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4.8 Recursos alocados no Programa

5.7.1 RENDA

a) Frentes131

A principal ação, que é comum a todos os programas emergenciais, é o alistamento de pessoas vulneráveis à seca nas frentes de trabalho. Essa ação tem como objetivo garantir uma renda mínima aos trabalhadores. E, apesar das críticas constantes, se configura num paliativo necessário quando a calamidade já está instalada.

A pesquisa da SUDENE/FADE/UFPE (1999, p.107) constata “a importância das transferências para a manutenção da renda regional”, pois no Programa de 1998 “as transferências foram particularmente efetivas em elevar a renda dos mais pobres, daqueles no extrato de renda mais baixa” , mas alerta:

“Se as frentes se configuram em importante mecanismo de transferência de renda, e recorde-se que o Nordeste rural é um dos grandes bolsões de pobreza do país, por outro lado, a ausência de critérios de auto triagem resulta em distorções do número total de beneficiários e, possivelmente, na prioridade de atendimento” (SUDENE/FADE/UFPE,1999 , p.66)

No ano de 1998, além das ações típicas realizadas pelas frentes, surgiram outras que serão demonstradas por área de atuação:

• EDUCAÇÃO e CAPACITAÇÃO 132

Era fato conhecido os baixíssimos níveis de escolaridade da Região. Havia algumas iniciativas de educação de jovens e adultos surgindo no Brasil133 , então, por que não aproveitar as

131 Foi criado como incentivo , no âmbito das ações do programa, o Prêmio Produtividade que contemplava com um aumento de

vagas nas frentes as experiências tidas como exitosas. Um dos municípios premiados foi Monteiro-PB . A respeito de Monteiro, encontra-se em fase de conclusão, neste Mestrado, o estudo de caso da gestão participativa daquele município elaborado por Vera Lúcia Assunção (Seca, Sertão e Êxito: a experiência de Monteiro/PB na emergência de 1998/2000) .

132 Neste item além da experiência própria no Programa, fez-se uso de conversas informais e do relatório sobre educação e

capacitação:

SUDENE. Educação e Capacitação. Recife: SUDENE, setembro de 1999.

frentes de trabalho como oportunidade de educar jovens e adultos? Pois, assim foi feito. Por meio de negociações, ficou acertada a possibilidade de flexibilidade do horário de trabalho dos alistados, de modo que estes pudessem ser educados dentro das horas previstas para as atividades das frentes.

Foi uma oportunidade valorosa para que aqueles indivíduos terminassem a seca com um bem mais durável, a educação, que constitui um elemento decisivo na minoração de sua vulnerabilidade às condições ambientais do Semi-Árido. Foram estas as parcerias que viabilizaram as ações134:

a) Parceria com o Programa Alfabetização Solidária: • Apoio ao Programa Alfabetização Solidária

• Convênio SUDENE/CRUB/MEC/CCS

• Convênio SUDENE/AAPAS

b) Parceria com os governos estaduais135 : Programa Integrado de Alfabetização e Capacitação de Jovens e Adultos136.

c) Parceria com SENAR e SEBRAE : Programa Integrado de Alfabetização e Profissionalização Rural

d) Parceria com a ASSOCENE e FADURPE : Projeto de Fortalecimento da Capacidade Organizacional das Comissões137

134 As ações dos ítens a ao d ficaram a cargo da coordenadora de Educação da Sudene Marlene Franklin,, que disponibilizou o

relatório citado na nota anterior.

135 Foi realizada a adaptação de material didático produzido pela Secretaria de Agricultura e Educação do Estado de Pernambuco,

que consta de um kit com oito exemplares, com os seguintes temas : chuva, armazenamento de água; água boa; manejo de rebanho; conservação de forragens; manejo de solo; vegetação nativa; alimentação alternativa; organização do trabalho.

136 Sobre este Programa será defendido em novembro deste ano o trabalho de conclusão de Mestrado , no âmbito do MPA NE :

“Relações interorganizacionais para implementação de programas públicos – aspectos de coordenação e controle : o caso do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos de 1998 na Região Nordeste”, por Sheila Tolentino.

137 Foi uma constante nas entrevistas o enaltecimento da necessidade de capacitar as comissões para que possam atuar de forma

mais eficaz nas atribuições que lhe foram transferidas, tanto quanto à noção da real representatividade da comunidade, como de conhecimentos específicos que qualifiquem as demandas e agilizem a parte operacional.

e) Parceria com 7 ONGs138 com trabalhos já desenvolvidos em atividades de convivência com a seca : Convênio com o CETRA139, foram estas as ONGs envolvidas: ADAC140, CAATINGA141, CEPAC142, CETRA, MOC143, PATAC144 e SABIÁ145; envolveu 37 municípios e resultou em 10.735 capacitados.

Nessa mesma linha de ação, foram montados dois tipos de variantes das frentes, quais sejam : as frentes ecológicas e as frentes culturais.

f) Parceria com a FUMDHAM146 , que resultou nas frentes ecológicas147

É do conhecimento geral as dificuldades do IBAMA em fiscalizar as reservas ecológicas do Brasil. E, no caso do ecossistema caatinga (bastante depredado pelo uso intensivo148), na vigência da seca de 98, o único parque nacional era o da Serra da Capivara (130 mil hectares), no Piauí. Foi nele que aconteceram as frentes ecológicas. Nos períodos de seca, esse parque vinha sendo constantemente devastado pela proliferação das queimadas. Foi proposta a montagem de uma frente de trabalho149, cujas atividades visavam evitar a proliferação de incêndios, o abastecimento de água para os animais silvestres, viabilizar a demarcação dos limites, a manutenção e conservação da área do parque 150. Aproveitou-se aoportunidade para demonstrar a importância do mesmo para as populações do entorno. Além da alfabetização de jovens e adultos, disseminaram-se noções de combate a incêndios e cursos de capacitação de guia ecológico.

