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2.3 Currículo no Ensino Fundamental de 9 Anos

2.3.2 Reorganização Curricular Estadual

Na Rede Pública Estadual de Ensino de Santa Catarina,

especificamente na Regional da Grande Florianópolis, o documento norteador das práticas pedagógicas nas escolas, é a Proposta Curricular de Santa Catarina, cuja história foi apresentada em capítulo anterior.

Após a implantação do Ensino Fundamental de nove anos na rede, discussões aprofundaram o debate sobre a organização curricular do Estado, em grupos distintos de professores dedicados às diferentes disciplinas do currículo. Assim, foram elaborados documentos preliminares, portanto não definitivos, de seleção e organização curricular para o novo Ensino Fundamental, agora com nove anos de escolaridade obrigatória. Neste estudo, analisaremos a Seleção e Organização Curricular das disciplinas de: Alfabetização/Língua Portuguesa e Matemática, para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Participaram desses grupos de estudo, professores efetivos da rede e profissionais da Secretaria Estadual de Educação do Estado de Santa Catarina, bem como da Gerência Regional da Grande Florianópolis. Não cabe a esta investigação avaliar a qualidade das discussões e do envolvimento dos profissionais participantes deste processo. Destacamos, porém, a importância da participação dos professores na construção do currículo, pois acreditamos que

o professor, enquanto mediador e agente curricular, torna-se um profissional que analisa criticamente o trabalho que desenvolve. O

seu papel não é o de um mero executor e consumidor curricular como lhe atribuem os modelos curriculares prescritos e fechados (Pacheco, 1991, p. 76).

Ficam abertas questões sobre como se efetivou este processo, o nível de envolvimento dos participantes e o grau de aprofundamento teórico para refletir acerca de questões essenciais para a construção de um documento desta natureza.

Estes questionamentos trazem à tona uma avaliação realizada por Pacheco (1991), sobre a mudança curricular em Portugal, que diz:

[...] a reforma curricular portuguesa não altera a estrutura do desenvolvimento do curriculum, centrando-se mais o debate nos novos programas, relegando-se para segundo plano, mesmo esquecendo-se, o posicionamento do professor perante a tomada de decisões curriculares e territorialização do programa, isto é, programação ou questionamento do programa e conteúdos face à formação do professor, aos recursos educativos existentes, ao contexto de desenvolvimento do curriculum e às necessidades e interesses dos alunos. As práticas que caracterizam o trabalho do professor são hoje em dia idênticas ao período que antecedeu esta reforma alterou-se o quadro normativo, seguiram-se novas formas de organização curricular mas ao nível da realização não se impuseram mudanças pelo que, a este nível, existe uma reforma sem uma inovação (p. 75).

Foi com olhar crítico e atento que os profissionais analisaram a Proposta Curricular de Santa Catarina e pensaram uma nova organização para um novo Ensino Fundamental? Compreendem este profissionais o que é a ampliação do Ensino Fundamental? Tem clareza do ensino que desejam desenvolver nas escolas? O que este Documento Preliminar traz de novo em relação a Proposta Curricular até então em vigor?

Acredita-se, assim como Pacheco (1991), que

[...] a inovação curricular só se atinge na plenitude quando os intervenientes directos na reforma compreenderem os motivos e necessidades de reformar, se empenharem nessa mesma reforma e perante ela assumirem um papel de responsabilização crescente (p. 77).

3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

Diante das ações e deliberações desenvolvidas pelos órgãos oficiais, bem como pelas instituições de ensino, em resposta a medida política, de cunho educacional, de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, surgiu a questão maior da qual se ocupou esta pesquisa: Quais as mudanças

de natureza curricular, nas Séries Iniciais da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, decorrentes das alterações estabelecidas pela Lei n. 11.274?

Este estudo caracteriza-se por uma pesquisa documental, de abordagem histórica e qualitativa, cujo método de investigação é a técnica de análise de conteúdo, conforme fundamentando no início deste trabalho.

Ressalta-se ainda que, no que diz respeito as propostas curriculares de âmbito estadual, esta investigação dedicou-se à análise dos documentos, com foco nas disciplinas de Alfabetização/Língua Portuguesa e Matemática. A seleção de apenas duas disciplinas justifica-se pelo limite de tempo disponível para a investigação e, portanto, a necessidade de delimitar o campo de exploração. Dedica-se, assim, um olhar mais atento e criterioso, na tentativa de realizar uma análise mais profunda, porém com limitações em sua

abrangência. Diante disso, optou-se por estas duas disciplinas,

especificamente, pelo fato de a elas ser atribuída a maior carga horária no total da matriz curricular e, além disso, são as disciplinas, tradicionalmente, com maior valorização frente as outras, especialmente nas Séries Iniciais. Isso pode ser exemplificado com as formações oferecidas aos professores deste nível de

ensino pelo próprio governo federal, como o Pró-Letramento – Mobilização pela

qualidade da educação29 e, atualmente, o Pacto Nacional pela Alfabetização na

Idade Certa, que privilegiam a capacitação dos professores apenas nessas

disciplinas.

