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Educação? Soligo (2002) mostra a importância dos estudos em representações sociais no campo da educação ao afirmar que os saberes do professor construídos na sua formação inicial e na sua prática cotidiana muitas vezes não estão presentes quando se buscam elementos que pautam sua visão de aluno e de ensino. Segundo a pesquisadora,

Parece que, apesar de conhecedores de teorias que poderiam nortear sua ação, e embora declarem princípios democráticos que orientam sua prática, as ações concretas em sala de aula, as explicações dessas ações e da dinâmica da sala, as crenças a respeito do aluno, de si e do ensino, revelam a força de um senso comum carregado de visões estereotipadas e preconceito (p. 146).

Nesse sentido, segundo a autora, o estudo das representações sociais de professores, e acrescento aqui, de futuros professores, nos dão importantes informações sobre como eles se apropriam e se relacionam com a realidade escolar.

Gilly (2001), por sua vez, afirma que pesquisas em educação que trazem as Representações Sociais em seu corpo teórico podem orientar a atenção para o

papel de conjuntos organizados de significações sociais no processo educativo (p.

321), além de oferecerem outros caminhos para a explicação da ação de fatores sociais sobre o processo educativo e influências nos seus resultados.

O autor destaca três grandes campos de estudos na educação nos quais as Representações Sociais podem contribuir para o seu entendimento e desenvolvimento. São eles: 1) Discursos sobre a instituição: tal campo trata da representação social que professores, alunos, comunidade em torno, diretores, enfim todos aqueles que mantém algum tipo de relação com a instituição escolar têm sobre ela. 2) Relações pedagógicas: aqui as relações que se estabelecem dentro da escola, com destaque para aquela que tem o aluno como um dos elementos dessa relação, são entendidas como um sistema social interativo, devendo, portanto, serem compreendidas como fazendo parte de um ambiente social mais amplo. 3) Significação das situações escolares e construção dos

atividades e tarefas desenvolvidas na e pela a escola.

Entende-se, assim, que a Teoria das Representações Sociais na área da Educação representa um avanço, pois contribui para o aprofundamento de discussões que permeiam tal área, procurando desvelar as ações educativas e escolares atribuindo-lhes um significado social mais consistente.

O campo de pesquisas inaugurado por Moscovici proliferou em diversas áreas além da psicologia. No entanto, aqui, nos deteremos na apresentação de algumas pesquisas desenvolvidas em educação e na psicologia, foco de nosso interesse.

Medeiros (1998), ao estudar as representações de professor e da relação professor-aluno com professores da 4ª série do Ensino Fundamental afirma que o estudo permitiu captar os processos sociais, educacionais e pedagógicos que permeiam as atividades do professor, mostrando que as representações que têm de sua profissão influenciam nas relações pedagógicas em sala de aula.

Rangel (1999) analisa as representações do “bom professor” e sua relação com as dimensões do processo ensino-aprendizagem. Sua pesquisa monstrou que as representações sobre o tema compõem a figura de um professor que domina o conteúdo que ensina, fazendo isso com clareza, aproveita o saber do aluno, faz uso de diversas técnicas para ensinar, considerando, assim, o aluno, a matéria, os recursos, estimulando o educando à participação efetiva no processo ensino-aprendizagem.

A representação de escola foi estudada por Eizirik (1999). Percorrendo um caminho epistemológico, a autora encontra uma representação de escola negativa: a escola está afastada da vida, do desejo, da alegria, do movimento,

exaurida da curiosidade investigativa, atravessada por lutas políticas e interesses de corporações profissionais(...) (p. 128). Afirma que são muitos os dilemas que

permeiam a escola, o que dificulta a mudança da representação que se tem dela. Um caminho possível para essa mudança seria revisitar os mitos que a criaram e a sustentaram ao longo da história.

Revelando um contraste entre as representações que professores têm sobre adolescentes e o que estes pensam sobre si mesmos, Salles (1995)

desenvolveu seu trabalho. A pesquisadora encontrou uma homogeneização da representação social do adolescente. Os professores representam esse momento da vida como uma época de poucas responsabilidades e de aproveitar a vida sem se preocupar com o futuro, o que não coincide com as representações que os próprios adolescentes têm de si mesmos. Segundo Salles (1995), tal contraste revela uma perspectiva enviesada do educador em relação a seu aluno adolescente.

