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As representações da paisagem A compreensão das representações da classe detentora do poder, que pode

POVOADO À CAPITAL

4. A PAISAGEM DA PRAÇA NO SÉCULO XX E XXI Com a chegada do século XX e o crescimento da cidade, intensificou-se em

4.6 As representações da paisagem A compreensão das representações da classe detentora do poder, que pode

ser verificada nos relatos e documentos que se referem à cidade de Maceió e à praça, possibilitou uma análise mais aprofundada das alterações morfológicas na paisagem da Praça Dom Pedro II. O estudo das fachadas e das plantas baixas permitiu verificar que determinadas intervenções podem expressar nas fachadas e no traçado algumas relações de hierarquia e de domínio através de efeitos perspectivos, topológicos e semânticos. Essa análise enfatiza ainda o caráter dinâmico da paisagem e as permanências ao longo do tempo.

Ao comparar essas fachadas em ordem cronológica observou-se que a Capela e, logo em seguida, a Catedral sempre apresentaram um efeito de dominância nessa paisagem, destacando-se das demais edificações. A dominância se deve ao fato dessa edificação configurar o pico dos coroamentos de todas as fachadas do entorno. As características arquitetônicas da fachada, formada por linhas ascendentes e descendentes e não paralelas ao solo também contribuem para esse efeito (Figuras 4.63 a 4.69). Essa dominância revela também a representação do domínio exercido pela Igreja Católica, que também vai se evidenciar no traçado da praça.

Com a inserção do sobrado do Barão de Jaraguá e do Palacete da Assembléia ao longo do século XIX, as linhas de coroamento se modificaram. Essas edificações, especialmente o Palacete da Assembléia, passaram a exercer também uma relação de domínio na paisagem tanto por sua escala e características arquitetônicas quanto por representarem o poder das classes dominantes, configurando picos nas linhas de coroamento.

As demais edificações que vão sendo inseridas no entorno revelam as representações implícitas nos relatos e documentos de cada período. Na tentativa de se desvencilhar do passado colonial, em meados do século XIX a representação do desenvolvimento que se almejava foi expressa na inserção de edificações tipo sobrado, diferente das edificações térreas em linhas coloniais já existentes. Entre os séculos XIX e XX, a representação do progresso e modernização foi materializada na inserção de edificações imponentes com até 3 pavimentos, em linhas neoclássicas e ecléticas.

Em meados do século XX a inserção do Parque Hotel altera novamente as linhas de coroamento e se revela, juntamente com o Palacete da Assembléia, um novo pico nas fachadas deste período (Figuras 4.63 a 4.69).

Figura 4.63: Fachadas no século XVIII / XIX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.64: Fachadas em meados do século XIX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.66: Fachadas no início do século XX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.67: Fachadas em meados do século XX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.68: Fachadas na segunda metade do século XX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.69: Fachadas no início do século XXI.Fonte: autora, 2009.

Outras relações que se evidenciam na análise morfológica da paisagem podem ser observadas nas plantas baixas que indicam o traçado dessa praça em diversos períodos. A relação de dominância da Capela e, posteriormente, da Catedral no final do século XIX e início do século XX também é reforçada através dos passeios traçados na praça. A marcação de dois eixos principais perpendiculares, inseridos no início do século XX e que se mantêm até os dias atuais, direcionam o observador para os principais elementos dessa paisagem: a Catedral, o busto de D. Pedro II, o sobrado do Barão de Jaraguá, o Parque Hotel e o Palacete da Assembléia.

Ao longo do século XX, algumas intervenções ocorridas nesse traçado revelaram a priorização de acessos e visualização da fachada do Palacete da Assembléia, denotando a relevância dessa edificação na paisagem. A redução do espaço físico da praça para uso de estacionamento e acesso a essa edificação foi a intervenção mais marcante e de maior impacto negativo nessa paisagem, pois prejudicou a relação física e visual entre as demais edificações e a praça. Além disso, o traçado evidenciou uma forte relação de domínio que se transfere da Catedral para o Palacete da Assembléia.

No final do século XX e no início do século XXI a praça adquire um aspecto assimétrico decorrente da permanência de uma grande área de estacionamento em um dos seus lados. Esse desenho assimétrico revela uma nova relação que se estabelece com o Parque Hotel, através do direcionamento do observador para esta edificação (Figuras 4.70 a 4.73).

Figura 4.70: Plantas baixas da praça no início do século XX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.72: Plantas baixas da praça no final do século XX.Fonte: autora, 2009.

Figura 4.73: Plantas baixas da praça no final do século XX e início do XXI. Fonte: autora,

2009.

A análise morfológica das fachadas e plantas baixas da praça em conjunto com os relatos de historiadores e usuários do local permitiu a identificação de representações de desenvolvimento, modernização e progresso que impulsionaram intervenções em determinados períodos e que se expressaram na paisagem.

Um estudo mais aprofundado revelou ainda relações de domínio que se estabeleceram através das fachadas das edificações e do traçado. A escala e os elementos compositivos das fachadas revelaram picos nas linhas de coroamento que demonstram a relação de domínio da Capela, Catedral, Palacete da Assembléia e Parque Hotel, respectivamente. Observa-se também que o desenho da praça ao longo do tempo ratifica o domínio dessas

edificações através da criação de eixos que direcionam o olhar para essas edificações.

A relevância da praça e sua relação com as edificações do entorno, especialmente com a Catedral e com o Palacete da Assembléia foi identificada nos relatos da população. Palco de manifestações políticas e religiosas, a praça tem sua história relacionada à história dessas edificações, que permanece nas recordações dos maceioenses como parte de sua própria história, ratificando a importância de preservá-la como uma unidade de paisagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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