Isto posto, procedeu-se, primeiramente, a análise do cenário nacional, para identificar possíveis mudanças no que diz respeito a organização

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Programa de formação continuada de professores para a melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemática nos anos/séries iniciais do ensino fundamental, coordenado pelo MEC.

curricular para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental de Nove Anos, bem como apresentar as orientações curriculares e pedagógicas do MEC para a nova configuração deste nível de ensino.

Para isso, selecionamos os documentos curriculares que orientavam o Ensino fundamental de oito anos (PCNs - 1997 e DCNs - 1998) e os documentos apresentados até o ano de 2009, ano de divulgação dos Documentos preliminares na Rede Estadual de Santa Catarina. Como o MEC não apresentou, até esta data, qualquer documento que substituísse os anteriomente citados, optamos por analisar o Documento orientador Ensino

Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade (2007). Procedemos uma leitura exaustiva deste documento, na

busca de apontar perspectivas que cada artigo apresentava quanto ao Ensino Fundamental de Nove Anos.

Posteriormente, seguiu-se à análise comparativa entre a Proposta

Curricular de Santa Catarina (para o Ensino Fundamental de 8 anos) e os Documentos Preliminares de Seleção e Organização Curricular para as Séries

Iniciais do Ensino Fundamental de Nove Anos, elaborados pela Gerência Regional de Educação da Grande Florianópolis, com o intuito de identificar mudanças e permanências.

Após a leitura atenta de cada documento, procedemos a análise de cada texto para chegarmos a codificação e categorização dos mesmo. Para podermos identificar as categorias de análise, a partir do momento que íamos nos apropriando do conteúdo dos documentos, íamos nos fazendo questionamentos que nos permitissem identificar aspectos recorrentes. Os questionamentos, que foram sendo lapidados e delimitados a medida que o estudo dos documentos se aprofundava, foram os apresentados abaixo:

1. O documento está fundamento em quais pressupostos teóricos? 2. Como o documento concebe a organização do ensino?

3. O que o documento apresenta como conhecimento a ser ensinado/aprendido?

4. Quais as orientações oferecidas pelo documento quanto à forma de ensinar o conhecimento proposto?

De nossa análise, surgiram, portanto, quatro categorias, a saber: eixos norteadores, organização curricular, conceitos e conteúdos e metodologia de ensino. Cada uma delas, permitiu-nos analisar e comparar os documentos em cada aspecto em questão:

1. Eixos Norteadores: está categoria envolve os fundamentos teóricos das propostas curriculares, no que diz respeito a concepção de homem e sociedade e que determinam, portanto, a concepção de ensino e aprendizagem.

2. Oraganização Curricular: refere-se a forma como o ensino está organizado.

3. Conceitos e Conteúdos: nesta categoria, identifica-se os conceitos e os conteúdos apresentados na proposta curricular.

4. Metodologia de Ensino: está categoria foca as orientações

metodológicas apresentadas na proposta curricular para o ensino dos conceitos e conteúdos relacionados.

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇÃO

Neste capítulo, está sistematizada uma análise criteriosa dos referenciais curriculares para o Ensino Fundamental de Nove Anos, destacando mudanças e permanências no âmbito nacional e, especialmente, estadual no que diz respeito a organização curricular.

Diante das ações e deliberações desenvolvidas pelos órgãos oficiais, bem como pelas instituições de ensino, em resposta a medida política, de cunho educacional, de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, surgiu a questão maior da qual se ocupou esta pesquisa: Quais as mudanças

de natureza curricular, nas Séries Iniciais da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, decorrentes das alterações estabelecidas pela Lei n. 11.274?

Esta questão encaminhou para algumas metas a serem atingidas, que nortearam este estudo, delineando possíveis respostas para a problemática central. Assim, para esta investigação, foram delimitados os seguintes objetivos a serem alcançados:

1. Identificar eventuais alterações nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) decorrentes de orientações de natureza legislativa ou pedagógica; 2. Caracterizar a Matriz Curricular das Séries Iniciais da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina antes e após a implantação da Lei n. 11.274;

3. Avaliar eventuais alterações na Matriz Curricular das Séries Iniciais da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina decorrentes da implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos.

A síntese da análise de conteúdo pretende discutir, portanto, as implicações da ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos na organização curricular, especificamente, no que diz respeito ao currículo prescrito oficialmente às escolas da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, na Grande Florianópolis.

Sistematizaremos, a seguir, os destaques referentes aos documentos apresentados em âmbito nacional e a análise fruto da comparação entre a

Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de oito anos e para o de nove anos na Rede Pública Estadual de Santa Catarina.