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PARTE II: ESTUDO EMPÍRICO

7. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

7.2 Representação Conceptual

O conceito de avaliação das aprendizagens adquiriu alguma centralidade no discurso educativo atual, como pudemos verificar ao longo desta investigação. Assim, a fim de compreendermos o nível de apropriação deste conceito por parte da Educadora de Infância decidiu-se ao longo dos vários encontros reflexivos, solicitar a representação conceptual que melhor traduzia o entendimento que a mesma atribuía ao referido conceito. Note-se que, a representação conceptual solicitada à Educadora de Infância situa-se numa perspetiva de análise do discurso da mesma.

55 Os dados11 da entrevista (do tipo semi-estruturada) referentes à representação conceptual do conceito de avaliação das aprendizagens atribuído pela Educadora de Infância, encontram-se sistematizados na tabela 7.2.

Encontros

Evidências recolhidas sobre o conceito de avaliação das aprendizagens

1º Encontro

 “… é eu ter noção do que é que elas sabem. Daquilo que eu faço o que é que elas depreenderam.”;

 “… é fazer um registo do percurso do que é que as crianças aprendem.”.

2º Encontro

 “… é tentarmos pôr por escrito o que a criança é, o que é que a criança já sabe, o que é capaz.”;

Tem vantagens só para Educadora:

 “Não, …, para toda a gente. Nós somos um grupo, eu, a auxiliar e as crianças, somos um conjunto.”;

 “… se a gente avalia só a nossa,…, às vezes nem temos a ideia… se eles (crianças) avaliarem connosco… Eu sei que no conjunto eles gostaram ou não…”.

3º Encontro

 “… nós vamos avaliar o que é que a criança adquiriu com isso, ou seja, estamos sempre a avaliar a competência e não a área em si.”.

1ª Reflexão Educadora

 “A avaliação faz parte integrante do processo educativo.”;

 “… analisando o decurso das aprendizagens, as diversas aquisições das crianças e de que modo é que os objetivos estão ou não adequados e a ser cumpridos…”;

 “Tendo como referência as áreas de conteúdo que são o nosso “mapa”, pretendemos que as crianças adquiram determinados conteúdos, conhecimentos sobre essas áreas, que lhe permitam desenvolver algumas competências.”;

 “… é fazer uma análise crítica sobre todos os momentos e fatores que intervêm no processo educativo e os conhecimentos que deste modo são adquiridos, tendo sempre em vista a melhoria do processo ensino-aprendizagem.”;

 “Cada docente tenta através da avaliação retratar o melhor possível os conhecimentos e competências que cada criança tem, mas por vezes o conjunto documentos elaborados que são resultado da sua observação e da interpretação que faz dos diversos instrumentos que utilizou… pode não ser tão exata como gostaria.”.

4º Encontro

 “Eu identifico-me com a que se preocupa com os processos e até diz aqui: “O ato de avaliar como o ato onde o educador é criador, motiva e desafia a troca de saberes com sentido, amplia aprendizagens. Avaliar é ajudar cada um a dar o máximo e a gostar de si.”;

11

Os dados aqui apresentados são os que consideramos mais relevantes para a investigação. A totalidade dos dados referentes a este item pode ser consultada no Anexo VI, no Anexo VII e no Anexo VIII.

56  “… este tipo de avaliação dá-nos a conhecer mais a criança como

um todo, do que só preocupada com os resultados…”.

5º Encontro

 “… é registar o percurso que elas fizeram até atingir essas aprendizagens.”;

 “… o que é que aconteceu pelo percurso, o que é que foi feito, o que é que a criança fez, o que é que nós fizemos, o que é que contribuímos,…”;

 “… é o registo disso tudo para a criança ter atingido aquela aprendizagem.”.

2ª Reflexão Educadora

 “Recolha de informação através da observação e recorrendo ao apoio de instrumentos de avaliação de modo a conhecer as competências e interesses do grupo e de cada criança individualmente.”;

 “ … é recolher informações que permita ao educador caracterizar o conjunto de conhecimentos que cada criança adquirir e o modo como as adquiriu, ou seja, …”;

 “… dispor de elementos que possam ser periodicamente analisados, de modo a compreender o processo desenvolvido e os seus efeitos na aprendizagem de cada criança” (M.E., 1997:25)”.