138 Foi coordenado por Ângela Nascimento - técnica da SUDENE

139 Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador – CETRA. 140 ADAC - Associação de Desenvolvimento e Ação Comunitária – Bahia. 141 CAATINGA Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores – Pernambuco. 142 CEPAC -Centro Piauiense de Ação Cultural – Piauí.

143 MOC Movimento de Organização comunitária –Bahia.

144 PATAC - Programa de Aplicação de Tecnologia Apropriada às Comunidades –Paraíba. 145 SABIÁ - Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá –Pernambuco.

146 Fundação Museu do Homem Americano, ONG com sede em SãoRaimundo Nonato no Piauí, cuja fundadora é a arqueóloga

Dra. Niéde Guidon.

147 Essa frente contou com a visita do ministro do Meio Ambiente (27 / 7 / 98) demonstrando a importância e interesse que o

governo central tinha com essas atividades. Foi produzido um vídeo apresentado como experiência exitosa da seca na 5ª teleconferência. Optou-se pela descrição desta expeirência pelo fato da autora ter sido coodenadora das mesmas e a preocupação do registro da experiência.

148 Além das secas, da densidade demográfica incompatível com o ambiente, a necessidade do uso intensivo pelos pequenos

proprietários, é necessário se tomar conhecimento que a segunda fonte energética do Nordeste é a lenha. Cientes da quase inexistência de mata atlântica, se tem idéia de que a caatinga está se constituindo na fonte predominante de toda esta lenha.(diversos são os trabalhos coordenados pelo engenheiro florestal Francisco Barreto Campelo , no âmbito do Projeto de Desenvolvimento Florestal do Nordeste PNUD -IBAMA , que apontam para estes problemas) Diante desta preocupação, em parceria com o Francisco Barreto, desenhou-se uma proposta para a Chapada do Araripe, desta feita envolvendo 3 estados, Piauí, Ceará e Pernambuco. Chegou-se a falar com o Ceará, porém a idéia findou não vingando..

149 Formada pela população quatro municípios do entorno do Parque (280 homens), portanto diferente das demais frentes que

estavam subordinadas à uma comissão municipal.

150 Além do valor ambiental, constitui-se de um rico acerco cultural pela numerosa ocorrência de produtos arqueológicos,

g) Convênio com a FADE151 , cuja parceria se deu com 7 ONGs (FQV – PE, CETRA-CE, AMA-RN , MPS-CE, CDTU – MG, APEB-BA e Museu do Folclore- MG), constituindo as frentes culturais152 . Envolveu 12 municípios

Uma das frentes culturais teve lugar em Serrita (Pernambuco), e a ONG parceira foi a Fundação Quinteto Violado – FQV 153. O aproveitamento das frentes de trabalho se deu no seu desdobramento em atividades de preservação e resgate da cultura regional por meio de cursos de : coral de aboiadores, trio nordestino, confecção de artefatos de couro (principalmente a indumentária típica do vaqueiro nordestino), guia mirim. Com a celebração do convênio, foi possível a aquisição de máquinas e instrumentos (que permaneceram com a Associação dos Vaqueiros de Serrita). Essas atividades ocorreram com a participação da SUDENE, Fundação Quinteto Violado, Prefeitura, Associação dos Vaqueiros, rádio de Salgueiro e possibilitaram esse resgate da cultura do vaqueiro nordestino, provocando a mobilização e a elevação da auto-estima da população local .

As experiências com as frentes culturais acabaram por desdobrar-se em um Projeto de Artesanato e Geração de Renda (1999/2000) e , mais recentemente , no Programa Artesanato Solidário154 .

b) Crédito

Por intermédio do Banco do Nordeste, foram disponibilizados recursos da ordem de R$ 450 milhões155 para os produtores rurais, cujos empreendimentos estivessem localizados nas áreas afetadas pela estiagem. O objetivo era atenuar os efeitos da estiagem com o fortalecimento da infra-estrutura hídrica, formação de reservas estratégicas para a alimentação animal e produção de alimentos para consumo humano e animal. Do total liberado, 59% foram direcionados a ações de investimento nas propriedades rurais e 41% a atividades de custeio, visando, principalmente, à alimentação dos rebanhos.

151 Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE - FADE

152 Grande parte das informações deste item foram adquiridas em conversas informais com a técnica da SUDENE Anita Rozenblit

e na publicação:

COMUNIDADE SOLIDÁRIA, SUDENE,UNESCO. SECA –Capacitação e geração de renda – Programa Federal de Combate aos efeitos da Seca. Brasília : Conselho da Comunidade Solidária, 1999.79p.

Nos agradecimento deste trabalho : “E a todos os trabalhadores das Frentes que participara com entusiasmo desta proposta INOVADORA e diferenciada de enfrentar os efeitos da seca. . Brasília : Conselho da Comunidade Solidária, 1999.79p.

153 Optou-se pela descrição desta experiência pelo fato da autora ter estado em Serrita na reunião para o alistamento na frente

cultural.

154 Informações prestadas por Anita Rozemblit , coordenadora das frentes culturais

155 “Embora esse grande alento não tenha sido suficiente para atender a todos. Os recursos, 450 milhões, foram aplicados

rapidamente, mas, não foi possível atender a todos”Dr. Manoel Brandão do Banco do Nordeste, na transcrição da reunião do dia 2 de dezembro de 1998, que antecedeu o workshop com especialistas de Nebraska.

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