trabalhadores e trabalhadoras com habilitações inferiores ao ensino básico era de 8,6% na remuneração base e 13,4% no ganho. As maiores disparidades verificam-se no universo de trabalhadores e trabalhadoras com habilitações ao nível do bacharelato (29,6% na base e 30,7% no ganho) e da licenciatura (28,0% no ganho e 28,9% no ganho). Em relação ao ano anterior, com exceção da remuneração base ao nível do mestrado que manteve o mesmo valor (23,3%) verifica-se uma diminuição generalizada nos restantes níveis de habilitação escolar quer na remuneração base quer no ganho. De realçar também o curso técnico superior profissional que apresentava a mesma disparidade salarial, quer na base, quer no ganho (18,5%).

14,8 26,4 13,4 7,5 17,5 9,8 10,0 7,4 3,6 18,2 27,7 16,4 9,5 21,1 14,6 14,4 11,7 6,5 0 5 10 15 20 25 30 Total Quadros superiores Quadros médios Encar. mestres, chefe equipa Prof. altamente qualificados Prof. qualificados Prof. semi qualificados Prof. não qualificados Praticantes e aprendizes

%

Base Ganho

Figura 21 - Disparidade entre as remunerações das mulheres e homens, por nível de habilitação escolar em Portugal, 2017 (%)

Fonte: GEP/MTSSS, Quadros de Pessoal

Tendo em conta a remuneração base por setor de atividade económica do estabelecimento, o setor das “Atividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais” continua a ser aquele em que os homens têm a remuneração mais elevada (2138,3€), sendo seguido pelo setor das “Atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas” (2109,2€). Em relação ao sexo feminino, o setor da “Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio” (2037,4€) e o das “Atividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais” (1889,2€), são os mais bem remunerados de base, no entanto, comparando com os homens ganham menos 39,5€ e 249,1€ respetivamente.

Em relação à remuneração ganho, ambos os sexos auferem as remunerações mais elevadas no setor da “Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio” (2967,8€ para os homens e 2660,0€ para as mulheres) e nas “Atividades financeiras e de seguros” (2614,6€ para os homens e 1999,3€ para as mulheres).

As maiores disparidades salariais observam-se nas “Atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas” em que os homens auferem mais 1198,2€ de remuneração base e 1247,5€ de remuneração ganho que as mulheres e nas “Atividades financeiras e de seguros” onde os homens ganham mais 373,2€ na base e 615,2€ no ganho. Por outro lado, a disparidade a favor das mulheres é mais acentuada nos setores dos “Transportes e armazenagem” (mais 215,7€ de remuneração base e 141,9€ de remuneração ganho) e na “Captação, tratamento e distribuição de água; Saneamento, gestão de resíduos e despoluição” no qual é superior em 169,7€ de base e 123€ no ganho. 14,8 8,6 17,0 20,9 14,8 18,5 29,6 28,0 23,3 20,7 18,2 13,4 21,9 24,2 17,5 18,5 30,7 28,9 23,7 21,1 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 Total < 1º Ciclo do Ensino Básico Ensino Básico Ensino Secundário Pós secundário não superior nível IV Curso técnico superior profissional Bacharelato Licenciatura Mestrado Doutoramento % Ganho Base

Figura 22 - Disparidade entre as remunerações das mulheres e homens, por atividade económica do estabelecimento em Portugal, 2017 (%)

Fonte: GEP/MTSSS, Quadros de Pessoal

Finalmente, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) continuava a ser a região do país que apresentava as remunerações mais elevadas, quer na base quer no ganho, e também onde continuavam a existir as maiores disparidades salariais entre sexos, na qual, em 2017, as mulheres recebiam menos 212,5€ de remuneração base (-16,8%) que os homens e menos 299,4€ na remuneração ganho (-19,3%).

Ao invés, o Algarve (9,3% na base e 12,3% no ganho), a R.A. dos Açores (10,1% na base e 14,7% no ganho) e a R.A. da Madeira (13,3% na base e 16,4% no ganho) eram aquelas em que a disparidade salarial de género era mais baixa quer na remuneração base quer na remuneração ganho.

-30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60

Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca Indústrias extractivas Indústrias transformadoras Electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio Captação, tratamento e distribuição de água; …

Construção Comércio por grosso e a retalho; reparação de …

Transportes e armazenagem Alojamento, restauração e similares Actividades de informação e de comunicação Actividades financeiras e de seguros Actividades imobiliárias Actividades de consultoria, científicas, técnicas e… Actividades administrativas e dos serviços de apoio

Administração pública e defesa; segurança social… Educação Actividades de saúde humana e apoio social Actividades artísticas, de espectáculos, desportivas e…

Outras actividades de serviços Actividades dos organismos internacionais e outras..

Figura 23 - Disparidade entre as remunerações das mulheres e homens, por NUTII, em Portugal, 2017 (%)

Fonte: GEP/MTSSS, Quadros de Pessoal

A incidência dos baixos salários20, calculada a partir dos Quadros de Pessoal, vem seguindo uma

tendência de diminuição em ambos os sexos desde 2008. Em 2017, este indicador ficou claramente abaixo do registado em 2016 e colocou os dois sexos em situação muito idêntica, tendo-se verificado uma quebra mais acentuada no sexo feminino entre 2016 (7,3%) e 2017 (0,3%), enquanto no sexo masculino passou de 4,2% em 2016 para 0,1% em 2017.