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Renata Buzzo: luxo, requinte e um toque de amor animal

3. MARCAS VEGANAS: ANÁLISES E PONDERAMENTOS

3.2 Renata Buzzo: luxo, requinte e um toque de amor animal

“O meu diferencial talvez seja o fato de unir alta costura, luxo e causa animal. Realmente é uma combinação inusitada!”22

, fala da estilista na entrevista dada ao site Olhar Animal23. Renata Buzzo é um nome bastante recorrente se tratando de moda vegana brasileira. Formada em Desenho de Moda e pós- graduada em Styling e Imagem de Moda pela Faculdade Santa Marcelina, lançou sua marca que leva seu próprio nome em 2013. Seu foco inicial, foram vestidos de noivas (ver Figura 6) e, posteriormente, ampliou suas criações para vestidos de festa, salientando que desde o inicio nunca utilizou matéria-prima animal. Embora, conta em uma entrevista para o site O Globo, ter tido uma experiência

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People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) is the largest animal rights organization in the world, with more than 6.5 million members and supporters. PETA focuses its attention on the four areas in which the largest numbers of animals suffer the most intensely for the longest periods of time: in laboratories, in the food industry, in the clothing trade, and in the entertainment industry. We also work on a variety of other issues, including the cruel killing of rodents, birds, and other animals who are often considered “pests” as well as cruelty to domesticated animals. PETA works through public education, cruelty investigations, research, animal rescue, legislation, special events, celebrity involvement, and protest campaigns. Disponível em: https://www.peta.org/about-peta/. Acesso: 23/10/2018.

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Entrevista dada ao site Olhar Animal. Disponível em: http://olharanimal.org/bate-papo-com-a- estilista-de-noivas-vegana-renata-buzzo/. Acesso: 17/09/2018.

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desagradável, “[...]durante a faculdade, precisou costurar um tecido com carcaças de coelho. Ela, que sempre foi vegetariana e cheia de bichos em casa, não conseguiu seguir com aquilo e passou a não usar nada animal em suas roupas”24

. Atualmente, é uma das estilistas na Casa de Criadores, desfila seus looks num estilo mais conceitual, com transformações têxteis diferenciados.

Figura 6: Vestido de noiva Renata Buzzo

Fonte: Disponível em: https://vogue.globo.com/Noiva/Vestidos-de- noiva/noticia/2017/08/noiva-vegana-moda-consciente-de-renata-buzzo.html. Acesso: 21/10/2018.

Além disso, em sua entrevista para o site O Globo (2018), Renata Buzzo afirma que,

Hoje tem muita opção. Mas preciso estar sempre bem atenta nas composições e misturas dos tecidos, faço testes de queima, que é quando confirmamos se um tecido é animal, vegetal ou sintético, e preciso ter um relacionamento bem transparente com os fornecedores. Eu uso muito tule, musseline, algodão, linho, organza. Como não terceirizo nada, consigo ter controle de tudo. Agora, estou tentando também ser “zero waste” (desperdício zero) e penso ainda em como reduzir o descarte. Tem muito tecido nobre

24

Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/moda/conheca-estilista-renata-buzzo-que-faz-uma- moda-de-festa-vegana-21756699. Acesso: 17/09/2018.

sendo jogado fora. Já estou fazendo peças com efeito de plumas com retalhos que iam para o lixo — destaca ela, que desfila na Casa de Criadores, mas fez sua estreia nas passarelas da Vancouver Fashion Week, no Canadá, em 2014.25

Deve-se deixar claro que, atualmente, tanto no mercado de moda quanto em outras áreas que utilizam matérias-primas diversas, e a forma como todo o mercado se organizou depois da Revolução Industrial, se torna um tanto utópico atingir 100% de efetivação com os objetivos sustentáveis e veganos. Segundo a fala da estilista Renata Buzzo, na citação anterior, por exemplo, ela ressalta os materiais utilizados em suas criações como tule, musseline, algodão, linho e organza. Observa-se que, nesses tecidos não constam matéria-prima animal, pois o algodão e o linho, por exemplo, são de origem vegetal e o tule, musseline e a organza são polímeros sintéticos. Neste caso, pode-se dizer que atende a demanda vegana do mercado. A Figura 7 abaixo, demonstra um desfile realizado na Casa de Criadores em 2017, demonstrando seu lado conceitual e os efeitos através das matérias-primas utiliadas pela estilista.

Figura 7: Desfile da coleção verão 2018 de Renata Buzzo na Casa de Criadores.

Fonte: Disponível em: https://vogue.globo.com/desfiles-moda/noticia/2017/05/renata- buzzo-traz-emaranhados-artesanais-e-bordados-feministas-ao-seu-verao-2018.html.

Acesso: 21/10/2018.

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Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/moda/conheca-estilista-renata-buzzo-que-faz-uma- moda-de-festa-vegana-21756699. Acesso: 17/09/2018.

