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CAPÍTULO 4: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Representações sobre linguagem

A professora-formadora parece ter uma representação dialógica de linguagem, ou seja, uma perspectiva de linguagem de base discursiva conforme vimos no capítulo teórico. Como diz Bakhtin/Volochinov (1929/ 1995), a linguagem deve ser vista a partir das relações sociais e é, portanto, o resultado da atividade humana. São enfatizados o aspecto social e a concepção de que a linguagem é uma atividade constituída por e na comunidade à qual os homens pertencem.

A interpretação que apresento aqui das representações da professora- formadora sobre sua concepção de linguagem pode ser vista através das escolhas lexicais. Ao usar os termos prática social, concepção de linguagem, língua pertence à comunidade, para ilustrar a concepção de linguagem que tem como representação, pode se pensar que sua representação é a de uma concepção dialógica de linguagem, conforme se vê nos recortes abaixo:

A 63 - O objetivo é a gente chegar no connected speech, é a fala

como prática social...

(recorte 1, Excerto A 6312 , fala da professora-formadora )

A 64 - Tudo tem que ter significado. Até o que você não fala

tem significado. Tudo tem significado. Dentro desta concepção de linguagem...

(recorte 2, Excerto A 64 , fala da professora-formadora )

12 Entendo por excerto o total de um enunciado. Todos os excertos foram numerados para facilitar a

localização na transcrição completa dos dados que se encontra no anexo 1. O termo recorte foi utilizado com referência a um trecho de um determinado excerto.

A 48 - ...a língua pertence a comunidades, né e as comunidades

todas elas têm o mesmo tipo de valor...

(recorte 3, Excerto A 48 , fala da professora-formadora )

A professora formadora tem como representação que o significado só existe na língua vista como um todo. Tal representação está de acordo com a visão de Vygotsky (1934/2000) e de Bakhtin (1929/1995) que afirmam que a linguagem é uma construção social. Ela parece querer mostrar que os significados são uma construção coletiva e que são marcados ideologicamente, ou seja, quando diz até o que você não fala tem significado está mostrando que tudo tem uma implicação na construção de sentidos.

A professora-formadora, ao usar tais termos, enfatiza seu caráter de prática social, que é constituído no e por um grupo de pessoas, dentro de uma determinada comunidade, enfatizando ainda sua construção de sentido e significado conforme discutido por Vygotsky (1934/2000). A representação dela aponta então para o caráter dialógico da linguagem dentro de um grupo social.

De maneira geral, as falas da professora formadora ilustram sua representação sobre linguagem dando ênfase a fala concatenada (connected speech). A linguagem é entendida como um todo em oposição à representação de linguagem dos professores-alunos que vêem a linguagem como algo fragmentado.

Podemos dizer que os recortes 01, 02 e 03 exemplificam as representações de linguagem da professora-formadora. Pode-se dizer ainda que, a partir das escolhas lexicais, a professora-formadora tem como representação uma visão dialógica da linguagem e que ela vê a linguagem como uma prática social. Reportando-se ao referencial de análise adotado nesta pesquisa, é possível dizer que tais escolhas lexicais da professora-formadora se constituem num domínio que chamo aqui de ilustrar a concepção de linguagem da professora- formadora.

O quadro-resumo 5, na página seguinte, demonstra o domínio cultural usado para ilustrar a concepção de linguagem da professora-formadora:

Termos incluídos Relação semântica Termo superordenado

A 48 ... Língua pertence a comunidades, né e as comunidades todas elas têm o mesmo tipo de valor. A língua pertencente à comunidades

A 63 - O objetivo é a gente

chegar no connected speech, é a fala como pratica social

A fala como uma prática social

É usada para ilustrar a concepção de linguagem da professora- formadora

A 64 - ... A coisa básica é dar significado, é significação. Com base naquele repertório que eu

tenho, no meu

conhecimento de mundo... Tudo tem que ter

significado. Até o que você não fala tem significado. Tudo tem significado. Dentro desta concepção de linguagem.

A linguagem para dar significado

Quadro 5: domínio cultural “X é usado para ilustrar a concepção de linguagem da professora-formadora” (segundo Spradley, 1980)

4.1.2 dos professores-alunos

Os professores-alunos parecem ter uma representação da linguagem como um instrumento para se comunicar. Em outras palavras, os professores-alunos estão limitados a uma representação de que a linguagem serve única e exclusivamente para se comunicar com o outro. Não há, em nenhum momento, a indicação da representação de linguagem como uma prática social.

Sueli – How people communicate even with the wrong pronunciation. It's not the point. if you don't have a good pronunciation and you cannot communicate. If you want to speak correctly and not be misunderstood sometimes. Because sometimes you can be involved in many embarrassing situations because of pronunciation.

(recorte 4 , Excerto , fala da professora- aluna )

Ao usar a seguinte seleção lexical: How people communicate, wrong pronunciation, have a good pronunciation e speak correctly, as representações da professora-aluna demonstram estar ligadas a uma concepção de linguagem como ferramenta de comunicação. As representações de pronúncia errada (wrong pronunciation) e pronúncia boa (good pronunciation) nos indicam que a professora-aluna está presa a uma concepção de que há maneiras certas e erradas para se comunicar. Tal representação não parece estar em consonância com a visão de linguagem da professora-formadora. A professora-aluna não parece achar importante a possibilidade de construção e negociação de significado, enfatizando apenas a necessidade de fazer com que os outros entendam sua mensagem.

De acordo com as escolhas lexicais da professora-aluna Sueli, os dados indicam que sua representação de linguagem está limitada ao aspecto sistêmico, pois sua preocupação se restringe ao conteúdo da fonologia, ou seja, em ver qual a diferença entre um som e outro e qual símbolo, de acordo com a tabela de símbolos fonéticos apresentada pela professora-formadora, é o símbolo correto para representar determinado som. Sua preocupação parece está concentrada apenas na produção de sons isolados e sua compreensão pelo ouvinte não mostrando uma preocupação semelhante à da professora-formadora.

A representação sobre linguagem da professora-aluna Sueli é a de linguagem como uma maneira de comunicação. Fica clara a visão de que há uma pronúncia correta, sem a qual não é possível que a comunicação ocorra. Através da seleção lexical speak correctly, fica evidente esta representação da professora aluna.

Vejamos, a seguir, um quadro-resumo do domínio cultural usado para ilustrar a concepção de linguagem dos professores-alunos.

Termos incluídos: Relação semântica Termo superordenado: Sueli – How people

communicate even with the wrong pronunciation. It's not the point. if you don't have a good pronunciation and you cannot communicate. If you want to speak correctly and not

be misunderstood sometimes. Because sometimes you can be involved in many embarrassing situations because of pronunciation.

Falar com uma pronúncia adequada para se comunicar

É usado para ilustrar a representação de linguagem dos professores- alunos

Quadro 6: domínio cultural “X é usado para ilustrar a representação de linguagem dos professores-alunos” (segundo Spradley, 1980)

Pode-se concluir que há uma diferença entre as representações sobre linguagem da professora-formadora e dos professores-alunos, o que traz como conseqüência o fato de que, durante as aulas do módulo, a professora-formadora tenha uma expectativa em relação às respostas dos alunos de que as mesmas envolvam questões relacionadas à visão de linguagem, expectativa que não é partilhada pelos professores-alunos.

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