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REPRESENTAÇÕES DE LÍNGUA INGLESA: EMERGÊNCIA E MOBILIDADE DO

3 LÍNGUA INGLESA E AS FACETAS DO SUJEITO-SERVIDOR: UMA ANÁLISE

3.4 REPRESENTAÇÕES DE LÍNGUA INGLESA: EMERGÊNCIA E MOBILIDADE DO

Primeiramente, consideramos como importante destacar como emerge discursivamente esse sujeito-neoliberal. Neste capítulo, em especial, temos o sujeito-servidor e a tensão em relação ao tempo, de forma que os objetivos estejam inscritos em curto espaço de tempo e o ilusório domínio da LI seja um meio de alcançá-los. O espaço desse sujeito não é fixo e mesmo para ficar no mesmo lugar, é preciso acelerar, ‘cada vez mais’. Nessa busca por mais, em menos tempo, marca-se o sujeito-neoliberal, que para ser reconhecido é preciso ser útil, empregável, produtivo, rentável.

Com este cenário, de intensificação das marcas linguísticas de substantivos e advérbios no presente, além da antecipação do sujeito diante de seus objetivos estabelecidos para o futuro, remetemo-nos à noção de tradição inventada de Hobsbawm (2008), como um conjunto de práticas sustentadas pela repetição, ou seja, uma continuidade em relação ao passado, pois, sempre que possível, estabelece-se uma continuidade com o passado histórico. Aqui referimo-nos, também, ao efeito de violência da LI pelos movimentos de guerra, conforme problematizado neste capítulo.

As tradições inventadas incluem tanto as construídas e institucionalizadas quanto as que surgem em um determinado tempo, com enorme rapidez. No caso da LI, há um bloco com efeito de homogeneidade e institucionalizado historicamente, em que se estabelece o seu passado, no presente, pela sua repetição quase que obrigatória: a LI é ‘indispensável’ (SD15), ‘é muito importante hoje em dia’ (SD17). Assim, a partir da teoria de Hobsbawm (2008), entendemos que há um contraste entre as constantes mudanças e inovações do mundo moderno e a tentativa de estruturar de maneira imutável e invariável ao menos alguns aspectos da vida social, a exemplo de como regularmente emerge a LI na sociedade líquida. Compreendemos que esse funcionamento decorre da posição ideológica da LI, em que a mesma língua possibilita as constantes mudanças e inovações da sociedade líquida, dentre as quais podemos citar a ciência que se produz no meio universitário e as diferentes teorias que são (re)significadas.

Nesse sentido, junto com a LI, que se configura como uma tradição inventada, temos o tempo líquido, prazos líquidos, ‘cada vez mais’ curtos, quando, como menciona Carroll (2009), mesmo que se quer continuar no mesmo lugar, é preciso andar mais rápido. Esse é um lugar, vale destacar, que se ocupa, ‘por um momento’, pois ele é líquido e se (re)significa continuamente.

As posições discursivas que problematizamos neste enredo não tiveram o objetivo de compreendê-las como emergem separadamente, mas de apresentar como funcionam heterogeneamente. É por isso que apresentamos as várias facetas do sujeito-servidor na contemporaneidade, em que é – ao mesmo tempo – pós-moderno, neoliberal, líquido, fluido e pragmático. Essa posição (sujeito-servidor) faz do sujeito livre para escolher a língua que quer estudar (a que gosta – SD8) e ao mesmo tempo assujeitado a manter a regularidade discursiva sócio-historicamente constitutiva dessa língua. “Daí o sujeito moderno ser, ao mesmo tempo, livre e submisso. A interpelação se constitui de uma dupla determinação, contraditória: o sujeito é determinado (pela exterioridade) e determina (internamente)” (ORLANDI, 2012b, p. 89-90).

As marcas temporais de um sujeito que vive a LI emergem a partir do passado e da projeção do sujeito em relação ao futuro. Intensifica-se o substantivo ‘necessidade’ ao apresentar as marcas temporais do presente, funcionando, assim, a (re)produção de um discurso de glorificação em que a falta da LI pode ‘desglorificar’ o sujeito. Se emerge um sujeito fluido, se o tempo e espaço são fluidos, há marcas de uma língua – narrada na fixidez – que se articula com essas condições fluidas: a LI.

O que se destaca em relação ao tempo, como demanda para o futuro, é o aperfeiçoamento acadêmico que, embora postergado, está materializado em um período mais preciso (próximos 2 anos) ou menos (futuro, longo prazo). Bauman (2001) coloca que ‘ser saudável’, hoje, implica ‘ser empregável’; logo, em relação ao nosso enredo, poderíamos dizer que ‘ser saudável’, implica o sujeito ‘ser produtivo intelectualmente’, em um menor espaço de tempo e continuamente, ‘cada vez mais’. Quando não é possível dizer-se produtivo intelectualmente, no presente, faz-se necessário marcar, no futuro, prazo para que o referido objetivo seja concretizado, seja no ‘ingresso no doutorado’ (SD4) ou em ‘teste de proficiência’ para o mestrado (SD1).

A partir de nossa trama analítica, destacamos com Bauman (2001) que o tempo se tornou dinheiro por ter se constituído como uma ferramenta voltada para vencer a resistência do espaço, ou seja, encurtar as distâncias, tornar exequível a superação de obstáculos e limites à ambição humana. Nesse âmbito entram as viagens, intercâmbios e eventos internacionais citados pelos participantes do nosso estudo. Todavia, aqui, o que temos não é apenas a duração de um percurso de mobilidade até se chegar aos eventos citados, mas o tempo necessário para organizar a bagagem com o que se mostra como um dos itens necessários, importantes, indispensáveis: a LI. Esse gesto de interpretação, considerando as representações de língua mobilizadas neste capítulo, possibilita-nos afirmar que é preciso transplantar essa língua para seguir viagem.

Assim, com o tempo é possível estabelecer a meta de conquista do espaço, como é o caso do movediço mundo acadêmico. E, se retomarmos a ‘fórmula condicionante da contemporaneidade’42, problematizada no capítulo anterior, entendemos que o ‘crescer

profissionalmente’, dentro da perspectiva de ‘tempo’ deste enredo, é, também, dinheiro, ou seja, promessa de progressão por qualificação e/ou capacitação, a partir do ilusório domínio, fluência da língua designada como inglesa. É sobre essas últimas marcas que nos deteremos no próximo capítulo, compreendendo a noção de FD e como o sujeito é regulado em relação ao que pode e deve ser dito.

42

Nessa, ‘se melhorar x, é possível atender y e com isso terá z’, ou seja, o sujeito ‘melhora a língua, se doa e se dedica, para, por fim, apresentar o sinal de igual (=): ‘crescer profissionalmente’’.

4 LÍNGUA INGLESA COMO LÍNGUA IMAGINÁRIA: O EFEITO DE