No entanto, se tratando de sustentabilidade, devemos ficar atentos a algumas questões. Salientando novamente, que o intuito é o estudo acerca das possibilidades no mercado da moda referente as preocupações veganas e sustentáveis, sem criticar e/ou julgar qualquer marca e profissional, realizando apenas análises, observações e diálogos das teorias (fundamentação teórica de diversos autores que realizam pesquisas na área da moda, sustentabilidade e comportamento do consumidor) com a prática (a efetiva venda e possibilidades de trabalho no mercado atual brasileiro).

Por conseguinte, como mencionando anteriormente sobre sustentabilidade, devemos ficar atentos às composições dos tecidos e seus impactos ambientais. O tule, a musseline e a organza são exemplos de polímeros sintéticos. Para Kate Fletcher (2011):

Podemos dividir as fibras sintéticas em três tipos, de acordo com sua capacidade de degradação: biodegradáveis, degradáveis e não degradáveis. 1. As fibras sintéticas biodegradáveis [...] substituem os ingredientes de combustíveis fósseis por matérias derivadas de plantas e atendem a padrões mínimos de decomposição. 2. As fibras degradáveis são de polímeros sintéticos derivados do petróleo, mas se decompõe, embora esse processo normalmente leve muitos anos. 3. As fibras não degradáveis são de polímeros sintéticos derivados de petróleo e não se decompõe. Deve-se observar que cada tipo varia quanto à velocidade de decomposição e às condições de compostagem. (FLETCHER, 2011, p.18).

Assim sendo, para os casos do tule, musseline e organza que são tecidos compostos por poliéster, deve-se deixar claro que “o poliéster não é biodegradável, podendo levar até 400 anos para se decompor na natureza”26

. No entanto, deve-se ter a ciência de que esses tecidos existem há anos no mercado, sua decomposição é lenta e estes motivos têm levado alguns designers e empresas a buscarem outras soluções para se apropriar e conseguir levantar a bandeira da sustentabilidade, no caso, trabalhar com o reaproveitamento e a reciclagem desses polímeros sintéticos. Como no caso da própria estilista Renata Buzzo quando afirma que “agora, estou tentando também ser “zero waste” (desperdício zero) e penso ainda em como reduzir o descarte”27

.

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Disponível em: https://www.ecycle.com.br/2900-poliester. Acesso em: 09/09/2018. 27

Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/moda/conheca-estilista-renata-buzzo-que-faz-uma- moda-de-festa-vegana-21756699. Acesso em: 09/09/2018.

Do mesmo modo, a estilista salienta, em seu site28, os valores e intenções da marca sendo: vegan, slowfashion, party, bridal, art, peças únicas ou numeradas, sobmedida e sobencomenda. Também, subdivide sua marca em Slow e Low. A linha Slow, é classificada como “[...] nossa linha sob medida, são nossas peças conceito que levam semanas ou meses para ficarem prontas e assim não são possíveis de se fabricar em esquema de grade de tamanhos”29

. Enquanto a linha Low, é uma nova aposta da estilista. Não possui muitas informações ainda no site, no entanto, já deixa clara sua intenção: “A LOW é nossa linha comercial, apesar de comercial as peças são numeradas, produzidas em quantidades reduzidas e disponível em grade de tamanhos P M G. A partir de 2019”30

. A Figura 8 abaixo, mostra a estilista Renata Buzzo vestindo uma de suas criações pela primeira vez.

Figura 8: Estilista Renata Buzzo vestindo look da própria coleção.

Disponível em: http://casadecriadores.uol.com.br/2018/05/feminista-vegana-e-estilista- perfeccionista-renata-buzzo-prepara-colecao-eu-nao-estou-aqui/. Acesso: 21/10/2018.

28

Disponível em: https://www.renatabuzzo.com/label. Acesso em: 09/09/2018. 29

Disponível em: https://www.renatabuzzo.com/slow. Acesso em: 09/09/2018. 30

Percebe-se que Renata Buzzo utiliza a expressão slow fashion, empregada cada vez mais por marcas que buscam um diferencial no mercado da moda. Para Elena Salcedo (2014):

Slow fashion (moda lenta) não é o contrário de fast fashion (moda rápida). Não há, aqui, nenhuma dualidade. Trata-se apenas de um enfoque diferente, segundo o qual estilistas, compradores, distribuidores e consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto das roupas sobre pessoas e ecossistemas. Diferentemente do que acontece nos demais enfoques, a slow fashion enxerga o consumidor e seus hábitos como parte importante da cadeia. Ao contrário do que se poderia pensar, a moda lenta não é um conceito baseado no tempo, e sim na qualidade, que no fim, evidentemente, tem alguma relação com o tempo dedicado ao produto. (SALCEDO, 2014, p.33).

Sendo assim, o slow fashion atende uma demanda de conscientização de todas as partes envolvidas, isto é, a relação do produtor com o fabricante, da empresa e estilistas com o consumidor e da velocidade com a qualidade. Portanto, pode-se dizer que a prática do slow fashion, preza pela consciência socioambiental, contribui para a confiança de ambas as partes (produtores e consumidores) e pratica preços que aliam custos sociais e ecológicos.

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