Espíndula e Santos (2004) estudaram a representação social sobre adolescentes, manifestada por assistentes de desenvolvimento social de adolescentes em conflito com a lei. Os pesquisadores encontraram dois tipos de representação de adolescência: a “normal”, caracterizada por um momento de transição, onipotência e dificuldades no processo desenvolvimental e a “infratora”, que surge numa família desestruturada, o que leva o adolescente a cometer atos infracionais. Como a estrutura familiar não é saudável e os adolescentes infratores são “fracos” há certa descrença na possibilidade de um trabalho educativo.

Assis; Avanci; Silva; Malaquias; Santos e Oliveira (2003) analisaram as representações sociais que os adolescentes têm de si. Os resultados encontrados mostram que os jovens pesquisados (alunos de escolas públicas e particulares de São Gonçalo – RJ) têm uma visão bastante positiva de si próprios, representando- se como extrovertidos, bem humorados, alegres, estão satisfeitos com seus corpos apesar de como são vistos pelos adultos.

Um estudo longitudinal identificou que a trajetória escolar de crianças mostrava-se muito marcada pelo gênero. Na tentativa de entender tais diferenças no desempenho escolar de meninos e meninas Silva, Barros, Halpen e Silva (1999) buscaram identificar que processos estavam presentes na escola e nas representações sociais de professores dessas crianças que produziam tal marca. Os pesquisadores entendem que o magistério, em nossa sociedade, constituiu-se como uma profissão predominantemente feminina, sendo visto, principalmente nas séries iniciais, como uma extensão da prática maternal, assim valoriza-se mais o desempenho escolar das meninas, o que leva a uma maior reprovação dos meninos. Apesar disso, nas séries mais avançadas, as meninas devem dar

espaço para que os meninos tomem o lugar de destaque, tornando-se os alvos da valorização, evidenciando que o desempenho escolar das meninas tem como referência seu bom comportamento.

Os dois estudos apresentados a seguir não trazem em seu bojo a Teoria das Representações Sociais, no entanto o caminho trilhado pelos pesquisadores está em consonância com tal teoria e se mostraram pertinentes para o nosso trabalho.

Günther (1996), em seu estudo, discute a visão estereotipada que os adultos geralmente têm dos adolescentes, que são caracterizados como imediatistas, triviais e egocêntricos. Aponta também que para os adultos os adolescentes preocupam-se basicamente com os problemas entre os pais, AIDS, falta de dinheiro e conseqüências de comportamento de risco – gravidez e drogas. No entanto, os resultados de sua pesquisa sobre as preocupações dos adolescentes demonstram que os jovens têm preocupações relacionadas à escola, à vida e à morte, aos amigos, à situação econômica do país e ao problema da fome no mundo, contrariando, assim, as expectativas dos adultos.

As práticas escolares com alunos das duas últimas séries do ensino fundamental foi o foco do estudo de Camacho (2004). Os resultados apontaram para uma escola que concebe o aluno jovem como um ser que se encontra em construção, inacabado, sem identidade e entende o aluno como aquele que simplesmente vai à escola, ou que vai sob pressão, ou ainda para encontrar os amigos, ou por fim, para fugir das atividades domésticas. A autora conclui que a escola, ao ignorar os jovens alunos como sujeitos sociais, demonstra não conseguir construir uma relação que vá ao encontro das necessidades, expectativas, interesses deles. A saída apontada para a transformação das práticas escolares é o reconhecimento de que a condição de jovem precede a

condição de aluno e de que ambas estão intimamente ligadas (p. 340).

Concluímos, a partir dos estudos apresentados que focam a adolescência e o adolescente, que a adolescência é representada como um período de transição, período em que se tem pouca responsabilidade e por isso mesmo, época de aproveitar a vida sem se preocupar com o futuro. Os adolescentes são

representados como sujeitos imediatistas, fúteis e com preocupações fúteis, egocêntricos, sem identidade e que adotam comportamentos de risco.

Salientamos que esses estudos foram realizados com professores ou com adultos que desempenham um papel educativo com adolescentes, nesse sentido, entendemos a importância de estudarmos as representações sociais que futuros professores têm da adolescência e do adolescente e suas expectativas de prática pedagógica com essa população, pois em breve estarão exercendo a profissão para a qual estão se preparando. Assim considerar e trabalhar essas representações durante a formação é mais um caminho para que as práticas educativas tornem-se mais adequadas.

CAPÍTULO V

5.1 – Objetivos e Método