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Por fim, trataremos nesta seção sobre as mudanças nas representações culturais como forma de responder à terceira pergunta da pesquisa. A questão que nos orienta é:

Como fornecer, nas aulas de língua estrangeira na escola regular, caminhos para o desenvolvimento do pensamento crítico dos jovens a fim de desenvolver valores e mudar representações culturais e estereotípicas?

Nesse ponto, ao pretender verificar a existência de uma representação cultural coletiva em relação ao povo argentino entre os jovens estudantes, achamos relevante trazer à tona o conceito de representação cultural. Tomamos como referência a sociologia e o conceito de representação coletiva desenvolvido por Durkheim (1994). O autor destaca a natureza social do fenômeno que sintetiza o que os homens pensam sobre si mesmos e sobre a realidade que os cerca. As representações coletivas são, portanto, inicialmente, uma forma de conhecimento socialmente produzida.

As representações culturais possuem caráter de coletivas e, portanto, não podem ser simplesmente reduzidas aos indivíduos. São produzidas a partir da interação e dos laços sociais entre os homens e alcançam o terreno das práticas sociais, às quais se ligam. Em resumo, o conceito de representações coletivas é ao mesmo tempo forma de conhecimento e guia para as ações sociais.

No questionário inicial (QI) foram formuladas duas perguntas nesse sentido, sendo a primeira: No Brasil existe uma representação generalizada sobre os argentinos.

Você sabe qual é? Você concorda com ela? Qual é sua opinião a respeito? (P4)

A segunda pergunta formulada aos participantes foi: Você já conheceu algum argentino

pessoalmente? Caso a resposta seja afirmativa, como descreveria essa pessoa, poderia dar algum traço de sua personalidade? (P5)

Com a primeira pergunta obtivemos três tipos de respostas que chamaremos R1, R2, R3: apenas 4 sujeitos (A1, A3, A8 e A15) dos 18 que responderam o questionário disseram não saber que existe alguma representação social dos brasileiros relacionada com os argentinos. Ainda assim, 2 alunos (A2 e A7) expressaram que, caso exista alguma opinião negativa em relação aos argentinos, eles não concordam (R1). Outra quantidade semelhante (A9 e A10) concorda na existência de uma rivalidade no âmbito do futebol, expressa encontrar razão nessas afirmações e ainda escolhem concordar com a afirmação de que o Brasil é melhor do que a Argentina no futebol, sem estender essa afirmação a outros aspectos (R2).

Na maioria das respostas restantes, observamos uma postura muito crítica e reflexiva em relação ao imaginário coletivo dos argentinos no Brasil. Os participantes, de maneiras diversas, expressaram saber da existência de uma opinião coletiva sobre o povo argentino que, na sua maioria, provém do futebol. (R3) Porém, alguns também expressaram a importância de não generalizar essa rivalidade a outros âmbitos culturais.

P 4- N oB ras ile xi st eum ar ep res ent açã og en er al iz ad asob reo sa rge nt in os. V ocê sabe qu al é? V ocê con co rdac om el a? Q ua lés ua op in ião ao re sp eit o? R1

A6: Se existe,não sei como isso funciona. Todavia, nenhuma cultura deve ser

subestimada nem idolatrada, na minha opinião.

A17: Não, eu não sei, mas acho que se essa representação for negativa as

pessoas deveriam primeiro conhecer para saber antes de julgar, e se for positiva, que continue com esse pensamento.

R2

A4: Bom, o brasileiro em geral não gosta muito dos argentinos por conta,

principalmente, da rivalidade no futebol. Quem é melhor, Pelé ou Maradona? Claro que é Pelé!

A12: A rivalidade existente entre brasileiros e argentinos, em relação ao futebol,

é notável, e eu como brasileira e apaixonada por futebol, não consigo discordar de que o Brasil é sim melhor do que a Argentina, sem discussões.

R3

A5:Aqui no Brasil, nós temos uma rivalidade com os Argentinos por causa do

futebol, não concordo, acho que apesar disso devemos conhecer pessoas da Argentina, e fazer novas amizades com elas.

A7:Pelo que sei, é que no Brasil os argentinos são vistos meio que como

“inimigos”. Não concordo, pois não temos total conhecimento sobre eles, e anão devemos generalizar uma opinião assim. Eu não creio que seja como dizem.

A9: Brasileiros e argentinos são vistos como rivais, principalmente no futebol.

Não concordo com essa generalização, pois nem todo brasileiro odeia a Argentina e vice versa, muitos dos que realizam esse pré-julgamento não sabem ou não têm reais motivos para justificar essa rivalidade excessiva. Opino de que todos merecem respeito e que devemos nos livrar o máximo possível de rótulos e pré-conceitos.

A11: Sim, a respeito do futebol. Não concordo, pois não devemos e não

podemos julgar um país e muito menos uma sociedade por conta de uma futilidade que é a rivalidade futebolística.

Ao elaborar a P5: Você já conheceu algum argentino pessoalmente? Caso a

resposta seja afirmativa, como descreveria essa pessoa, poderia dar algum traço de sua personalidade?, procuramos nos afastar do coletivo para nos aproximar do individual,

com o intuito de descobrir a existência de experiências pessoais e se estas acompanham a ideia, ao parecer generalizada, de uma rivalidade entre argentinos e brasileiros.

A ampla maioria dos participantes, 12 de 18, disseram não ter tido nenhum contato pessoal com argentinos. Dos 6 que responderam que já conheceram algum argentino pessoalmente, 2 afirmaram que tiveram pouco contato. Nas respostas de 5 deles aparece como sendo uma experiência positiva e descreveram a personalidade dos argentinos com os quais tiveram contato como legais, simpáticos, extrovertidos, comunicativos. Um dos que responderam afirmativamente a pergunta (A10) expressou que não foi uma boa experiência, pois os argentinos tentaram arrumar brigas com os brasileiros, comparando o desempenho futebolístico dos dois países.

A partir da análise dessas duas questões, podemos verificar a existência de uma representação cultural coletiva sobre os argentinos que parte de uma rivalidade no campo dos esportes, mais especificamente do futebol, e que, por vezes, se estende a outros âmbitos sociais e culturais. Embora essa realidade exista, percebemos nas vozes da maioria de nossos estudantes uma intenção de mudá-la por sentir que essa imagem formada no coletivo social brasileiro é herdada por eles como uma realidade que nãofaz jus a um conhecimento profundo da sociedade e cultura argentina.

Percebemos uma postura crítica no que respeita ao que alguns dos participantes chamam de preconceito com uma cultura diferente, o que nos leva a pensar que a geração jovem se mostra mais aberta às diferenças e, sobretudo, que não aceita verdades impostas sem reflexão e ponderação prévia. Observamos também nas conversas através do Facebook, ao longo do Intercâmbio, uma curiosidade em relação à culturados argentinos; os jovens trocaram experiências musicais, sobre culinária, referentes às atividades de lazer que cada país vive. Essas trocas foram constantes e enriqueceram o trabalho de maneira notória.

Assim, as representações não estão certas nem erradase não são permanentes, mas permitem aos indivíduos e grupos categorizarem-se e decidirem quais as características que eles consideram importantes na construção da sua identidade. Portanto, as representações devem ser vistas como uma parte integrante no processo de

aprendizagem, que necessitam de ser incorporadas nas políticas linguísticas e nos métodos de ensino (CASTELLOTTI; MOORE, 2001).

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