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Capítulo IV – Análise e discussão dos resultados

4.1 Representações acerca do impacto do primeiro contacto com o Técnico

Neste ponto considerou-se fundamental perceber que sentimentos foram experienciados pelos participantes no momento em que conheceram o Técnico RVCC que iria orientar o seu processo. Importará igualmente destacar a recordação mais importante do ponto de vista positivo e do ponto de vista negativo.

No que diz respeito aos sentimentos vivenciados, estes incidiram em significados semelhantes para todos os participantes, evidenciando dois tipos de representações complementares entre si. Por um lado, foi verbalizado um estado de significativa ansiedade na vivência da primeira sessão de reconhecimento de competências acompanhada por reações sinestésicas ao nível corporal: “(…) um frio na barriga, aquele nervosismo (…)”, “(…) as mãos geladas (…)” em quase todos os participantes.

Quanto ao mais apreciado, um participante (T.) referiu ter-se sentido logo à vontade, tendo experienciado “(…) sossego e serenidade.” Para outro participante (D.), além da ansiedade e receios iniciais, o primeiro contacto originou curiosidade quanto ao tipo de percurso que estavam prestes a iniciar: “(…) ela começou a falar e eu pensei: o que é que virá por aí abaixo?”.

Relativamente à recordação negativa, as verbalizações indicaram a existência de representações acerca do processo RVCC assentes em atitudes de descrença face à sua validade e exequibilidade: “Quando cheguei ali, esbarrei e disse: vai ensinar o quê? (…) Senti que não estava ali a fazer nada.” (D.), “(…) senti-me deslocado (…) receio de ser avaliado outra vez (…)” (T), “(…) eu pensei que não ia conseguir.” (C.). Era clara a desacreditação no processo RVCC em alguns candidatos, enquanto forma de valorização pessoal e profissional e as evidências discursivas obtidas indicam que, apesar de se ter verificado a inscrição no processo e a concordância na sua realização, as dúvidas e os receios permaneciam de forma muito significativa.

A expetativa e ansiedade face a possíveis procedimentos de avaliação foram apontadas como sendo a recordação mais importante do ponto de vista negativo, parecendo porém que, para alguns participantes esta perceção foi

68 desvanecendo ao longo do momento em que ocorreu o primeiro contacto com o Técnico RVCC: “(…) dali a um bocado já estávamos mais à vontade.” (R.), o que poderá fazer supor que o Técnico em causa conseguiu, em alguns candidatos, transmitir confiança e serenidade face a um projeto ainda desconhecido: “(…) tive sorte (…) com quem, no 1º dia nos pôs logo à vontade e nos disse o que estávamos ali a fazer (…)”. Contudo, encontraram-se igualmente evidências discursivas que parecem indicar um Técnico RVCC distante e autoritário: “(…) ela pôs logo o grupo no sítio.” (T.) Além disso, a preocupação em definir e atingir objetivos não terá sido bem aceite: “(…) aquilo chateou-me pelo facto de que não foi bem apresentar o programa, foi quase a exigir o que tínhamos que na semana seguinte apresentar.” (M.)

Como se pode constatar, nesta temática notou-se uma centralidade da atenção dos participantes nas características e exigências do processo RVCC e não propriamente nas primeiras impressões produzidas no primeiro contacto com o Técnico. No entanto pode inferir-se que, para alguns participantes a figura do Técnico se revelou, num primeiro momento, disciplinadora e demasiado centrada em objetivos, através de verbalizações registadas como, “(…) estava ali para ajudar.” (C.), ”(…) isto agora é diferente (…) foi um evoluir das coisas naturalmente (…)”. (M.). Comprova-se que, aquela primeira impressão foi alterada consoante ocorria a evolução do processo e a familiaridade com o Técnico RVCC.

É possível concluir que as representações acerca do primeiro contacto com o Técnico RVCC não se encontram imunes àquelas que existem aquando do início de um novo projeto que neste caso concreto, para muitos candidatos, é desconhecido nos seus contornos mais precisos. Assim, são comuns os estados de ansiedade num primeiro encontro, acompanhados ou não por sessões corporais associadas a esses mesmos estados. Contudo, se para alguns participantes, esta ansiedade se verifica em todo o momento em que dura este primeiro contacto, para outros, esta ansiedade desvanece significativamente conforme decorre a sessão de esclarecimento. Isto poderá dever-se não só à idiossincrasia de cada candidato em lidar com a novidade e o desconhecido, mas também às caraterísticas pessoais e profissionais do Técnico RVCC, já que em alguns casos, e logo na primeira sessão, conseguiu criar um ambiente tranquilo e de aceitação, mas noutros, a recordação que impera é a de um indivíduo pouco

69 flexível face ao público-alvo em causa. De facto, de acordo com os dados obtidos, e tendo em consideração os receios inerentes ao início de uma nova etapa como é o início de um processo RVCC, os Técnicos RVCC influenciaram distintamente a forma como um primeiro contacto foi vivenciado. Por conseguinte, partindo do princípio que o estado de ansiedade e até de curiosidade é geral e comum a todos os candidatos a processo, dependerá da forma como o Técnico conduz a sessão e lida com esses estados, que conseguirá fazer diminuir ou aumentar o estado de ansiedade. Daí que se tenham verificado, em alguns candidatos, sentimentos de à-vontade e serenidade, e para outros de receio, de descrença no RVCC e na insegurança face aos objetivos propostos. Constata-se assim a pertinência das convicções de Azevedo quando refere que os profissionais de EFA deverão demonstrar uma atitude de acolhimento face a cada participante, valorizando acima de tudo a relação e não a utilização de uma espécie de “(…) armadura quase expugnável (…) que o amedronta (…).” (2010: 22), configurada na apresentação de programas e referenciais. Fazendo novamente apelo às ideias de Rogers (1974) o primeiro objetivo do Técnico RVCC, num primeiro contacto, deverá ser a criação das condições necessárias para que os candidatos consigam exprimir as suas dúvidas, receios e ansiedades. Estas condições são, sem dúvida, a permissividade em relação à expressão de sentimentos, a liberdade na participação do processo RVCC, a definição de limites quando se dirige aos outros e estar livre de qualquer pressão ou coerção.

4.2 Representações acerca da característica pessoal do Técnico RVCC