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REPRESENTAÇÃO DA MULHER EM HOLLYWOOD

Segundo Morin (1989), as estrelas eram produtos de uma indús- tria capitalista que queria vender filmes e lucrar cada vez mais. Por isso, elas eram construídas dentro dos padrões, para cati- var o público consumidor e manter o negócio de produções em Hollywood. Muitas vezes, a interação entre o espectador e a rea- lidade reproduzida nos filmes era tão forte que diversas coisas poderiam ser absorvidas pela cultura através da pedagogia das imagens em relação aos espectadores. Para reforçar ainda mais, as marcas de cosméticos, dentre outros produtos, também utilizavam a imagem híbrida das estrelas em propagandas para incentivar o consumo de determinado produto supostamente utilizado por sua heroína favorita. Além disso, ainda continuava a ser reproduzida uma suposta imagem do que era luxo, alegria e beleza através dos padrões das divas para que as pessoas fizessem ainda mais refe- rência às aparências dos atores como as ideais.

No período do Star System1, a beleza e a sedução eram fatores indis- pensáveis para uma atriz, e isso incluía se o seu corpo estava dentro dos padrões, ou seja, se remetia à juventude e, muitas vezes, à sen- sualidade. As aparências das estrelas eram consideradas modelos para que fossem “mimetizados” pelas admiradoras e se tornavam objeto de voyeurismo e adoração pelo público masculino. Porém, ocorria de passarem despercebidos todos os métodos que eram uti- lizados para criar uma imagem perfeita, como enquadramentos e iluminação, por exemplo, que favoreciam a aura mítica da atriz. O corpo, além de apresentar a problemática acerca do efeito dos padrões de beleza, é também o conjunto de símbolos que traz dire- tamente referência à sexualidade. A autora Kathryn Woodward coloca em sua obra que “o corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem nós somos, ser- vindo de fundamento para a identidade – por exemplo, para iden- tidade sexual” (2000, p.15). Também pode-se dizer que ele acaba sendo o meio pelo qual um observador tem um primeiro contato, identificando a identidade de gênero de uma pessoa, já que os con- ceitos ainda são muito confundidos. Esse fato ocorre pela visão essencialista que por muito tempo foi considerada como a correta pela ciência, e em algumas áreas ainda é, de que o gênero e a sexu- alidade são a mesma coisa e dependem essencialmente do corpo e da genitália com a qual o indivíduo nasceu.

Os filmes acabam se tornando, além de tudo, um grande replica- dor dessa teoria, principalmente porque grande parte das pro- duções hollywoodianas estão nas mãos de homens brancos com

1 Trabalho de construção de divas do cinema jovens e belas. As atrizes de cinema no período entre os anos 1930 e 1960 passavam por uma série de etapas na carreira em busca do estrelato. Muitas vezes as moças antes de serem “descobertas” eram misses locais dos Estados Unidos ou moças bonitas encontradas por representantes de agências especializadas, que seduziam as moças com promessas de fama e fortuna.

reproduções de pensamentos tradicionais do que é “ser mulher” e de como ela deve se apresentar e se comportar, se vestir e se maquiar, muitas vezes com referências machistas que vêm da cultura de base patriarcal. Porém, neste trabalho será seguida a seguinte vertente:

Os novos movimentos sociais, incluindo o movimento das mulheres, tem adotado uma posição não-essencialista com respeito a identidade. Eles têm enfatizado que as identida- des são fluidas, que elas não são essências fixas, que elas não estão presas a diferenças que seriam permanentes e valeriam para todas as épocas. (WEEKS apud WOODWARD, 2000, p.37)

Os estudos feministas, apesar da modernização que ocorreu depois de décadas, ainda permanecem reivindicando melhores represen- tações midiáticas, visto a ainda existente distinção quase autori- tária do que são comportamentos “de mulher” ou “de homem”. Muitas vezes ocorrem a opressão e a exclusão daqueles que não se encaixam ou que optam por não se encaixar nos padrões estabele- cidos culturalmente e reafirmados midiaticamente. Como afirma Woodward, “todas as práticas de significação que produzem signi- ficados envolvem relações de poder, incluindo o poder para defi- nir quem é incluído e quem é excluído” (2000, p.18). Mesmo lenta- mente, a cultura pode modificar-se e o pedido das feministas por melhores representações no cinema não são em vão.

Quando uma personagem “fora dos padrões” é trazida para a cultura pop, depois de um processo inovador de desconstrução, acredita-se que possa ocorrer um efeito em cadeia, para que sejam mostradas nas telas “mulheres de verdade”, que também são pro- tagonistas fortes que conseguem se adaptar sozinhas a situações e vencer obstáculos com suas próprias habilidades, sem precisar que visualmente estimulem a atenção do público masculino e nem que reproduzam novamente um caráter indefeso.

Além disso, traz para os filmes novas formas de “etnia (...) o gênero, a sexualidade, a idade, a incapacidade física, a justiça social e as preocupações ecológicas produzem novas formas de identificação” (WOODWARD, 2000, p.31). O público, que é tão diverso, com tan- tas estruturas físicas diferentes, poderá se reconhecer nas telas de cinema, através de uma tentativa de quebra de arquétipos a fim de trazer melhor representação e tentar acompanhar as identidades, que estão em constante mudança. Woodward confirma: “ As identi- dades sexuais também estão mudando, tornando-se mais questiona- das e ambíguas, sugerindo mudanças e fragmentações que podem ser descritas em termos de uma crise de identidade. ” (2000, p. 31) Uma personagem que quebrou diversos arquétipos e estereótipos de gênero foi a Imperatriz Furiosa do filme Mad Max: Estrada da Fúria, a qual será analisada detalhadamente a seguir.

ANÁLISE DA PERSONAGEM ATRAVÉS DO ROTEIRO