Tabela 7.2: Representação conceptual do conceito de avaliação das aprendizagens no

discurso da Educadora de Infância

A representação conceptual do conceito de avaliação das aprendizagens no discurso educativo da Educadora de Infância, no 1º Encontro é entendida como “eu” (Educadora) ter noção do que elas sabem, não estando em consonância com o defendido teoricamente por Fernandes (2005) e Barbosa (2008), visto que, a avaliação das aprendizagens é um processo deliberado e sistemático de recolha de informação que envolve todos os intervenientes desse mesmo processo e não só a Educadora de Infância. No entanto, perante os resultados obtidos ao longo dos sucessivos encontros constatamos que, o conceito de avaliação das aprendizagens no discurso educativo da Educadora de Infância vai adquirindo um maior grau de apropriação à medida que estes acontecem e há espaço para a reflexão, como podemos constatar nas suas afirmações:

“… é eu ter noção do que é que elas sabem…” (primeiro (1º) encontro);

“… se a gente avalia só a nossa,…, às vezes nem temos a ideia… se eles (crianças) avaliarem connosco… Eu sei que no conjunto eles gostaram ou não…” (segundo (2º)

encontro);

“… nós vamos avaliar o que é que a criança adquiriu...” (terceiro (3º) encontro);

“Eu identifico-me com a que se preocupa com os processos e até diz aqui: “O ato de avaliar como o ato onde o educador é criador, motiva e desafia a troca de saberes com

57 sentido, amplia aprendizagens. Avaliar é ajudar cada um a dar o máximo e a gostar de si.” (Nabuco, 2006 citado por Carvalho, 2007: 55) (quarto (4º) encontro);

“… o que é que aconteceu pelo percurso, o que é que foi feito, o que é que a criança fez, o que é que nós fizemos, o que é que contribuímos,…” (quinto (5º) encontro).

Em nosso entender este facto justifica-se por, ao colocarmos a Educadora de Infância perante documentos de referência, sobre o qual reflete e se apropria, para além do constante questionamento a que é sujeita, esta sente necessidade de ir à procura, de saber mais, como se evidencia nas seguintes citações:

“Eu identifico-me com a que se preocupa com os processos e até diz aqui: “O ato de avaliar como o ato onde o educador é criador, motiva e desafia a troca de saberes com sentido, amplia aprendizagens. Avaliar é ajudar cada um a dar o máximo e a gostar de si.” (Nabuco, 2006 citado por Carvalho, 2007: 55) (quarto (4º) encontro);

“… dispor de elementos que possam ser periodicamente analisados, de modo a compreender o processo desenvolvido e os seus efeitos na aprendizagem de cada criança” (ME, 1997: 25)” (segunda (2ª) reflexão).

Importa referir que, na 1ª Reflexão da Educadora de Infância, o conceito de avaliação das aprendizagens é entendido pela mesma com o sentido de adquirir determinados conteúdos, conhecimentos, como se verifica na seguinte afirmação:

“Tendo como referência as áreas de conteúdo que são o nosso “mapa”, pretendemos que as crianças adquiram determinados conteúdos, conhecimentos sobre essas áreas, que lhe permitam desenvolver algumas competências.” (1ª reflexão).

Assim, esta representação conceptual do conceito de avaliação das aprendizagens referida anteriormente não se aproxima da teoricamente fundamentada por Ribeiro (2002) e Hadji (2001), já que, para estes autores, os conteúdos são apenas um pretexto para a atividade, um meio para o desenvolvimento global da criança aprendente e não um fim em si mesmo. Para além disso, esta representação conceptual evidencia traços diretivos e escolarizantes na EPE, o que não se aproxima do teoricamente fundamentado por Barbosa (2008) e Formosinho (1998), na medida em que, se pretende que o papel da criança seja mais ativo e dinâmico e, o do adulto seja menos diretivo e mais de apoio e suporte, respetivamente.

Contudo, da primeira (1ª) para a segunda (2ª) reflexão, os resultados obtidos parecem evidenciar que ocorreu uma transformação na compreensão do conceito de avaliação das aprendizagens, dado que a Educadora de Infância parece, no seu discurso,

58 dar mais sentido aos processos que acompanham a avaliação das aprendizagens e não tanto aos resultados. Esta remete a avaliação das aprendizagens para um processo de “compreensão do processo desenvolvido” e de regulação das aprendizagens, associando a avaliação à melhoria da aprendizagem da criança (“e os seus efeitos na aprendizagem da criança”).

É neste sentido que os resultados parecem, evidenciar um percurso na representação conceptual do conceito de avaliação das aprendizagens no discurso educativo da Educadora de Infância, sendo na 2ª Reflexão, que esta representação caminha para uma apropriação de ideias que mais se aproximam das teoricamente fundamentadas por Fernandes (2005) e Correia (2002), Já que para estes autores, a avaliação das aprendizagens deve ser um processo sistemático de recolha de informação, fazendo uso de uma variedade de instrumentos de avaliação, privilegiando esta a modalidade de avaliação formativa que tem como principal função a melhoria e a regulação das aprendizagens.